domingo, 30 de agosto de 2009

Os políticos e o relvado dos estádios

Publicado em 20 de Março de 2007 em Do Miradouro

Numa época em que muitos dirigentes políticos apoiam irracional e ilicitamente o futebol, por constituir um factor alienante e anestesiante para desviar a atenção das pessoas – a Nação – dos autênticos problemas colectivos, aparecem pensadores a dizer que a Nação tem tanta importância para os governantes como o relvado para os jogadores de futebol. É ignorada nos tempos normais e só é lembrada em vésperas de eleições como fonte de votos em época de crise como fonte potencial de mis impostos, mais limitações de direitos, liberdades e garantias e de regalias a que deve submeter-se sem a mínima hesitação. Segundo eles, a Nação não é para ser apoiada e protegida, mas sim para ser explorada.

Isto parece exagerado, mas, na realidade, as notícias tornam, cada dia, mais claro que o relvado dos estádios não entra nas análises dos grandes derbies, não é tida em consideração nos ensaios das melhores tácticas. A Nação também não. Os exemplos são frequentes e um deles foi ontem notícia com o último conclave do CDS-PP. Não transpirou uma qualquer referência aos problemas do País e dos cidadãos, ao prolongado aperto d cinto sem se verem melhorias da qualidade de vida, a não ser a dos políticos nas suas remunerações directas e indirectas, direitos e benesses, Não saiu qualquer hipótese de solução para melhorar a governação a bem do povo trabalhador e contribuinte. O que veio a lume foi a competição aguerrida para os lugares que dão visibilidade, notoriedade benesses. Houve ofensas primárias, sempre à volta das regras estatutárias e dos apoios delas retiráveis. Igual situação se tem vivido no CDS em que a corrida ao poder está às vistas de todos O mesmo se viu no PS com as posições tomadas por pequenos grupos que se estão a pôr em bicos de pés, em que sobressaem as divergências acerca das políticas de saúde, da Justiça, da segurança Interna, dos Negócios Estrangeiros, da Defesa, da Educação, da Ota e do TGV. Em todos estes casos, não se argumenta com os interesses nacionais, mas sim com a vantagem no campeonato interno da corrida ao Poder. Ao povo – a relva – é para pisar sem contemplações para não se perder a concentração sobre o verdadeiro objectivo – derrotar o adversário – meter golos da baliza contrária.

Com políticos assim, confinados a olharem para o próprio umbigo e a perspectivarem apenas os seus benefícios, o povo - relva – continuará ser pisado repetidamente... até que decida manifestar-se abertamente com visibilidade transportada pela comunicação social. Com lógica, com racionalidade, nada se consegue. No mínimo, tem de haver manifestação, que tem provado ser eficaz para os ministros recuarem as decisões insensatas que tinham tomado, e se as manifestações não forem suficientes, poderá advir violência, numa escala inicialmente controlada, mas com grave perigo de ultrapassar os limites convenientes.

Enquanto, alinhava estas reflexões vi, no Jornal de Notícias , a notícia «Vitorino tem dúvidas sobre a localização» do Novo Aeroporto de Lisboa, em que este militante do PS, com conhecida clarividência e seriedade, sugeriu ontem ao Governo que desse resposta às "dúvidas" levantadas por um estudo da NAV sobre o aeroporto da Ota e acabou por chamar a atenção para "o que disse o Presidente da República", apontando a necessidade de o estudo custo-benefício da Ota "responder às dúvidas sobre o prazo de validade, a ligação à base da Força Aérea e a obra de engenharia". Esta posição, semelhante a outras anteriores fazem lembrar a forma digna como abandonou as funções de MDN no Governo Guterres, que devia constituir exemplo para muitos dos actuais governantes.

Acorda, povo adormecido

Publicado em 20 de Abril de 2007 em Do Miradouro

Em democracia formal, o povo, os eleitores, são chamados a dar o seu voto, o que representa uma opinião sobre os problemas fundamentais do País, olhando este nas circunstâncias internacionais. Qualquer Estado, como acontece também com as empresas, só pode ser bem governado se não fechar os olhos sobre o que se passa na sua periferia, no meio de fornecedores, clientes e concorrentes. A táctica da avestruz de enterrar a cabeça na areia para ignorar o perigo, não é a melhor maneira de um vulgar ser vivo poder sobreviver no meio das realidades actuais. Nestes pressupostos, o eleitor, para poder dar um voto consciente, não pode limitar a sua informação à propaganda da campanha eleitoral do partido da sua simpatia, mas deve, momento a momento, olhar para fora e analisar aquilo que se passa, tomar posição, mesmo que apenas mentalmente sobre cada facto, sobre a forma como são aplicados ou postergados os princípios e valores que devem estar presentes na vida colectiva. Já passámos a época do «orgulhosamente sós» do regime deposto há 33 anos.

Mas, para espanto meu, um correspondente de e-mails que se diz militante do partido no poder, reagiu mal a uma mensagem retransmitida, algo anedótica, sobre a Universidade Independente, mas com moral, dizendo que «Eu interesso-me por outras coisas mais importantes, por ex. a terra onde vivo, os desprotegidos da sorte, a minha família, etc.». Com uma população assim teimosamente fechada no seu gueto, recusando-se a observar o que se passa em áreas que podem afectar a sua vida, a da sua família, a dos desprotegidos da sorte, não pode haver democracia, mas apenas e somente ditadura, mesmo que os ditadores sejam substituídos de quatro em quatro anos. Na situação que Portugal está a viver, todos nós, cada um de nós, é um desprotegido da sorte, pois tem de pagar sem «bufar» aquilo que lhe é exigido unilateralmente pela pesada máquina estatal e autárquica e do dinheiro total resultante dessa exploração, quem mais beneficia é o clã que vegeta à volta do Poder. Estas reflexões não são fruto de má vontade ou de informação privilegiada, mas apenas da observação daquilo que chega ao conhecimento de qualquer cidadão mediamente atento e interessado no bem-estar geral da população e no futuro do País.

Casos com este atrás referido, vêm dar mais razão aos escritos que aparecem no Blog do Leão Pelado , pela mão do bloguista que usa o apelido de «mentiroso». Realmente, com a população adormecida, anestesiada, não pode ser esperado um futuro do País à altura da sua brilhante história. Impõe-se fazer um esforço para acordar as pessoas que teimam em manter-se na modorra apática, abúlica, conformada, indiferente.

A democracia portuguesa precisa de todos os cidadãos, não podendo nenhum se dispensado de colaborar activamente para o desenvolvimento do País, não apenas nos aspectos económicos e financeiros, mas principalmente no culto de valores e princípios válidos para uma melhor qualidade de vida das pessoas. Um País são pessoas que devem ser felizes, e é para elas que deve convergir a acção governativa.

Transparência e honradez

Publicado em 8 de Abril de 2004 em Do Miradouro

Nós, portugueses, em vez de nos debruçarmos na análise dos problemas mais graves para o futuro do País e da qualidade de vida das gerações vindouras, somos aliciados para as fofocas da Ota e dos eventuais interesses particulares envolvidos, das ligações da Independente a vários políticos, da regularidade dos diplomas académicos que tem passado, da idoneidade dos seus dirigentes, de um curriculum académico que, como tal, não contém referência a um cargo altamente remunerado durante mais de duas décadas, mas que, estranhamente, fala de prática de ioga e horticultura, e do facto de um senhor ser ou não licenciado.

É de lamentar que se despendam tantas energias com tantas suspeições de importância mínima. É de lamentar que se coloque em dúvida a idoneidade, a honradez, a sinceridade de pessoas que deviam estar acima de qualquer suspeita. Mas, caindo na realidade vigente, há uma explicação muito simples para que isso aconteça: o povo foi-se habituando a não acreditar nos políticos porque estes têm dado motivos para tal, com a sua falta de transparência, arrogância, demonstrações de incompetência que os leva a terem de fazer sucessivos recuos, não cumprimento do prometido, faltas à verdade, etc.

A única forma de evitar dúvidas e suspeitas, parece não consistir na mordaça do povo, mas sim na transparência, na clareza das decisões, na explicação honesta, séria, verdadeira, em palavras simples para que o povo saiba o que se passa e não seja tentado a desconfiar.

A solução está, pois, na mão dos políticos, tornando evidente, com verdade, que são honestos e dedicados ao serviço público a bem da qualidade de vida de todos os portugueses e a preparar um futuro melhor para os vindouros.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ensino - Ferramenta do desenvolvimento

Publicado em 5 de Fevereiro de 2007 no Do Miradouro.

O convite para ombrear com escritores tão competentes, tanto no aspecto literário como na capacidade de investigação e análise e na explanação de raciocínios bem elaborados de forma lógica e racional constitui para mim um desafio difícil mas também uma oportunidade de aprender com eles, com as suas opiniões orientadas para o aprofundamento de assuntos que virão enriquecer os meus conhecimentos. Porém, temo não poder dar grande contributo por ser um ignorante, descomprometido, fora de qualquer sistema e que apenas pretende olhar com isenção, à distância, no âmbito dos conceitos, os problemas que condicionam o desenvolvimento de Portugal que amo, embora me desiluda em muitos aspectos. Procurarei traduzir a posição do pastor de cabras da Serra da Estrela, sem escolaridade significativa, sem acesso à comunicação social, limitando-se ao pequeno rádio de pilhas, e aos contactos eventuais quando da ida à aldeia comprar o pão e as azeitonas que lhe servem de alimento na serra. Mas do alto do mirante, olhando de longe planície, os pensamentos vogam libertos, sem amarras, fixando-se num ou outro ponto que pareça mais significativo na vida colectiva. Crítico, por vezes incisivo, por vezes irónico, ele deixa sempre uma pista, mais ou menos explícita e optimista para sair da situação em observação. Quem veste esta capa serrana, merece condescendência, compreensão e tolerância, qualidades que todos devemos cultivar para que o convívio numa sociedade civilizada seja mais harmónico e pacífico. Procuro ser merecedor da boa vontade dos meus leitores.

Orientado pelo grande desejo de ver o País no caminho dos maiores, escolho para abertura da minha colaboração o tema do Ensino, por ele constituir a base em que assenta tudo o que de melhor pode ser feito, para engrandecer este rectângulo pequeno, mas com «metástases» de emigrantes em todos os continentes. É de desejar e esperar que surjam opiniões diferentes, até frontalmente opostas às que aqui deixo, mas peço que não me chamem burro, mesmo que possa parecê-lo, pois para mostrarem que não concordam com as minhas opiniões, a melhor forma é exporem as vossas e explicarem as vossas razões e deduzirem soluções, práticas e viáveis, para os problemas que afectam o futuro dos nossos vindouros.

O ensino é uma parte da educação, tendo esta início desde o nascimento da criança ou, segundo alguns cientistas, desde a gestação, pois o feto já é receptivo a influências do ambiente sonoro em que a mãe se movimenta. Mas, após o nascimento e com as primeiras mamadas, a criança começa a receber condicionamentos das suas atitudes e comportamento que é desejável serem adequados à sua integração na sociedade. A palavra disciplina poderá parecer muito agressiva, mas no fundo é disso que se trata, pois o civismo, o convívio com os outros não a dispensam. A integração na família e na sociedade obriga a «ter maneiras», isto é, a respeitar os direitos dos outros a fim de merecer o direito a ser respeitado. Em sociedade ninguém tem apenas direitos, tem também deveres para com os outros e, por isso, é errado convencer as crianças que têm direito a tudo e nenhum dever para com a sociedade. Essa educação consiste em ensinamentos de convivência, ou como agora fica bem dizer, de democracia, de civismo, quer na família quer na sociedade em que a criança se vai sentindo à vontade e vai exercitando a sua vida. Simultaneamente, a criança, ao manusear os seus brinquedos e ao imitar os pais nos trabalhos em casa, vai aprendendo a utilizar os talheres e outras ferramentas e a fazer alguns serviços, começando a ter o seu quarto e os seus pertences arrumados.

E, entretanto, chega o momento de pertencer a uma família mais alargada, mas mais uniforme ao entrar na creche, no ensino pré-escolar e por aí adiante. Nessa altura, já é tarde para lhe ser ensinado aquilo que devia ter aprendido com a mãe desde os primeiros dias de vida. É suposto que essa matéria já está sabida e já não é fácil ser ensinada e aprendida. Tudo tem o seu momento ideal. Daqui, uma primeira dedução: a educação começa em casa e não se pode culpar o ensino das consequências da ausência da acção educativa familiar.

Mas também, no ensino, a qualquer nível, os professores não devem restringir a sua actuação a papaguear o assunto do manual, sem mais comentários. Não faltam oportunidades para explicar a utilidade prática do conhecimento teórico. Recordo com muita satisfação, depois de muitas décadas, os ensinamentos práticos ouvidos dos professores de Físico-Química, Ciências Naturais, Matemática, etc. Que Deus os tenha em repouso pelo bem que me fizeram. Ao falar-se das leis da alavanca, pode ensinar-se o funcionamento da chave de parafusos e a importância do diâmetro do seu cabo; e ao falar-se da energia cinética pode explicar-se o funcionamento do martelo, e a importância do seu peso e do comprimento do cabo, ou o perigo da velocidade excessiva na segurança rodoviária, etc.

Quanto à preparação dos jovens para a vida prática é impressionante a ignorância da realidade (excepto do futebol!) com que hoje se chega à vida adulta, o que tem sido notório em concursos televisivos. Soube, há cerca de 20 anos, que num quartel do Exército foi indagado junto dos recrutas quem sabia de pedreiro, pintor, canalizador, electricista, mecânico, serralheiro, etc. Ninguém sabia. À pergunta do que tinham feito na vida, reposta era sempre a mesma, eram estudantes. O resultado era totalmente diferente 10 anos antes, porque havia escolas técnicas e, nessa idade, já havia muita gente empregada. Outro caso: o filho de um casal conhecido pediu-me para lhe arranjar emprego numa grande tipografia, o que não me foi difícil, mas passados poucos dias desistiu porque tinha sido colocado como ajudante na equipa de uma máquina impressora e o que ele pretendia era «trabalhar» num gabinete com um computador!

O Ensino deve ser olhado por professores e alunos como uma aquisição útil para a vida, uma ferramenta indispensável em qualquer profissão. Sem a convicção da sua utilidade, os alunos poderão não se sentir motivados para uma dedicação séria ao estudo. «O saber não ocupa lugar» diz o ditado e podemos acrescentar que nunca é supérfluo e «até morrer andamos a aprender». Quanto mais é o saber, melhor é a análise global dos assuntos e a sua inserção e interacção no conjunto dos conhecimentos. A tentação muito vulgar de se utilizarem modelos (as chocas) arrasta por vezes para erros muito perigosos devido ao facto de, ao fazer a colagem, não ter sido feita a necessária adequação à alteração dos dados, das circunstâncias. Não há soluções eternamente válidas, elas devem ser permanentemente adequadas às condições ambientais, circunstanciais, sempre em alteração.

O desenvolvimento da memória com a tabuada e da capacidade de método e de raciocínio com a resolução de problemas de matemática são um exemplo prático para esclarecer sobre a utilidade do ensino para a vida desde as acções mais simples às mais complexas. É vulgar ver pessoas a emitirem opinião sobre um assunto que não conhecem minimamente sem terem arrolado a analisado os dados, sem terem relacionado estes em função do objectivo pretendido, sem o terem equacionado por forma a visualizarem cada uma das vias possíveis para chegar ao fim, sem as terem comparado em cada um dos seus vários aspectos a fim de poderem escolher a melhor, a qual será a solução mais adequada, económica, eficaz e rápida. Viver é fazer escolhas e estas obrigam a um método de preparação que não deve restringir-se ao conhecimento dos preparadores bem preparados, mas ser divulgado à generalidade das pessoas, para lhes tornar as vidas mais eficientes e reduzir os desaires.

Por tudo isto, além de bons programas que consigam dar realce tanto à parte científica como às técnicas que permitam a sua utilidade prática, são necessários professores que, em cada momento, não se esqueçam de que estão a formar pessoas, como uma tela em branco a transformar numa obra de arte, uma porção de argila a tornar numa escultura. Não podem refugiar-se na desculpa de que os alunos vinham mal educados de casa ou mal preparados do ano anterior. Há que fazer um esforço para suprir essas deficiências e conseguir a elaboração da obra de arte final, em que gostem de se rever.

Mas, para o ensino funcionar com professores que actuem como artistas, é preciso que estes sejam pessoas bem preparadas, dispondo da educação que possam transmitir através do exemplo e da palavra, sabedores da matéria que ensinam, e com uma noção alargada da utilidade prática do saber que transmitem. Um professor, perante os seus alunos, não pode estar preocupado com qualquer problema pessoal que, nesse momento, deve estar fechado à chave numa gaveta do seu cérebro. A formação dum qualquer bom profissional leva-o a colocar de lado a sua vida privada no momento em que deve concentrar-se na actividade do seu mister, principalmente quando se trata de comunicar com pessoas, como é o caso dos professores.

Não deve contribuir-se para que a criança interprete liberdade como libertinagem. A criança deve aprender a ser um cidadão digno e competente, procurando a excelência. Não pode recusar-se a estudar um ou outro assunto com o pretexto de que isso não interessa para a carreira que quer seguir. Por exemplo, um médico deve grande parte da sua formação a assuntos diferentes da ciência médica em sentido restrito: tem de saber bem português para interpretar os tratados de medicina e para se expressar de forma clara nos trabalhos que escreve, tem de saber línguas para pesquisar em publicações estrangeiras e comunicar com colegas de outros países, tem de saber matemática, física e química para perceber e exprimir-se sobre assuntos da especialidade, etc. Há, pois, uma base alargada que é indispensável em qualquer profissão, porque um bom profissional não pode comparar-se a um robô, tem de perceber e raciocinar sobre o que está a fazer e ter capacidade de evoluir. Cabe aos pais e aos professores esclarecerem os alunos sobre a necessidade da cultura geral e estimulá-los na sua obtenção.

Tendo sempre presente a finalidade do ensino como ferramenta do desenvolvimento, não pode ser manipulado para caprichos de «intelectuais» para experiências abstrusas, autênticas masturbações idílicas, onanismos virtuais, como é o caso da TLEBS (Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário) que tanto espaço tem ocupado na Comunicação Social, tal é a insensatez em que assenta. E a pior utilização abusiva dos alunos veio há dias nos noticiários e refere um a crianças de pouco mais de 10 anos acerca da vida sexual dos pais. O ensino, dada a importância de que se reveste na vida dos povos modernos, deve ser respeitado pelas famílias dos estudantes, por estes e, fundamentalmente pelos professores e outros responsáveis pelo sistema educacional. Olhando para as notícias mais recentes conclui-se que o Ministério da Educação está a precisar de uma vassoura mecânica, daquelas que não descriminam pela cor dos olhos, nem por amizade, nem por confiança política, nem por pressões dos lobis editores. Em seguida, a ministra, se não for levada pela vassoura, escolherá pessoas inteligentes, competentes, com espírito de serviço público competentes, que se orientem pelos interesses nacionais e objectivos do ensino e não segundo s suas ambições pessoais, dos amigos ou dos partidos. Portugal precisa de saneamento, desde o básico ao superior.

Não posso encerrar estas reflexões sem referir as infra-estruturas físicas – a escola. Esta deve ser espaçosa, limpa, arrumada, para tornar possível o ensino e para criar hábitos positivos nos alunos. Estes devem poder estudar, conviver e distrair-se com alegria, comodidade e segurança. A prática de desportos tem o mérito de enfatizar o conceito da conveniência do trabalho de equipa. Não é admissível que os alunos ou os professores sejam vítimas de violências ou agressões, venham de onde vierem. A educação e o ensino exigem que na sociedade em geral e nas escolas, em particular, haja o culto do respeito por cada um e a observância de princípios e valores universalmente defensáveis. Tudo evolui, mas há valores que são perenes, convindo diferenciar o que é transitório daquilo que é permanente numa sociedade civilizada e democrática.

Pessoas não são coisas

Embora não seja consumidor regular de televisão, hoje 9, vi no programa da manhã da RTP1, um artista de teatro que, depois de fazer um papel de homem viril e conquistador, ao conversar informalmente com o apresentador e ao recordar velhos companheiros, emocionou-se, ficando com os olhos visivelmente húmidos.

Atenciosamente, o operador de imagem rodou a câmara para outro ângulo do palco.

Pouco depois, um conhecido cronista e comentador social, apresentou várias notícias curtas recentes, começando por tecer comentários muito humanos à sensibilidade e humanidade do actor atrás referido. E ao citar a morte súbita de duas mulheres jovens (a irmã da princesa das Astúrias e uma artista americana), ambas recentemente divorciadas e a atravessar um período de instabilidade emocional referiu que elas estavam a precisar de apoio e carinho de familiares e amigos e não o receberam. As pessoas afadigadas com as suas próprias ambições e preocupações não têm disponibilidade para se aperceberem dos sinais de apelo dos amigos e não lhes deitam uma bóia oportuna e salvadora.

Não quero definir as minhas possíveis divergências pelas ideologias ou comportamentos destes dois homens, mas à semelhança de outros casos exemplares que tenho citado, não posso deixar calada a minha boa impressão destes sentimentos humanos, testemunhos evidentes de ainda haver gente a considera que as pessoas não são coisas.

Pelo contrário, para o Governo e principalmente para o ministro da Saúde, as pessoas não passam de eleitores, contribuintes, utentes, consumidores, etc. É impressionante a forma como este ministro fala de milhões de euros poupados em medicamentos, no funcionamento do SNS, no fecho de centros de saúde, de maternidades, etc., sem nunca falar de pessoas doentes e carentes de assistência, por morarem longe do locais de atendimento ou por terem de lá estar às três da manhã arriscando o agravamento da sua doença, ou as filas de espera que acabam por convocar pessoas que entretanto morreram, ou de bebés que nasceram em ambulâncias sem condições adequadas por ter sido fechada a maternidade ao pé de casa, do doente que morreu depois de andar horas em ambulância, como bola de pingue-pongue entre Lisboa e Peniche, ou de outras pessoas que morreram depois de horas em viagem para chegar de Odemira a Lisboa.

Temos que tirar o chapéu perante todos os que falam das pessoas como seres humanos e não como coisas ou simples números. Haja humanidade e amor ao próximo.

Tenhamos esperaçça nas novas gerações

Publicado em 18 de Fevereiro de 2007 no Do Miradouro.

É clássica a crítica aos mais novos. Desde a antiguidade, passando pelo Velho do Restelo, até ao conceito de «geração rasca», os mais idosos teimam em não compreender os jovens. Mas, quer queiramos quer não, o futuro pertence-lhes e as soluções para muitos problemas que afligem a humanidade terão de ser resolvidos por eles. É preciso ter esperança nas suas qualidades e ajudá-los nas suas iniciativas mais adequadas. Se os há demasiado sonhadores e aventureiros, também há alguns bem dotados moral e intelectualmente que saberão encontrar as melhores soluções para a humanidade em que terão responsabilidades de gestão e em que terão de criar a sua descendência.

Nesta ordem de ideias gostei de ver em jornais de hoje, algumas referências à reunião de ontem da Juventude Socialista em Aveiro. Segundo estes jovens o resultado do referendo do passado domingo "representa apenas o primeiro passo para tornar o recurso ao aborto «raro".Têm razão, pois a generalidade e banalidade do aborto, em nada contribuiria para o desenvolvimento do País. Segundo eles, "é indispensável continuar a apostar convictamente na educação sexual e no planeamento familiar" que será a solução mais ética e adequada aos interesses das pessoas e do País. Como projecto real de actuação, prometem "acompanhar o processo de regulamentação em curso, de forma a contribuir para a construção de um diploma claro e responsável, que permita à mulher manifestar a sua vontade, tomando uma decisão esclarecida a ponderada".

Por outro lado, afirmam que "não há prazo definido" para a apresentação do anteprojecto de casamento entre pessoas do mesmo sexo, assunto que "não faz parte das prioridades actuais", sem negarem que irão "retomar o anteprojecto mas não é para agora". Seria sensato não chamar casamento a uma tal associação, sociedade doméstica, união, consórcio, etc. Também não prevêem a adopção de crianças por casais homossexuais, o que tem lógica pois se gostassem de crianças por que não as pretendem gerar? Porque é que recusam os mecanismos para a procriação e, depois querem usufruir do esforço dos outros?

É interessante constatar nestes jovens ideias coerentes, lógicas, racionais, para a estrutura da futura sociedade em que irão assumir funções de responsabilidade e projecção a longo prazo. Estas ideias depois de concretizadas, dão garantia de uma geração mais responsável, racional, realista e competente, do que a anterior, permitindo a esta terminar a vida com o optimismo de que o destino da sociedade fica em boas mãos.

Jovens hoje, Líderes amanhã

Publicado em 21 de Janeiro de 2007 em Do Miradouro

Notícia dos jornais de 18 de Dezembro diz que: Em 1982, a autarquia de Copenhaga cedeu uma casa antiga aos jovens da cidade para servir de sede de actividades culturais e sociais. Há três anos, o município vendeu a casa a uma comunidade religiosa e, agora, ao pretender desalojar os jovens, a polícia teve que enfrentar uma multidão de jovens da cidade e vindos de vários pontos do país e do estrangeiro, numa espécie de batalha campal em que cinco pessoas ficaram feridas com gravidade e foram detidos 300 activistas.

Daqui, podemos tirar vários ensinamentos, que deveriam ser objecto de séria reflexão por parte dos nossos governantes:

1. Quando se faz uma concessão inicia-se um processo que é difícil de parar ou de recuar. Para retirar uma concessão, principalmente se já é antiga, é necessária um negociação conduzida com muita sensibilidade. No caso vertente, era de prever que os beneficiados pela cedência da casa, que utilizaram durante um quarto de século, não se retirariam sem compensações e, no mínimo, a cedência de novas instalações com o mesmo espaço e condições. Isto é humano, é lógico.

2. Os agentes da Polícia, que no nosso país, são mal vistos e desconsiderados pelo Poder, são chamados para esvaziar os efeitos de erro graves dos detentores do poder e expõem-se a riscos que não são conhecidos dos funcionários públicos, com quem, por vezes, são comparados.

3. A incapacidade dos políticos para agirem honestamente com a população está muito generalizada, de nada valendo rodearem-se de inúmeros assessores, porque estes, sendo nomeados com base na confiança política e não na competência, e sendo inexperientes e ambiciosos, procuram agradar ao chefe evitando emitir opiniões que, embora correctas, possam contrariar as intenções dele. Dizem ao chefe aquilo que ele gosta de ouvir, para singrarem na carreira.

4. Os jovens de hoje serão os líderes de amanhã e, com a consciência desse facto inelutável e do estado a que a geração anterior deixou chegar o mundo – poluição, alteração do clima, injustiça social, pobreza, exclusão, exploração, abuso do poder, corrupção, etc. – estão a exercitar a sua musculatura de liderança, para assumirem as responsabilidades que recairão sobre os seus ombros como governantes de amanhã. Jovens assim, que se opõem aos caprichos e arbitrariedades dos poderosos, são uma esperança de um mundo melhor em que os nossos netos viverão mais felizes do que nós.

Corrupção. A ponta do iceberg

Publicado em 25 de Janeiro de 2007 em Do Miradouro

Poucos minutos após as treze horas de hoje, 25, em frente aos Paços do Concelho de Lisboa, encontrava-se grande quantidade de carrinhas com antenas parabólicas e, mais próximo das portas da Câmara, havia várias máquinas de vídeo devidamente montadas em tripés, com os seus operadores atrás. Saltou-me ao espírito aquela velha frase de que «os jornalistas são como as moscas, quando lhes cheira a m..., são mais do que as mães».

Mas já não é apenas uma questão de cheiro, pois segundo as notícias, a porcaria já é bem visível e os principais visados já estão a abandonar o local (a cadeira) do crime. Parece que a corrupção, esse cancro da sociedade, aliado ao abuso do poder, e ambos proporcionados e apoiados por uma burocracia paralisante, constituem, talvez, o maior inimigo de um País em que a ética e o civismo primam pela ausência ou por um cinzentismo tímido e excepcional, com vergonha de se manifestar, sendo ultrapassados pela ganância de dinheiro e de sinais de opulência e ostentação.

Em quantas câmaras, em maior ou menor grau, haverá casos semelhantes aos detectados em Lisboa? A pergunta talvez devesse ser formulada adoptando um outro prisma: quantos autarcas estão inteiramente resguardados deste labéu? Quantos já foram indiciados e o processo morreu por «falta de provas» ou por prescrever ou por...?

Curiosamente, em simultâneo com estas notícias foi ontem abordado de passagem, na AR, a corrupção e a recusa das propostas de Cravinho para a luta contra o enriquecimento ilegítimo e a corrupção, por conterem «asneiras». Mas quem recusou e fala em «asneiras» estará a preparar legislação mais perfeita e eficaz para combater esses cancros sociais, para fazer face a esta emergência nacional, para criar, regras de transparência viáveis? Ou considera que a maior asneira é visar tais objectivos e o mais correcto será não tocar no assunto e deixar que tudo continue como dantes (quartel em Abrantes!)?

Isto traz à memória um julgamento de crime de tráfico de droga que foi anulado por as provas terem sido obtidas por meio de escutas consideradas ilegais. Mas o crime existiu e, dessa forma, ficou impune. Ironias da vida real. O que interessa não é o crime, nem as provas, mas apenas a forma como estas foram obtidas!!! Lembra a forma como as notícias são redigidas «foi autuado por ser detectado em contravenção» não por ter infringido a lei. O crime é ser detectado!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Conselho de Seniores ou de sábios são necessários

(Publicado no blogue Do Miradouro em 20 de Janeiro de 2007)

Nas sociedades tradicionais africanas o soba, responsável máximo da tribo, antes de tomar decisões importantes para a colectividade a que preside, tem o cuidado de se aconselhar junto do «conselho de sábios», constituído pelos idosos que já não podem trabalhar mas que têm larga experiência da vida e muito tempo para meditar serenamente nos problemas existenciais da sua tribo.

Quando se fala nisto há muita gente que considera isso como um sinal de atraso dessas sociedades que ainda não conhecem os efeitos da modernidade. Porém, uma observação mais atenta das notícias que nos chegam conduz-nos a concluir que muitos responsáveis por cargos supostamente de grande relevância, andaram todo o tempo do seu mandato a leste das realidades e só depois de saírem ou quando estavam em vésperas de sair é que se aperceberam dos sérios problemas que deviam ter resolvido.

Parece anedota mas não é. O ex-Presidente da República, depois de ter abandonado o cargo apareceu nos meios de comunicação social a emitir opiniões com um calor que não se lhe conhecia antes, como se apenas agora se apercebesse da existência dos problemas. Havia quem comentasse que ele estava com dificuldade em despir o casaco de Presidente. E não é só ele, acontecendo coisa um pouco parecida com Clinton e com Al-Gore.

Agora surge o CEMGFA Mendes Cabeçadas, em vésperas de ser substituído, a fazer afirmações como:

«as medidas restritivas recentemente desenhadas para os militares partem do FALSO PRESSUPOSTO de os militares se encontrarem em igualdade de condições com os funcionários civis»;

«Entre os militares e os funcionários civis não existe identidade alguma»;«A condição militar traduz-se num complexo de deveres e direitos interligados numa simbiose indissociável».

Como se estas afirmações não devessem ter sido feitas há vários anos antes de ele ter consentido, pelo seu silêncio e conivência, que as coisas se agravassem.

Estes casos mostram que os sábios, depois de se libertarem das amarras da hierarquia que os condiciona, sabem raciocinar melhor, com maior clarividência e lucidez, conseguindo ver aquilo que todos acham natural e lógico e que até aí eles não conseguiam ou não tinham coragem para descortinar. Seria, por isso, de todo conveniente a criação em cada instituição de conselhos de sábios ou de seniores, que pudessem, em cada instituição facultar pareceres aos responsáveis pela gestão diária dos problemas, à semelhança do que se passa nas tribos africanas.

Pela minha experiência de professor em regime de voluntariado em academias para a terceira idade (UITI, Academia de Seniores de Lisboa e Academia Saudação), posso afirmar que, entre os idosos, há gente com espírito jovem aberto à aprendizagem, com grande sedimento de experiência, e notável capacidade de emitir opiniões muito sensatas e válidas para a resolução de problemas de todos os tipos.
Sobre este tema, sugere-se a leitura do texto «Chefes alertam para perigo das restrições militares», aqui inserido em 29 de Novembro.

NOTA: Um pequeno aditamento interessante
Em conversa sobre este texto com o meu amigo Taborda S, e perante a minha pergunta sobre o que impede os detentores de cargos de responsabilidade de verem as soluções dos problemas em tempo útil e de só acordarem para elas quando cessam funções, respondeu-me que não se trata de não verem mas do receio de hostilizarem o «patrão» a quem dedicam obediência, conivência, cumplicidade e gratidão pelo lugar que ocupam, sentindo-se na obrigação de não ir de encontro aos seus desejos e propósitos, agindo com acentuada cobardia, como «yess men», mas que, ao sentiram-se livres desses receios, apressam-se a soltar aquilo que recalcaram durante as funções. Porém, se isto não evidencia dignidade e honestidade moral, é pior o caso de, à última hora, decidirem muita coisa para as quais não tiveram coragem durante as funções, com falta de lealdade para com o substituto que irá ficar com a batata quente nas mãos. Pretendem dar razão ao ditado «atrás de mim virá quem bom de mim fará».

Evitar catástrofes

(Publicado no bogue Do Miradouro em 20 de Janeiro de 2007)

No momento em que escrevo, chove com muita intensidade. Entretanto, li a notícia dos efeitos catastróficos do «tufão Durian que matou mais de 500 pessoas, nas Filipinas, país que todos os anos é atingido por dezenas de furacões. Fortes chuvas, deslizamentos de terras e casas destruídas marcaram a passagem do vendaval pela província oriental de Albay, onde cerca de 11 mil filipinos ficaram desalojados. ‘A devastação é total’, resumiu o governador da região central de Bicol, apelando à ajuda internacional».

Aprender com as próprias experiências é uma forma de progredir na vida evitando complicações, mas é ainda mais sábio aprender com a experiência alheia por não se sofrer o ónus da aprendizagem. Ter casa na encosta tem beleza mas também tem riscos e exige cuidados prévios para avaliar os perigos e trabalhos de manutenção para evitar o agravamento destes. Há cerca de 15 anos houve numa favela do Rio de Janeiro um acidente do mesmo tipo deste nas Filipinas. Na altura estava a trabalhar no Serviço Municipal de Protecção Civil do Concelho de Loures e chamei a atenção do presidente da Câmara para o perigo que corria a encosta de Carnide, próximo do actual cemitério em que muitas casas já tinham os alicerces sem apoio por baixo devido a pequenas e sucessivas deslocações de terra devidas ao facto de se tratar de um aterro recente na orla Norte da «estrada militar». Toda a área, ao longo da encosta desde a Pontinha até à calçada de Carriche, onde foram construídas clandestinamente casas sem qualquer estudo prévio, estava em risco. Tal como este caso havia outros no Concelho e em vários pontos do País.

Estamos agora a atravessar um período de chuvas mais abundantes do que habitualmente, e devemos meditar sobre os perigos de não respeitarmos as condições da natureza. A construção nas linhas de água, ou nos talvegues, não é tida na devida consideração e já tem havido entre nós casos graves. Essas linhas de água, no Verão passam despercebidas aos menos atentos, mas no Inverno a água transforma-as em pequenos ribeiros que perante o obstáculo se transformam em pequenas albufeiras podendo atingir força suficiente para derrubar casas, como aconteceu há poucos anos no Norte em que um café foi arrastado, causando a morte aos seus ocupantes.

Para evitar tais catástrofes, é conveniente não construir no caminho natural da água, construir apenas em solo que mereça confiança e criar condições a montante para desvio da água por forma a não encharcar o terreno evitar futuros deslizamentos de terra. Em casos em que o perigo vem da natureza, a única solução é prevenir, evitando catástrofes, na medida do possível. Não é sensato contrariar o que é natural.

Guerra de civilizações ou de tradições?

Publicado no blogue Do Mirante em 20 de Janeiro de 2007

A actual visita de Sua Santidade o Papa à Turquia vem ocasionar o reacendimento das discussões sobre conflitos entre religiões e guerra de civilizações, conceitos recusados por muitos pensadores que entram em pormenores minuciosos que desviam os esses desentendimentos para aspectos conjunturais e localizados. E há quem distinga religião de civilização, como realidades distintas e independentes. No entanto, é muito difícil falar de civilização e de religião em separado, porque há interacções, relações de causa e efeito, em que não se pode isolar uma da outra. As altas autoridades eclesiásticas reiteram a afirmação de que a civilização europeia tem raiz religiosa, cristã, o que faz recordar o Poder que o Vaticano tinha sobre os reinados europeus, cobrando as maquias e exercendo o papel de ‘tribunal internacional’, resolvendo pacificamente atritos entre estados. Presentemente, há em muito casos, separação entre o Estado e a religião. Mas, mesmo nos estados ditos laicos, a religião está sempre presente, porque cada cidadão está, mesmo que minimamente, vinculado aos princípios religiosos que o definem e segue as sugestões e conselhos do seu orientador espiritual. Isto é muito mais acentuado em civilizações em que predomina o Islão, por nelas não haver uma separação entre os aspectos espirituais e os temporais da vida.Por outro lado, também é discutível a expressão de guerra de civilizações. Civilização deve ser considerada como um conjunto de valores positivos que elevam as pessoas para o ideal. Ser civilizado é uma condição que evidencia elevação. E o uso de tal conceito prejudica as intenções louváveis de conciliar o Mundo e de criar um ambiente de harmonia, cooperação e equidade. Mas não tenho tanta hesitação em aceitar uma guerra de tradições, em qualquer parte do mundo, mesmo dentro dos estados e em pequenas colectividades, por a tradição ser emperrante da máquina da evolução para soluções melhores e mais adequadas aos tempos presentes.Por outro lado, o conceito tradicional de guerra, leva-nos, hoje, a colocar de lado os motivos espirituais e filosóficos e a verificar que aquilo que constitui a motivação para a guerra é, fundamentalmente, a economia, o mercado de matérias primas e o de colocação dos produtos acabados, com as manobras de pressão que controlam o comércio internacional. Uma rápida observação dos conflitos ocorridos nas última décadas conduzem-nos a essa conclusão.

NOTA: O livro intitulado «Guerra de civilizações» levantou polémica, embora continue muita gente a seguir este conceito, mas, realmente, ele não contribui para pacificar as relações muito tensas entre o chamado «mundo islâmico e o denominado «mundo ocidental». Seria mais suave utilizar a ideia de comunidade internacional e tratar os casos concretos como conflitos pontuais de interesses. Só que esses interesses são em muitos casos inconciliáveis, devido a tradições muito arreigadas onde a religião é utilizada como pretexto e apoio, embora de forma errada. Este é um dos inconvenientes das religiões - o seu mau aproveitamento por fanáticos no sentido da agressividade e exclusão dos não crentes em vez de procurar seduzi-los com a beleza dos mandamentos.É um tema que dá muito motivo para reflexão.

Um dia como os outros

(Publicado no blogue Do Miradouro em 18 de Maio de 2009)

Tal como a minha e-amiga e colega de blog Fernanda Ferreira, também gosto imenso do silêncio da vida no campo, dos momentos em que me entrego a mim próprio e aos contactos pela internet com o mundo e os amigos. Aqui os vizinhos dizem que passo o tempo a ouvir crescer a alfazema, o que me parece que querem dizer que estou «apanhado do clima» ou orate ou «passado dos pirolitos». Compreendo as suas ilações de camponeses alentejanos, mas tenho consciência de que não estão dentro da verdade, pois não desperdiço o tempo e estou fazendo trabalho útil, com método e com muito respeito pelo ambiente, pelos recursos naturais e pelos meus passatempos favoritos. Esta manhã, como de costume acordei com o bezouro electrónico accionado pela célula fotoeléctrica sensível para o clarear da aurora. A seguir, veio espontaneamente o Hino da alegria que tinha programado ontem à noite. Gosto de acordar em pleno com uma música agradável e enérgica e esta é uma das preferidas. Da janela vi a primeira luz do dia, com o lado nascente iluminado a prenunciar o aparecimento da parte superior da esfera solar. Belas cores, fenómeno maravilhoso, por cima do terreno ondulado, não demorou a aparecer o astro-rei, a nascer da terra aos poucos. Beleza que os citadinos raramente vêm ou nem sequer imaginam. O verde do campo, sob o efeito de tal luz passou de escuro a roxo até aparecer na sua verdadeira cor. Lindo. A Natureza é um manancial de beleza, indescritível. Esclareço que a célula está integrada no sistema de equipamento que vai das células fotovoltáicas que transformam a luz da atmosfera em electricidade produzindo o suficiente para o consumo do monte e para vender á EDP que a tem pago com muita regularidade. Tomei o duche habitual com a água a boa temperatura, dado o bom funcionamento do colector solar e tomei uma boa caneca de chá verde com pão integral barrado com uma pasta de mel com canela, como bem aconselha a amiga Fernanda no post Os benefícios do mel, para evitar a manteiga que sendo um produto lácteo tem os inconvenientes que a mesma bloguista refere no post Efeitos do leite. Vamos sempre aprendendo e melhorando as nossas rotinas!

Depois de me vestir sumariamente porque a temperatura estava agradável, fui dar o passeio matinal pela floricultura, que espera a vinda do florista cliente para amanhã levar o carro cheio de flores e plantas da época. Verifiquei se a rega por aspersão programada para as flores e plantas tinha funcionado bem assim como a do campo de alfazema que espera ser cegado dentro de duas semanas para ser enviado para o laboratório de perfumes na Alemanha. O meu amigo engenheiro agrónomo Abílio, aconselha que a rega seja feita de manhã cedo antes de as plantas aquecerem com o sol a fim de não serem lesadas pelo choque térmico. Diz que a maior parte dos males destes seres vivos provém de regas desordenadas. Os vegetais tal como os animais gostam de ordem e hábitos de horário.

O aroma a esta hora não é muito vivo, mas à hora mais quente do dia é muito forte, agradável, mas chega a ser um pouco enjoativo, nesta época do ano e que está na sua maior pujança.

Depois desta agradável e útil digressão pelo campo sentei-me na varanda em frente ao PC, liguei e comecei por ver os e-mails. Como é domingo não havia muitos e a maior parte eram envios de anexos, muitos deles já velhos conhecidos e reiteradamente chegados de outras origens. Nos blogs, o número de visitantes nas 24 horas foi diminuto como acontece aos fins de semana e feriados, parecendo que as pessoas se entretêm mais com a Internet, quando estão no serviço!

Dos e-mails sobressai um texto assinado por um advogado que relata a pior anedota que podia ter ocorrido na nossa Justiça, em que o compadrio, o cooperativismo e o espírito de capelinha entre magistrados sobressai com demasiada nitidez e que originou o meu post Um precedente que poder ser útil.

A seguir, dei uma volta pela imprensa online, fiquei agradavelmente sensibilizado com um artigo muito animador sobre alunos com vocação para a excelência e não resisti à tentação de o transcrever no post Jovens que recuperarão Portugal, porque é um tema que me tem merecido especial atenção visto residir nos jovens o capital de esperança num Portugal melhor.

Uma notícia muito positiva que merece realce e que leva a empresa Irmãos Luzias, em Beja, a ser apresentada como exemplo por, apesar da crise, ter entrado em 2009 contratando mais três trabalhadores para as suas oficinas, que se juntam aos outros 21 e aos seis membros da família que laboram na firma. Isto acontece quando a maior parte dos empresários, para evitarem prejuízos, penalizam os trabalhadores e respectivas famílias com o despedimento. Não pude deixar de registar este caso no post Empresário que respeita os trabalhadores.

Porém, neste Mundo de seres humanos sujeitos a errar e a deixarem-se vencer pela aparente facilidade do que tem menos valor cívico, como a ambição, a vaidade, o apego ao poder, as notícias más aparecem, infelizmente, em quantidade incrível e lá encontrei as do Sri Lanka e da Colômbia. Como muito tenho batido na tecla de que a paz no mundo seria possível se os governantes e os líderes rebeldes, em vez de acção armada e violenta, usassem as conversações, a negociação e o culto de valores cívicos, como o respeito pelos direitos humanos, a justiça social, a equidade, fiz um pequeno post - A Paz no Mundo será possível? - sobre o tema, deixando links para os interessados poderem ver com atenção o que se passa neste mundo abandalhado por ambiciosos sem escrúpulos que colocam em perigo a vida de inocentes, crianças e idosos.

No DN deparei com um artigo de Ferreira Fernandes que aponta o dedo ao chamar a atenção para a forma como três ocorrências foram tratadas mostrando que o jornalismo pode servir de instrumento a objectivos pouco claros, sem o comum dos leitores disso se aperceber. Quando enfatiza um ou outro assunto, deixando de lado outros aparentemente mais relevantes para a vida do País, dos portugueses, está a servir qualquer intenção não confessada. O realce de uma notícia, uma alusão, uma citação, uma interrogação, uma suspeita, pode ser uma arma mortífera, ou pelo menos muito agressiva, embora, na aparência, pareça inocente. Isto levou-me a transcrever o artigo no post O jornalismo age como instrumento.

Procuro não abusar da transcrição de textos alheios para o blog, mas, muitas vezes, essa é a melhor solução, não deixando, sempre que possível, de identificar o autor e a origem e de fazer uma introdução e/ou uma nota a esclarecer o que me leva a transcrever.

E assim se foi passando o dia em comunicação virtual com os amigos e com o mundo através da Internet, com intervalos para fazer exercício físico neste ambiente paradisíaco em contacto com as minhas plantas que retribuem, com a sua companhia, aroma e cores, o meu afecto de as visitar e tratar com desvelo. Entre nós há um silêncio muito eloquente que diz muito e me inspira no que escrevo e faço, e na forma como encaro o que se passa na superfície do globo e, principalmente, neste rectângulo que alguém apelidou de jardim à beira-mar plantado.

E para encerrar este dia, parecido com muitos outros, o Sol cumpriu o seu ocaso, com a beleza habitual mas que, como estive todo o dia imbuído de romantismo, fui premiado por um refinamento de cores muito especial com umas ténues nuvens que refractaram os raios solares, mesmo depois de o astro ter descido abaixo da linha do horizonte, com uma invulgar riqueza de tonalidades. Maravilhoso, impossível de relatar por uma pessoa tão pouco dotada como eu.

Quem sou?

(Publicado no blogue Do Miradouro em 22 de Março de 2008)

Há dias, um colega bloguista, com ares de dedicado agente da Pide, escreveu, num comentário, que sabe quem sou mas queria que fosse eu a confessar. Ter de confessar é uma imposição do tipo Guantânamo, Tarrafal ou, simplesmente, Rua António Maria Cardoso, mas vou tentar aceitar este desafio.

O que sou? Será que quer saber o peso, a altura, a medida da cintura, do colarinho, do sapato?

Se quer saber o que faço e penso, vou tentar descrever o dia-a-dia do meu intelecto, no mundo sem poluição em que me instalei, pelo menos mentalmente. Vivo a 3 quilómetros a Sul de Gouveia em plena subida para a Serra da Estrela ao lado da estrada que vai para a nascente do Mondego e para as Penhas Douradas. A casa ou casebre onde passo as horas do dia em que não tenho que estar a vigiar o rebanho de cabras que tenho à minha responsabilidade, não tem as comodidades de um prédio urbano com luz, água, esgoto, gás. Mas mantenho-a limpa e com o mínimo de modernidade ao ponto de ter sido convidado a participar no anúncio da netcabo (ele há coisas fantásticas, não há?) de que todo o País gostou.

Os que se recordam desse anúncio, perguntarão como posso em tal casa ter computador e ligação à Internet. Muito facilmente. Tenho uma placa fotovoltaica na cobertura da casa e umas baterias que armazenam e reservam a energia para a noite e, durante o dia, no campo, para não gastar dinheiro em pilhas que ficavam muito caras, tenho uma pequena placa fotovoltaica que dá energia para o rádio de bolso que me mantém ligado ao mundo, através dos noticiários. Esta placa, para não me impedir os movimentos nem ocupar os braços, é transportada como mochila, o que me obriga a procurar estar, o mais possível, de costas para o sol ou, se parado por mais tempo, colocá-la no chão inclinada de forma a que os raios solares incidam nela perpendicularmente. Creio ter sido explícito quanto a energia.

Não transporto comigo o computador portátil, com receio de o danificar, quer pelo mau tempo, quer por quedas ou choques e principalmente, porque ele me distrairia da missão que me foi incumbida de vigiar as cabras. Sem ele, convivo mais livre e atentamente com os meus pensamentos que se debruçam, com o possível pormenor, sobre tudo aquilo que se passa no Mundo inteiro. Esses pensamentos chegam ao ponto de fazer conjecturas que acabam, muitas vezes, por se tornar realidade algum tempo depois. Isso vem confirmar que a humanidade pouco ou nada tem evoluído e o ser humano mantém as virtudes e os defeitos básicos de muitos milénios atrás. Daí, a previsibilidade dos acontecimentos para quem estiver atento e observar sem parti-pris, com isenção e análises apartidárias e imparciais.

Mas, depois desta panorâmica do meu dia-a-dia, a propósito da energia, vou agora tentar fazer uma descrição cronológica. Levanto-me cedo, mal começa no cimo da serra a surgir o alvor da manhã, muito antes de o Sol nascer. Dou uma olhada ao redil para ver se não há novidade, pois concluo das notícias que há por aí ladrões de gado que, durante a noite, carregam grande quantidade de rezes. Felizmente ainda não tive esse azar. Acendo o lume do canto da lareira e aqueço o leite para o pequeno almoço feito de broa de milho, de queijo caseiro e fruta da época e da região e, entretanto, ligo o computador portátil para ver os e-mails recebidos, pois tenho umas dezenas de correspondentes espalhados pelo mundo, como dizia no anúncio de que atrás falei. Dou uma volta pelos jornais online e vejo se tenho novos comentários no meu blog, aos quais respondo de imediato, como podem ver nas horas que neles constam. Entretanto fui comendo o pequeno almoço que tem de ser uma refeição com os ingredientes necessários para aguentar até ao fim da tarde, contando com o «almoço» que é apenas constituído por queijo caseiro, broa e leite ordenhado ali para o tarro.

Depois, lá vamos calmamente para a serra à procura de pasto por entre as fragas. Quando as cabras encontram algo mais apetitoso e abundante, sento-me olho atentamente para a paisagem a perder de vista com a senhora do Castelo e de Mangualde lá ao fundo, e as malditas chaminés de fábricas a sujar os ares com as suas fumaças, sempre com o som do rádio em fundo a não me deixar esquecer que o mundo não é só o meu pensamento mas desgraçadamente e com mais peso, são as tragédias do Iraque, do Sri Lanka, do Quénia, do Tibete, do Kosovo, etc.

Não se espantem, pois esta minha vida de pensador solitário mantém-me mais actualizado do que muitos dos nossos governantes que, fechados nas torres de marfim, rodeados de guarda-costas, de telefonistas e de assessores que lhes filtram toda a informação, vivem de ilusões totalmente alheias às realidades, como se tem visto nas áreas da Saúde, do Ensino, da Justiça, da Economia, das Finanças, das Obras do Jamé, etc.

Aqui, atento a tudo, sem paixões por qualquer opinião de «sábios», apenas socorrido pelos factos filtrados pela lógica e bom senso, consigo formular juízos que como atrás disse, até permitem fazer previsões que, muitas vezes, se tornam realidades. Apesar da minha natural modéstia, chego a pensar que para ser sábio não é preciso ter grandes, estudos, nem comprar diploma de engenheiro no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, bastando usar o raciocínio e observar com atenção o que se pode ver e ouvir. Fora de vaidades, é na gente humilde dos rurais que encontramos os cérebros mais produtivos em pensamentos, simples na sua formulação, mas ricos de saber e senso prático. Não é apenas o António Aleixo, mas há muitos mais de quem pouco ou nada se fala.

A observação das minhas cabras, umas mais inteligentes do que as outras, mas todas com instintos bem desenvolvidos para sua defesa, sobrevivência quanto a alimentação e perigos, a sua ambição de poder para se imporem às outras, o respeito pela chefia, o espírito de grupo que me facilitam a minha obrigação de as manter juntas em autêntico rebanho, etc , esta observação é uma das fontes de saber e de reflexão. Por outro lado, a meteorologia é tratada por nós, rurais, quando bons observadores e habituados a pensar. E essa é uma das minhas tarefas do fim do dia, perscrutando o espaço para prever como estará o tempo no dia seguinte. Viver integrado no terreno, na vegetação e na atmosfera faz parte da globalidade dos interesses imediatos de um pastor que lhe dão um saber tão profundo que não estará ao alcance de qualquer urbano.

Regressado a casa e instalado o gado com as comodidades adequadas, preparo o jantar e vou contactar os amigos da Internet, sempre atentos ou viciados (!) que me enchem o Outlook de e-mails com lindos anexos, alguns com muito interesse cultural. Aproveito as últimas horas do anoitecer para colocar mais um tema para reflexão no blog, responder a algum comentário, e surfar um pouco pela blogosfera onde deixo comentários aqui e ali, porque ninguém visitará o meu se eu não deixar comentários nos outros. É o materialismo dos dias de hoje, principalmente entre os urbanos, em que muitos nada dão, só trocam, se tiverem interesse nisso!

Creio ter feito aqui a confissão que me é exigida pelo carrasco. Mas se ainda restam dúvidas, não tenha receio de perguntar concretamente. Ah esquecia-me de falar numa dor no tornozelo direito por ter escorregado numa fraga e feito um pequeno entorse. Mas as papas de linhaça estão a fazer efeito e, dentro de dias, estará bom.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Demografia e futuro do Ocidente

(Publicado no blogue Do Miradouro em 2 de Agosto de 2009)

Em relação ao post «Europa muçulmana em poucas décadas» recebi várias reacções, sendo a mais curiosa focada no aspecto religioso, na «guerra» de religiões, em que uma católica fervorosa, depois de falar com o pároco, disse que o Senhor nos salvará.

Porém o que me levou a publicar o post foi o problema demográfico do qual decorrem aspectos sociais, culturais e obviamente religiosos. Parece que nos tempos actuais, poucas pessoas, por livre vontade e sem lavagens ao cérebro, arriscariam a vida numa batalha movida por rivalidade religiosa. Pode no entanto esta ser utilizada tendenciosamente para ocultar interesses materialistas ou financeiros ligados a energias ou outros bens valiosos.

Mas o tema,
que parece ser fundamentalmente demográfico e afectar todo o Ocidente (o post referido citava a Europa baseado num vídeo mais focado na França), surge hoje no artigo seguinte que traz para Portugal tal preocupação sobre o futuro da nossa entidade social. Eis o artigo do Jornal de Notícias.

Portugueses em extinção?

Crescimento ínfimo da taxa de natalidade não chega para atenuar declínio da população nacional. Se a tendência não for invertida, estará Portugal condenado a morrer de velhice?

JN. 090802. 00h24m. ELMANO MADAIL

Os portugueses estão a fazer mais filhos. Mas não muitos; na verdade, o investimento nesse exercício é tão diminuto que não chega para repor as gerações.

A população portuguesa registou em 2007 - e pela primeira vez desde 1918 - um saldo natural negativo, de 0,01%. O que significa que morreram mais pessoas (103.512) do que aquelas que nasceram (102.492). A taxa de natalidade foi, nesse ano, de 9,7 nados vivos por mil habitantes, quando a de óbitos chegou aos 9,8 por mil. No ano passado, porém, vislumbrou-se um indício, ainda que ténue, de recuperação: segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos a 2008, o país conseguiu uma saldo natural positivo de 314 pessoas. Não é muito, apenas uma trémula luzerna ao fundo do túnel sem retorno em que Portugal se pode converter, como um rectângulo vacante, à semelhança, aliás, da Europa quase toda - continente que se arrisca a ficar, definitivamente, velho, gordo e pouco imaginativo, condenado à morte lenta por falta de sangue novo.

Desde 2003 que o Governo tenta implementar programas de incentivo à natalidade, e ainda esta semana José Sócrates, na recandidatura a primeiro-ministro, apresentou a proposta, inclusa no programa eleitoral do PS, de criar um subsídio de 200 euros para cada criança nascida em Portugal. Mesmo que a implementação da medida gerasse bebés imediatos, já seia tarde para evitar as consequências nefastas que se repercutirão daqui a uma geração. Nessa altura, se a tendência refractária ao crescimento populacional não sofrer alterações, que Portugal teremos? Que paisagem humana será expectável em 2035? Estarão os portugueses em vias de extinção?

A taxa de natalidade em Portugal aumentou, mas não o suficiente para grandes exaltações. Em 2008, registaram-se mais dois mil nascimentos do que em 2007. Se é certo que é a primeira subida da taxa de natalidade registada em cinco anos, também é verdade que não servirá para atenuar o declínio que se verificou até 2007, um ano particularmente negro em que a natalidade diminuiu (a taxa atingiu, pela primeira vez, um saldo negativo de menos 0,01 por cento). O inédito, e a preocupação que deveria comportar, é sublinhado pelos especialistas: "É surpreendente esta evolução em tão pouco tempo. Durante toda a História da Humanidade, houve uma taxa de fecundidade próxima da natural em todo o Mundo", garante Maria Norberta Amorim, catedrática da Universidade do Minho (UM).

E com toda a propriedade. Pioneira em estudos no âmbito da Demografia Histórica, a coordenadora do Núcleo de Estudos de População e Sociedade da UM dedicou grande parte da sua investigação à análise dos comportamentos demográficos dos últimos 400 anos, e concluiu que uma situação assim "existe na Europa apenas desde o século XX - embora se tenha verificado na França com 100 anos de antecedência por a contracepção ter entrado ali primeiro -, mas foram milénios sem que isto acontecesse", afirma. Por isso é que, na sua perspectiva, "a evolução mais significativa da História da Humanidade, em termos de alteração do quotidiano, foi no campo da fecundidade".

A sê-lo, deve-se a uma nova compostura da mulher jovem essa revolução silenciosa do quotidiano. Para Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, o fenómeno da baixa natalidade deve-se ao "aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e a aspiração a uma carreira profissional bem sucedida, ao prolongamento da educação e ao duplo fardo que para elas implica trabalhar no mercado laboral e em casa, associados ao aumento da precariedade, tanto laboral como dos relacionamentos".

Acresce, ainda, segundo Maria José Moreira, "um adiamento progressivo da natalidade. Vários estudos mostram que há uma diferença entre o número de filhos que as mulheres gostariam de ter e aqueles que efectivamente têm. Um deles, publicado em Maio, diz que mais de metade das jovens entre os 18 e os 24 anos gostaria de ter três ou mais filhos, e um quarto das mulheres até aos 30 anos apreciaria ter quatro ou mais; todavia, acabam por ter só um ou dois, quando não nenhum", afirma Maria José Moreira, investigadora do Centro de Estudos de População, Economia e Sociedade, da Universidade do Porto, e professora no Instituto Politécnico de Castelo Branco. "Por outro lado", refere, "mudou a concepção do que é ter um filho: os pais temem não ser capazes de dar ao filho o que julgam ser as suas necessidades, tanto do ponto de vista afectivo como material". Daqui resulta a ausência da renovação de gerações, só possível com 2,1 crianças por mulher..

O desfalque de recursos humanos deve-se também, portanto, a um certo aumento do nível de qualidade de vida e ao temor de que a sua manutenção não seja comportável com mais uma boca para alimentar. E, no entanto, essa estratégia não é nova; todavia, os seus efeitos, agora, são muito diversos. "Nos séculos anteriores, todos os comportamentos das estratégias de reprodução estavam condicionados a uma fecundidade próxima da natural. Por exemplo, se uma família rural tinha propriedades e pretendia manter o estatuto e o património nas gerações seguintes, tinha de ponderar o momento do casamento, que se considerava definitivo. Assim, a estratégia passava por um casamento tardio - pelo que havia muitos solteiros, freiras e sacerdotes -, para evitar uma grande repartição da propriedade e obstar a uma regressão patrimonial na geração seguinte, porque se uma mulher casasse cedo, com 15 anos, dado o ritmo de nascimento de dois em dois anos, poderia vir a ter 10 ou mais filhos", explica Amorim.
A docente não deixa de manifestar, porém, a sua surpresa, quando compara a época actual, denominada pós-industrial e de celebrada abundância, com a fecundida da sociedade de há século e meio: "Nessa altura, na passagem de uma sociedade rural para uma que se vai industrializando, há um aumento da fecundidade, porque no mundo rural as mulheres amamentavam os filhos, o que era impeditivo de nova gravidez, e quando começaram a trabalhar, entregavam os filhos às amas, engravidando mais vezes, pelo que se deu uma explosão demográfica na transição do século XIX para o século XX. E, ainda hoje, a zona do Norte de Portugal é a mais jovem da Europa (com Felgueiras à cabeça)".

Será, pois, por comparação com o passado mais pou menos remoto e glorioso de Portugal que Amorim exprime grande inquietação face ao futuro do país, não só no plano económico - como será possível sustentar as reformas quando a população beneficiária for maior do que a contribuinte? - mas de forma mais lata. "É na juventude é que está a criatividade, a força, e uma população mais envelhecida terá mais difificuldades de afirmação", diz, sublinhando que "sempre que houve um excedente populacional, deu-se um salto evolutivo. Os Descobrimentos (séculos XV-XVI), por exemplo, devem-se em larga medida à força reprodutiva dos portugueses do Norte do país".

Parece que a salvação radica na mobilidade populacional, designadamente a injecção de sangue novo por via da imigração. De resto, os nascimentos de bebés de mães estrangeiras representam, já, mais de 9,5% da taxa de natalidade nacional. Mas, para equilibrar o saldo natural, será necessário muito mais. O que pode não acontecer. Por um lado, porque a crise económica e o atraso efectivo de Portugal face à maioria dos países europeus o coloca como pouco atractivo. As estimativas da população residente no ano passado, publicadas INE, mostram que o número de residentes que, em 2008, optou por abandonar o país mais do que duplicou em relação aos valores de 2001. Face à taxa de desemprego de 8,9% (dados oficiais do INE, relativos ao primeiro trimestre), 20357 pessoas decidiram abandonar o país para viver e trabalhar no exterior em 2008, mais de 10 mil do que há quatro anos.

Por outro lado, as zonas de origem dos imigrantes estão a padecer também, elas próprias, do envelhecimento populacional a par da melhoria de qualidade de vida, como é o caso dos países asiáticos. "Até meados deste século, a população mundial continuará a crescer, mas depois deverá diminuir. Portanto, até que ponto é que essas comunidades continuarão a ter a capacidade de fornecer gente? Porque a tendência já é, com tempos diferentes e ritmos diversos, uma progressiva diminuição do ritmo de natalidade. Na China, por exemplo, já começa a ser problemático", assinala Moreira.

Afinal, foi o que aconteceu a Portugal noutra época: "Nos anos de 1960, a Europa também precisou de mão-de-obra para fazer face às necessidades geradas por um grande crescimento económico. Só que, nessa altura, o Sul do continente, e designadamente Portugal, constituía a reserva demográfica da Europa. Ora, hoje, isso já não acontece, bem pelo contrário: não só temos a diminuição da natalidade, como já não conseguimos atrair gente".

Nestas condições, é natural os governos tentarem encontrar soluções domésticas que estimule a vontade reprodutiva dos governados. No entanto, tudo se conjuga para contrariar esse ensejo. Desde logo, a crise mundial que se instalou, e que tardará, segundo as previsões dos organismos internacionais, e até do Banco de Portugal, a deixar Portugal mais do que noutrsas paragens.

Por ocasião do 1.º Congresso Nacional da Maternidade, que decorreu em Março último em Lisboa, alguns dos especialistas cogitaram que a ligeira subida da taxa de natalidade registada em 2008 é "uma tendência que não vai continuar em 2009 devido à crise económica".

A alto-comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, justificou o prognóstico reservado: "Sejam quais forem as políticas de incentivo à natalidade é preciso que, sobretudo, os casais jovens tenham uma certa segurança no trabalho", disse. "Os filhos são desejados mas também programados, e não me parece que este seja um ano muito propício para ter filhos", acrescentou a pediatra.

Sucede, porém, que por mais generosos que sejam os apoios à natalidade - e se em Portugal, o PS propõe, para a próxima legislatura, um subsídio de 200 euros a cada para criança, a depositar numa conta a prazo até aos 18 anos, em Espanha o Governo atribui 2500 euros... -, as medidas, neste campo específico, não costumam ter efeitos imediatos. É que, tipicamente, a gestação das crias humanas demora nove meses; e as gerações uma quarto de século a afirmar-se. Ora, nestas condições, se hoje somos poucos, amanhã seremos menos. E, quem sabe, se um dia não estaremos, como referia o economista João César das Neves à Focus, "em vias de extinção enquanto entidade social"?

Que futuro teremos?

(Publicado no blogue Do Miradouro em 5 de Julho de 2009)

Achei interessante coligir uma série de respostas a comentários num post recente e, desta forma, elaborar este post. Espero que ele contribua para reflexão dos leitores e obter comentários com a qualidade daqueles que aqui tem havido em assuntos como este.

As pessoas que observam com imparcialidade a sociedade actual preocupam-se com a ausência de valores que há poucos anos eram considerados o esteio da sociedade, das relações humanas, em todos os estratos sociais. Nacionalmente, as sucessivas «crises» políticas de promessas não cumpridas seguidas de outras promessas incumpríveis, os recuos devidos a decisões tomadas imponderadamente, sobre o joelho, a arrogância apoiada por uma teimosia vazia de racionalidade, agravaram-se com a crise financeira mundial. Mas o problema parece generalizado internacionalmente, o que não admira, dados os maus efeitos da globalização.

Esta crise nasceu de um sistema internacional condenado ao fracasso, da liberdade incondicional do poder financeiro e económico, sem supervisão, sem controlo e sem responsabilização por erros graves contra a estabilidade e sustentabilidade, com prejuízo para toda a humanidade em geral, particularmente, para os que vivem no limiar da pobreza e que não podem perder o pouco que já não tinham.

A bolha especulativa e de exploração de lucros por qualquer meio, com prejuízo fosse de quem fosse, rebentou e, para espanto dos mais optimistas, em vez de dar lugar a um esforço de reparação dos erros estruturais existentes e que estiveram na causa do desastre, tem originado um reforço do sistema, recuperando as perdas dos grandes financeiros, reabilitando indústrias que o próprio mercado vinha condenando ao seu ocaso, como o excesso de bancos e a indústria automóvel, inimigo perigoso da poluição e das alterações climáticas, em prejuízo dos consumidores, dos menos protegidos pelo Estado, das pequenas empresas, da agricultura, das pescas, e das produções que garantam a subsistência nacional e regional das respectivas populações.

Perante a crise, os governos evidenciaram a sua impreparação, incompetência, dedicação à sua função de Governar e falta de vistas largas e de capacidade de decisão e, por isso, acentuaram a parte mais negativa da globalização, em vez de aproveitarem o que ela tem de positivo para construir um novo sistema isento dos defeitos daquele que originou a crise internacional.

A nível nacional, corre-se insensatamente para obras megalómanas, sem olhar a custos, aumentando o endividamento externo, sem previsão da capacidade de amortização dos custos iniciais, sem olhar para a possibilidade de exploração rentável, sustentável, acabando por fazer cair nas gerações futuras um fardo insuportável, por mero capricho do poder que as antecedeu.

Paralelamente, assiste-se à degradação dos valores, do civismo do respeito pelas pessoas, individual e colectivamente. Na AR todos os políticos sem hesitações adjectivam os seus opostos de mentirosos e desonestos intelectualmente, evita-se combater a corrupção e o enriquecimento ilícito, aprova-se por unanimidade uma lei de financiamento dos partidos com dinheiro verde sem cuidarem do perigo de abrir caminho para um sistema estatal de lavagem de dinheiro proveniente das piores actividades criminosas.

Sintomaticamente, tal unanimidade nunca foi obtida em assuntos de interesse geral em defesa dos interesses nacionais no sentido mais lato. Ainda agora, para exemplo, não houve unanimidade em criminalizar a utilização de animais em lutas de espectáculo e apostas. Ignora-se quais os grandes interesses que estarão por detrás deste negócio que levou os partidos a não se unirem, como o fizeram no problema do «dinheiro vivo».

E perante estes dislates, o povo deixou de respeitar os políticos seguindo o exemplo que recebem das «touradas» na AR, das acções de «malhar» referidas na Comunicação Social e nas declarações á imprensa pelos políticos que desfrutam de maior visibilidade as quais desmascaram aquilo que realmente os preocupa. E o que os preocupa prioritariamente não são os grandes problemas de Portugal que eles raramente tentam definir ou sequer referir, mas a conquista de votos, de regalias de «tachos» para os seus «boys». A campanha para as recentes eleições para o PE foi um exemplo elucidativo. Atiraram-se as piores ofensas aos outros partidos mas nada se falou da importância da UE para Portugal ou de Portugal para a UE ou desta para o mundo e o futuro da humanidade. Não houve ideias tácticas e muito menos estratégicas, no que foi exímio o cabeça-de-lista do partido governamental.

Fica provado, e a última sessão na AR tirou qualquer dúvida que ainda existisse, que os interesses nacionais não são encarados a sério e que os governantes não têm a maturidade que seria desejável para as funções. Há quem defenda a entrega do Poder a jovens mais puros de sentimentos e intenções, mas há quem a receie por falta de experiência política. Mas, na realidade, tal experiência não significa mais do que estarem cristalizados nos vícios e manhas de que os actuais eleitos padecem. Com tais experiências nada melhorará. Terá de haver uma rotura de procedimentos, de metodologia na equação dos problemas com os olhos postos em interesses e objectivos nacionais acima de egoísmos e ambições sem ética.

Com os recursos humanos actualmente no activo, pessoas com cerca de 40 anos já viciadas nas maleitas existentes não iremos longe e só podemos alimentar esperanças de que de entre os agora ainda crianças surja uma elite com capacidade de organização e de concretização que consiga dar um novo rumo à humanidade, sem grandes sofrimentos. Para isso a juventude necessitaria de uma Educação adequada às grandes tarefas a que está destinada. Mas esse aspecto também está muito descurado. Toda a mudança obriga a sacrifícios de hábitos e de rotinas, bem como de alteração da escala de valores. Mas, realmente, a humanidade, em geral, não só o nosso País, está a precisar de uma correcção da rota para evitar o abismo irremediável, tendo de enfrentar as dificuldades inerentes.

A minha esperança de um futuro mais promissor não é em interesse pessoal, porque o prazo que prevejo, já não me trará benefícios pessoais. Penso na humanidade como se estivesse a olhar de um outro planeta e, dessa forma, procuro não me deixar prender por casos isolados, mas sim por tendências gerais ou erros com efeitos alargados que ultrapassam a área local.

Por outro lado, a esperança é o antídoto da depressão e da angústia, uma espécie de higiene mental que ajuda a viver em equilíbrio, perante o cenário de grave desagregação ética e social.

Mas esta esperança utópica tem bases reais. A Natureza funciona segundo o movimento sinusoidal com descidas e subidas, altos e baixos. As estações do ano são um belo exemplo disso. Na primavera nascem as folhas às árvores, depois as flores e os frutos e, no outono amarelecem e começam a cair, para no inverno as árvores ficarem nuas. Depois tudo recomeça.

O nosso planeta teve épocas glaciares, diluvianas, etc. Agora estamos em época seca e quente. A humanidade também tem passado por fases e não é necessário recuarmos à pré-história, pois basta irmos à época dos descobrimentos em que Portugal foi dono dos mares, sendo depois substituído pelos ingleses, e em parte pelos holandeses, franceses, belgas e os espanhóis com quem se partilhou a América do Sul. Todos recolheram ao espaço inicial deixando as colónias em liberdade.

A China foi o Império do Meio, com todo o mundo à sua volta. Depois a Europa liderou o chamado mundo ocidental, «cargo» que depois passou a ser desempenhado pela América do Norte. Nada permanece imutável e há na Natureza um regresso periódico a situações anteriores. Como o homem é o único ser vivo que constrói ferramentas e aperfeiçoa tecnologias não deixará que algo venha a ser igual a ontem, mas isso nem sempre é vantajoso, porque as próprias tecnologias começam a dificultar ser controladas pelo homem. A propósito da queda do avião em viagem entre Rio de Janeiro e Paris, houve técnicos que afirmavam que o sistema do avião é de tal forma perfeito que se auto-repara sem necessidade de intervenção do piloto. Mas se este vir que a coisa não corre bem, tem dificuldade, muitas vezes impossibilidade, de intervir. Passamos a ser sequestrados, vítimas indefesas da máquina.

Mas, quanto a uma evolução da vida social e política, a esperança não pode ser alimentada pela observação da generalidade dos jovens que têm crescido no ambiente doentio que lhes foi legado pela geração anterior; temos que esperar que, de entre eles, surja uma elite de «génios» que usem o raciocínio, concluam que muita coisa está errada e que é indispensável regenerar o sistema para que o Homem continue na Terra, e que tenham coragem de organizar e levar a cabo a mudança. A revolução francesa surgiu assim, a independência americana também.

O ideal seria que tudo se conseguisse com as palavras dos filósofos sem violência, mas, provavelmente, terá de haver violência para desalojar os actuais donos da humanidade (políticos, banqueiros, multinacionais e outros capitalistas exploradores que estiveram na origem da actual crise financeira global). Mas a violência por vezes, apesar de sofrimento, traz benefício, porque é sucedida de clarificação e concentração de esforços para objectivos claros. A Alemanha depois de ter ficado destruída pela II GM, foi bem sucedida no rápido trabalho de reconstrução e tornou-se depressa na locomotiva da Europa. Pelo contrário, Portugal, com os seus brandos costumes, não teve violência mas, em vez de reconstrução da Democracia, gerou o PREC cujos maus efeitos ainda se reflectem no caos em que vegetamos. Enfim, irá haver mudanças, sem sabermos quando nem como, mas a esperança em dias melhores para os nossos netos não deve desaparecer!!!

Efectivamente, tudo leva a crer que o mundo irá sofrer profundas alterações que, provavelmente, serão violentas. Há quem preveja que a hegemonia irá deixar de pertencer à América e passar para o Extremo Oriente (China). A Europa que, durante séculos, foi o centro da humanidade, irá perder essa regalia, esmagada por imigrantes, na maior parte vindos do Norte de África onde não há ocupação laboral para a população crescente. Os muçulmanos irão criar agitação com o Ocidente, embora não tenham organização para dominar a civilização, mas o petróleo continuará a dar-lhes alguma força por mais uns anos.

A esperança num futuro melhor é a última coisa a morrer. Mas é preciso alimentá-la. E é isso que estou aqui a fazer, procurando contribuir com a minha quota-parte para uma humanidade mais feliz e próspera, apesar das infantilidades de políticos sem formação ética.

A. João Soares

Pensar antes de decidir

(Publicado no blogue Do Miradouro em 4 de Dezembro de 2008)

O pensamento estruturado, metódico, deve preceder a decisão e a acção. Já por várias vezes foi aqui referida a necessidade de estudo dos problemas antes de ser tomada uma decisão. Por exemplo, o post de 6 de Janeiro do corrente ano, Não existe mentalidade de planeamento nos serviços públicos abordava este problema e, posteriormente, num comentário, ficou exposta uma metodologia que, adaptada a cada situação, pode dar uma forte ajuda e que é a seguinte:

Em termos resumidos, as normas de preparação da decisão e deplaneamento devem passar por

1) definir com clareza e de forma que ninguém tenha dúvidas, o objectivo ou resultado pretendido.

2) Em seguida, descrever com rigor o ponto de partida, isto é, a situação vigente, com análise de todos os factores que possam influenciar o problema que se pretende resolver.

3) Depois, esboçar todas as possíveis formas ou soluções de resolver o problema para atingir o resultado, a finalidade, o objectivo ou alvo; nestas modalidades não deve se preterida nenhuma, por menos adequada que pareça.

4) A seguir, pega-se nas modalidades, uma por uma e fazem-se reagir com os factores referidos em 2) e verificam-se as vantagens e inconvenientes; é um trabalho de previsão de como as coisas iriam passar-se se essa fosse a modalidade escolhida.

5) Depois desta análise das modalidades, uma por uma, faz-se a comparação entre elas, das suas vantagens e inconvenientes, com vista a tornar possível a escolha.

6) O responsável pela equipa, o chefe do serviço, da instituição, o ministro, o primeiro-ministro, conforme o nível em que tudo isto se passa, toma a sua decisão, isto é, escolhe a modalidade a pôr em execução, tendo em conta aquilo que ficou exposto na alínea anterior.

7)Depois de tomada a decisão, há que organizar os recursos necessários à acção, elaborar o planeamento e programar as tarefas.

8)Após iniciada a acção é indispensável o controlo eficaz do qual pode resultar a necessidade de ajustamentos, para cuja decisão deve ser utilizada a metodologia aqui definida, por forma a não se perder a directriz que conduz à finalidade inicialmente pretendida.

As várias insistências neste tema, são agora «premiadas» pela notícia do Jornal de Notícias Daniel Bessa: Governo deve "parar para pensar" de que se extraem algumas ideias:

O Governo deve dirigir o grosso dos investimentos para as exportações, em prejuízo das grandes obras públicas que vêm sendo anunciadas.

O país importa muito mais do que exporta e a diferença equivale a 10% do Produto Interno Bruto (PIB), o que o obriga a sobre-endividar-se no estrangeiro, para pagar aquela factura. Há 17 mil milhões de euros, por ano, que "saem mesmo da Banca portuguesa" e vão direitos aos bancos estrangeiros.

No actual contexto de recessão internacional, que parece resolvido o défice de confiança dos cidadãos nos bancos, mas não o da confiança entre bancos, sobretudo, de países diferentes. "Os [movimentos] interbancários continuam em muito mau estado".

A garantia de 20 mil milhões que o Governo deu à banca nacional foi uma boa medida, para esta conseguir dinheiro emprestado no estrangeiro, mas frisou que ela não dura para sempre e, em breve, "teremos de ouvir mais notícias do Estado português"...

Considerou ser "tempo de olhar para as debilidades estruturais", e defendeu que a economia portuguesa só ultrapassará a crise, se conseguir diminuir o défice das transacções correntes. "Precisamos, como de pão para a boca, de pôr dinheiro em coisas que exportem".

"O nó górdio desta crise continua no sistema financeiro". O antigo ministro começara justamente por observar que a actual crise "é diferente das outras", porque "deixou a própria banca em condições de não se poder financiar", para concluir que, "se o dinheiro não circular no sistema financeiro, a crise não se resolve".

NOTA: Estamos numa situação difícil que não se compadece com pequenos remendos, nem paliativos. É preciso um estudo imparcial, isento, competente, sem preconceitos partidários, com dedicação aos verdadeiros interesses nacionais, com vista a encontrar a solução estrutural que vá ao encontro de um Portugal que seja melhor amanhã e que possa continuar a desenvolver-se no futuro.

Memória de 13 de Junho de 1974

(Publicado no blogue Do Miradouro em 13 de Junho de 2009)

À hora marcada, estava no aeroporto da Portela para me juntar a um pequeno grupo que ia partir para Londres onde iria ter lugar um encontro entre representantes do poder Português com o PAIGC (Partido Africano Para a Independência da Guiné e Cabo Verde).Fazia-me acompanhar de uma volumosa pasta com dossiês relativos ao dispositivo militar na Guiné que foi preparado meticulosamente a fim de poder ajudar os futuros elementos armados da Guiné a substituírem os nossos militares nos diversos pontos do território, por forma a manterem a ordem sem sobressaltos e prepararem um futuro promissor para as diversas etnias que iam passar a ter uma autonomia responsável.

Fui nomeado pelo governador Carlos Fabião depois de ter ouvido o meu chefe directo que me consideraram o elemento do Comando Chefe com mais informação para o efeito desejado.
No aeroporto encontrei-me com o Manuel Monge, hoje general, e pouco depois chegaram Mário Soares, Almeida Santos e Jorge Campinos. Já todos conheciam o Monge. No entanto, Mário Soares, perguntou quem era o João Soares (por exclusão de partes não lhe era difícil saber que era eu) e disse que o filho também se chama João Soares. Foi uma forma simpática de me introduzir no grupo. E informou que a reunião não seria em Londres porque o PAIGC tinha dito que não se sentia à vontade para discutir o assunto em casa de um nosso aliado e tinha proposto a Argélia, o que Portugal aceitara. De maneira que íamos tomar um avião para a Argélia via Paris.

Chegados lá instalámo-nos numa moradia e foi-nos oferecido chá de menta e tâmaras à discrição, além de comodidades muito aceitáveis. Tínhamos sido alertados para a hipóteses de as conversas serem escutadas e gravadas, pelo que ou falávamos no jardim relvado distantes dos canteiros ou à volta de uma mesa em cujo centro colocávamos um rádio que empastelava as nossas vozes em eventual gravação.

No dia seguinte tivemos o encontro e as conversas bilaterais em que o PAIGC era representado por um grupo do tamanho do nosso, sob a chefia de Pedro Pires.

Estou agora a recordar isto e a escrever pela primeira vez, porque é o aniversário desse evento e porque as notícias recentes mostraram, mais uma vez, que a Guiné não soube ou não conseguiu aproveitar da melhor forma a oportunidade de ser um País independente capaz de se governar para bem-estar do seu povo e desenvolvimento das suas potencialidades que, diga-se a verdade, não eram muito promissoras. Mas houve um pormenor que na altura me impressionou e agora recordo com vontade de não o manter no sufoco.

Nas conversações quem falava era Pedro Pires de um lado e Mário Soares do outro (nosso) com pequeníssimas intervenções de Almeida Santos e Jorge Campinos. A dada altura, Pedro Pires na sua arenga contra a repressão dos militares portugueses (o que não podia surpreender, porque era esse o papel que ali estava a representar) falou nos campos de concentração em que tinha sido colocada grande parte da população guineense. O Monge deu-me um toque de joelho e trocámos um olhar de espanto por não ter havido reacção de Mário Soares e, de forma discreta, dissemos que no intervalo íamos chamar-lhe a atenção por ele não ter reagido.

Chegados ao intervalo e após o primeiro gole de chá de menta, mostrámos-lhe o nosso espanto por ele ter deixado sem esclarecimento essa alusão, feita de forma despropositada e hostil, aos aldeamentos construídos quase no estilo de aldeias turísticas dos nossos tempos, com água, proximidade dos campos de cultivo em locais escolhidos pelas pessoas importantes da aldeia (homens grandes) e que muito nos impressionava que os soldados que as construíam, que viviam nas suas aldeias do interior do País com a família em péssimas condições em comparação com aquelas, trabalhavam sem refilarem nem exigirem nada de semelhante para as suas aldeias. Aceitavam o seu espírito de missão sem qualquer sombra de ressentimento, tal fora a sua preparação militar.

Mas Mário Soares que conhecia a Guiné apenas através dos programas que a oposição fazia publicar na Rádio Moscovo, na Rádio Argel, na Rádio Praga e outras, não conhecia minimamente o produto que estava a «vender» ou a dar e não podia dialogar com o «comprador» ou aceitador. E argumentou, como motivo para não ter reagido à alusão a «campos de concentração», a existência do arame farpado que cercava os aldeamentos. Foi-lhe explicado que a única razão era dar alguma protecção aos habitantes contra os roubos dos seus haveres pelos combatentes africanos ocultos no mato na região e que fora pedido pelos «homens grandes» do aldeamento. Limitou-se a dizer «porque não me disseram isso antes?». Para o que não podia haver resposta, pois o desejado «briefing» prévio devia ter sido determinado por ele.

Regressado, a Lisboa voltei a Bissau com a pasta pesada com os dossiês intactos sem terem sido sequer referidos, frustrado pela inutilidade do esforço e pelo amadorismo das «conversações», fiz o relatório ao Governador Carlos Fabião e sugeri que nomeasse outro seu delegado para as novas rondas das conversações, pois não estava interessado em continuar. Veio a ser nomeado Hugo dos Santos, agora general. Pouco depois terminava os dois anos de serviço ali e, apesar disso e de ter regressado definitivamente a Lisboa, ainda lá fui algumas vezes a pedido do governador que depositava em mim confiança para alguns contactos com as altas esferas militares.

Concordo que a descolonização foi feita sob pressões anormais e irracionais, mas devia haver coragem para parar e pensar na melhor forma de garantir o futuro das populações locais, de maneira a não perderem os efeitos positivos do bom que existia e poderem desenvolver todas as hipóteses de melhorar. Não houve a serenidade e o bom senso necessários, não tinha havido preparação de pessoas válidas para o enquadramento da vida social e económica, nem segurança para agirem da forma mais correcta, e depois foi o que se tem visto, até aos nossos dias, passados 35 anos.

A República da Guiné Bissau não começou com os melhores augúrios e tropeçou ao dar os primeiros passos. Oxalá, agora após 35 anos, haja sensatez para recuperarem o bom rumo e superarem da melhor maneira os sofrimentos de todo este tempo.

Eficiência na comunicação

(Publicado no blogue Do Miradouro em 28 de Março de 2009)

Usando do diálogo que a Internet possibilita, alinho estas frases após ter sido estimulado a «escrever bem» pela escritora Alexandra Caracol através do texto que inseriu no seu blogue e que aqui deixo entre aspas. Escrever ou falar bem é indispensável no acto da comunicação com o outros. Ao comunicar, estamos a desempenhar o papel do carteiro em relação à ideia que pretendemos levar, comunicar, ao outro. Ao transmitirmos uma ideia, não basta ficarmos satisfeitos pela forma como o fizemos, mas devemos imaginarmo-nos na pele do receptor e avaliarmos a facilidade de ele extrair do texto a ideia que com este quisemos enviar. Para a comunicação ser eficaz, sem deturpar a mensagem, há que utilizar uma linguagem comum, com palavras de significado bem conhecido tanto pelo emissor como pelo receptor. Este conceito fica bem evidente quando a comunicação é cifrada, o que obriga a que os dois intervenientes usem a mesma chave para codificar e descodificar.

Para bem escrever é preciso conhecer bem a língua utilizada, a sua gramática e a força das palavras. Mas antes de alinhar as palavras e as frases, é imprescindível clarificar a ideia, isto é, PENSAR, raciocinar, o que hoje é um luxo pertencente a muito poucos. Os próprios governantes, caiem em contradições e incoerências frequentes, por não saberem raciocinar sobre os dados por eles próprios anteriormente estabelecidos. Há que racionalizar o encadeamento das afirmações e dos considerandos que a suportam, procurando a maior clareza do pensamento e a sucessão dos argumentos para ser fácil ao receptor ficar de posse completa da ideia que lhe foi entregue. Já me aconteceu ver textos meus preparados com grande dose de ironia serem interpretados em sentido oposto ao desejado por a ironia não ter sido apercebida por alguns leitores.

Cada um de nós tem de procurar a excelência em todos os seus actos e ajudar os seus familiares e amigos a fazerem igual esforço. Não somos obrigados a morrer ignorantes nem incapazes de falar e escrever bem. Expor de forma correcta um tema, conduz-nos a um melhor conhecimento, em consequência do esforço de raciocínio para preparar a exposição, o que evidencia a interacção entre os dois momentos.

A comunicação e a escrita aprendem-se. Noutros tempos, as escolas, os professores de Português incitavam os alunos a escrever bem sobre temas, uns impostos e outros livres. Tive um professor que nos mandava fazer resumos de partes dos Lusíadas e outras obras e, todas as semanas, fazíamos uma redacção sobre «o caso da semana» e, na segunda-feira, eram chamados uns tantos para lerem o seu trabalho e todos fazíamos a seguir a crítica. Também as publicações tinham concursos de contos e outras redacções dando prémios simbólicos aos melhores. Hoje, impera o facilitismo, com a ideia de que o que é preciso é que nos façamos entender. Só que muitas vezes não se entende e faz-se uma interpretação errada, como é o caso de muitos contratos, de que resultam problemas.

Actualmente, o computador veio dar uma grande ajuda à escrita. Aquela frase que veio à mente quase no fim do texto é facilmente inserida a meio ou no início, no local onde melhor se enquadre na estrutura do texto, não havendo, por isso, desculpa para o ziguezague do percurso em que se repete um aspecto ou se avança e recua no fluir da expressão.

Saber escrever, saber comunicar, aprende-se e incrementa-se com o estudo, a experiência e a análise de bons textos. A divisão das orações (A TLEBS que me desculpe se o termo já não é este) constitui um teste essencial para verificarmos se uma frase está correcta.

Nota: este texto foi escrito em 3 de Dezembro de 2006, mas mantém-se actual, excepto na referência à TLEBS.

domingo, 16 de agosto de 2009

Mais vale prevenir do que remediar. 030819

(Publicada em «A Capital», 2003.08.19, pág. 15)

À primeira vista, parece que já demasiadas pessoas emitiram opinião sobre o drama dos fogos florestais. Porém, julgo que não é demais insistir no problema, a fim de que a actual situação emocional não se extinga antes de serem tomadas decisões práticas e exequíveis. Embora hoje as conversas se foquem nos crimes de fogo posto, parece que o objectivo principal deve ser voltado para o futuro, deve versar a adopção de medidas de prevenção que venham a impedir que qualquer fogo, de qualquer origem, se expanda por áreas incontroladas.

Se, com as próximas chuvas, deixar de se falar na reestruturação e manutenção da floresta, certamente que, no próximo ano, arderá tudo aquilo que este ano escapou. Por isso, é absolutamente necessário que não se deixe de falar nisto, alertando os responsáveis para a urgência do problema, o qual não pode deixar-se secundarizar com qualquer caso que entretanto surja.

Permito-me esboçar duas reflexões que julgo significativas. A primeira refere-se à limpeza das matas. Há quem faça comparações com o que sucedia há cinco ou mais décadas. Mas, efectivamente, não há comparação possível. Nessas datas, as matas estavam limpas, por vezes em exagero, porque todo o material delas retirado era útil para a vida das populações rurais e para as tarefas agrícolas. Ninguém tinha como objectivo limpar as matas; estas resultavam limpas por efeito do aproveitamento da «esgalha» dos pinheiros, da roça do mato e da apanha da caruma.

Hoje, para se conseguir ter as matas limpas seria necessária mão-de-obra, que não existe (apesar da taxa de desemprego!), seriam necessárias máquinas que teriam o inconveniente de impedir o crescimento dos pinheiros acabados de nascer. E, depois, qual o destino dos produtos resultantes da limpeza? Se forem deixados em medas, constituem bombas incendiárias. Outra pergunta será: onde irão os pequenos proprietários, muitas vezes idosos, com pensões de miséria, buscar dinheiro para pagarem essas limpezas? Fica, pois, a pergunta de resposta difícil: deve ou não fazer-se a limpeza das matas?

Uma segunda reflexão, que de certo modo responde à primeira, liga-se à compartimentação da floresta por aceiros largos e mantidos perfeitamente limpos, à alternância de faixas de árvores folhosas, com outras de pinheiros e de eucaliptos, com pastagens, e aos acessos fáceis a todos locais, etc.

Estas actividades de reordenamento, nomeadamente a desflorestação dos aceiros, irá prejudicar principalmente os pequenos proprietários. No curto prazo, prejudica interesses privados. Mas trará benefícios no longo prazo, evitando os dramas deste Verão. As pessoas, quando esclarecidas, compreendem isto. As televisões mostraram no Algarve povoações que escaparam aos fogos porque, à última hora, limparam os terrenos à volta e abriram aceiros e clareiras sem olhar aos limites das propriedades, aos jardins aos quintais e aos pomares. Ninguém se opôs, como é lógico. Porém, se alguém lhes tivesse sugerido tais trabalhos, uma ou duas emanas antes, estou certo que ninguém deixaria que as máquinas destruíssem as suas propriedades!!

Há, pois, que esclarecer as pessoas e os responsáveis para se colocarem de acordo na compartimentação da floresta, com as justas indemnizações aos proprietários de pequenos terrenos engolidos pelos aceiros. Isso seria um investimento que evitaria os prejuízos que hoje se conhecem.

Depois de calculados os custos dos prejuízos sofridos com os fogos deste Verão deveria contar-se com mais 20 ou 30 por cento para gastar em trabalhos de prevenção, como atrás ficou referido. Se assim não for, o muito que se poupe e deixe de se gastar na prevenção será, certamente, ultrapassado pelos prejuízos dos fogos que virão a ocorrer. A lição deste Verão não deve ser esquecida. Prevenir é investir para o futuro, é sacrificar os interesses individuais de hoje em benefício dos interesses colectivos de amanhã. Vale mais prevenir do que remediar. Isto não significa, porém, que não se aperfeiçoem as condições, os meios materiais e as pessoas para o combate aos focos de incêndio que possam ocorrer.