segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Que futuro teremos?

(Publicado no blogue Do Miradouro em 5 de Julho de 2009)

Achei interessante coligir uma série de respostas a comentários num post recente e, desta forma, elaborar este post. Espero que ele contribua para reflexão dos leitores e obter comentários com a qualidade daqueles que aqui tem havido em assuntos como este.

As pessoas que observam com imparcialidade a sociedade actual preocupam-se com a ausência de valores que há poucos anos eram considerados o esteio da sociedade, das relações humanas, em todos os estratos sociais. Nacionalmente, as sucessivas «crises» políticas de promessas não cumpridas seguidas de outras promessas incumpríveis, os recuos devidos a decisões tomadas imponderadamente, sobre o joelho, a arrogância apoiada por uma teimosia vazia de racionalidade, agravaram-se com a crise financeira mundial. Mas o problema parece generalizado internacionalmente, o que não admira, dados os maus efeitos da globalização.

Esta crise nasceu de um sistema internacional condenado ao fracasso, da liberdade incondicional do poder financeiro e económico, sem supervisão, sem controlo e sem responsabilização por erros graves contra a estabilidade e sustentabilidade, com prejuízo para toda a humanidade em geral, particularmente, para os que vivem no limiar da pobreza e que não podem perder o pouco que já não tinham.

A bolha especulativa e de exploração de lucros por qualquer meio, com prejuízo fosse de quem fosse, rebentou e, para espanto dos mais optimistas, em vez de dar lugar a um esforço de reparação dos erros estruturais existentes e que estiveram na causa do desastre, tem originado um reforço do sistema, recuperando as perdas dos grandes financeiros, reabilitando indústrias que o próprio mercado vinha condenando ao seu ocaso, como o excesso de bancos e a indústria automóvel, inimigo perigoso da poluição e das alterações climáticas, em prejuízo dos consumidores, dos menos protegidos pelo Estado, das pequenas empresas, da agricultura, das pescas, e das produções que garantam a subsistência nacional e regional das respectivas populações.

Perante a crise, os governos evidenciaram a sua impreparação, incompetência, dedicação à sua função de Governar e falta de vistas largas e de capacidade de decisão e, por isso, acentuaram a parte mais negativa da globalização, em vez de aproveitarem o que ela tem de positivo para construir um novo sistema isento dos defeitos daquele que originou a crise internacional.

A nível nacional, corre-se insensatamente para obras megalómanas, sem olhar a custos, aumentando o endividamento externo, sem previsão da capacidade de amortização dos custos iniciais, sem olhar para a possibilidade de exploração rentável, sustentável, acabando por fazer cair nas gerações futuras um fardo insuportável, por mero capricho do poder que as antecedeu.

Paralelamente, assiste-se à degradação dos valores, do civismo do respeito pelas pessoas, individual e colectivamente. Na AR todos os políticos sem hesitações adjectivam os seus opostos de mentirosos e desonestos intelectualmente, evita-se combater a corrupção e o enriquecimento ilícito, aprova-se por unanimidade uma lei de financiamento dos partidos com dinheiro verde sem cuidarem do perigo de abrir caminho para um sistema estatal de lavagem de dinheiro proveniente das piores actividades criminosas.

Sintomaticamente, tal unanimidade nunca foi obtida em assuntos de interesse geral em defesa dos interesses nacionais no sentido mais lato. Ainda agora, para exemplo, não houve unanimidade em criminalizar a utilização de animais em lutas de espectáculo e apostas. Ignora-se quais os grandes interesses que estarão por detrás deste negócio que levou os partidos a não se unirem, como o fizeram no problema do «dinheiro vivo».

E perante estes dislates, o povo deixou de respeitar os políticos seguindo o exemplo que recebem das «touradas» na AR, das acções de «malhar» referidas na Comunicação Social e nas declarações á imprensa pelos políticos que desfrutam de maior visibilidade as quais desmascaram aquilo que realmente os preocupa. E o que os preocupa prioritariamente não são os grandes problemas de Portugal que eles raramente tentam definir ou sequer referir, mas a conquista de votos, de regalias de «tachos» para os seus «boys». A campanha para as recentes eleições para o PE foi um exemplo elucidativo. Atiraram-se as piores ofensas aos outros partidos mas nada se falou da importância da UE para Portugal ou de Portugal para a UE ou desta para o mundo e o futuro da humanidade. Não houve ideias tácticas e muito menos estratégicas, no que foi exímio o cabeça-de-lista do partido governamental.

Fica provado, e a última sessão na AR tirou qualquer dúvida que ainda existisse, que os interesses nacionais não são encarados a sério e que os governantes não têm a maturidade que seria desejável para as funções. Há quem defenda a entrega do Poder a jovens mais puros de sentimentos e intenções, mas há quem a receie por falta de experiência política. Mas, na realidade, tal experiência não significa mais do que estarem cristalizados nos vícios e manhas de que os actuais eleitos padecem. Com tais experiências nada melhorará. Terá de haver uma rotura de procedimentos, de metodologia na equação dos problemas com os olhos postos em interesses e objectivos nacionais acima de egoísmos e ambições sem ética.

Com os recursos humanos actualmente no activo, pessoas com cerca de 40 anos já viciadas nas maleitas existentes não iremos longe e só podemos alimentar esperanças de que de entre os agora ainda crianças surja uma elite com capacidade de organização e de concretização que consiga dar um novo rumo à humanidade, sem grandes sofrimentos. Para isso a juventude necessitaria de uma Educação adequada às grandes tarefas a que está destinada. Mas esse aspecto também está muito descurado. Toda a mudança obriga a sacrifícios de hábitos e de rotinas, bem como de alteração da escala de valores. Mas, realmente, a humanidade, em geral, não só o nosso País, está a precisar de uma correcção da rota para evitar o abismo irremediável, tendo de enfrentar as dificuldades inerentes.

A minha esperança de um futuro mais promissor não é em interesse pessoal, porque o prazo que prevejo, já não me trará benefícios pessoais. Penso na humanidade como se estivesse a olhar de um outro planeta e, dessa forma, procuro não me deixar prender por casos isolados, mas sim por tendências gerais ou erros com efeitos alargados que ultrapassam a área local.

Por outro lado, a esperança é o antídoto da depressão e da angústia, uma espécie de higiene mental que ajuda a viver em equilíbrio, perante o cenário de grave desagregação ética e social.

Mas esta esperança utópica tem bases reais. A Natureza funciona segundo o movimento sinusoidal com descidas e subidas, altos e baixos. As estações do ano são um belo exemplo disso. Na primavera nascem as folhas às árvores, depois as flores e os frutos e, no outono amarelecem e começam a cair, para no inverno as árvores ficarem nuas. Depois tudo recomeça.

O nosso planeta teve épocas glaciares, diluvianas, etc. Agora estamos em época seca e quente. A humanidade também tem passado por fases e não é necessário recuarmos à pré-história, pois basta irmos à época dos descobrimentos em que Portugal foi dono dos mares, sendo depois substituído pelos ingleses, e em parte pelos holandeses, franceses, belgas e os espanhóis com quem se partilhou a América do Sul. Todos recolheram ao espaço inicial deixando as colónias em liberdade.

A China foi o Império do Meio, com todo o mundo à sua volta. Depois a Europa liderou o chamado mundo ocidental, «cargo» que depois passou a ser desempenhado pela América do Norte. Nada permanece imutável e há na Natureza um regresso periódico a situações anteriores. Como o homem é o único ser vivo que constrói ferramentas e aperfeiçoa tecnologias não deixará que algo venha a ser igual a ontem, mas isso nem sempre é vantajoso, porque as próprias tecnologias começam a dificultar ser controladas pelo homem. A propósito da queda do avião em viagem entre Rio de Janeiro e Paris, houve técnicos que afirmavam que o sistema do avião é de tal forma perfeito que se auto-repara sem necessidade de intervenção do piloto. Mas se este vir que a coisa não corre bem, tem dificuldade, muitas vezes impossibilidade, de intervir. Passamos a ser sequestrados, vítimas indefesas da máquina.

Mas, quanto a uma evolução da vida social e política, a esperança não pode ser alimentada pela observação da generalidade dos jovens que têm crescido no ambiente doentio que lhes foi legado pela geração anterior; temos que esperar que, de entre eles, surja uma elite de «génios» que usem o raciocínio, concluam que muita coisa está errada e que é indispensável regenerar o sistema para que o Homem continue na Terra, e que tenham coragem de organizar e levar a cabo a mudança. A revolução francesa surgiu assim, a independência americana também.

O ideal seria que tudo se conseguisse com as palavras dos filósofos sem violência, mas, provavelmente, terá de haver violência para desalojar os actuais donos da humanidade (políticos, banqueiros, multinacionais e outros capitalistas exploradores que estiveram na origem da actual crise financeira global). Mas a violência por vezes, apesar de sofrimento, traz benefício, porque é sucedida de clarificação e concentração de esforços para objectivos claros. A Alemanha depois de ter ficado destruída pela II GM, foi bem sucedida no rápido trabalho de reconstrução e tornou-se depressa na locomotiva da Europa. Pelo contrário, Portugal, com os seus brandos costumes, não teve violência mas, em vez de reconstrução da Democracia, gerou o PREC cujos maus efeitos ainda se reflectem no caos em que vegetamos. Enfim, irá haver mudanças, sem sabermos quando nem como, mas a esperança em dias melhores para os nossos netos não deve desaparecer!!!

Efectivamente, tudo leva a crer que o mundo irá sofrer profundas alterações que, provavelmente, serão violentas. Há quem preveja que a hegemonia irá deixar de pertencer à América e passar para o Extremo Oriente (China). A Europa que, durante séculos, foi o centro da humanidade, irá perder essa regalia, esmagada por imigrantes, na maior parte vindos do Norte de África onde não há ocupação laboral para a população crescente. Os muçulmanos irão criar agitação com o Ocidente, embora não tenham organização para dominar a civilização, mas o petróleo continuará a dar-lhes alguma força por mais uns anos.

A esperança num futuro melhor é a última coisa a morrer. Mas é preciso alimentá-la. E é isso que estou aqui a fazer, procurando contribuir com a minha quota-parte para uma humanidade mais feliz e próspera, apesar das infantilidades de políticos sem formação ética.

A. João Soares

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