domingo, 16 de agosto de 2009

Cavaco Silva em permanente tabu. 060827

(Enviada aos jornais em 27 de Agosto de 2006)

Em tarde soalheira, numa mesa do largo, à sombra das tileiras, quatro amigos manuseavam as cartas para matar o tempo e iam expelindo os desabafos de idosos cansados da vida mas esclarecidos. Às tantas, o Tóino saiu-se que o Cavaco o desilude com as suas constantes hesitações e alusões a prudência, com chamadas de atenção sobre as leis que promulga, o que faz com que se duvide da obrigação de os cidadãos as respeitarem quando o seu promulgador tem reservas sobre a sua validade, etc. Diz que tinha decidido nunca mais votar por os políticos serem todos iguais, com muitas promessas, poucas realizações e muitas prebendas para eles e seus amigos, mas fez uma excepção para votar nele, por os outros candidatos não o convencerem.

O Chico não tardou a resposta, dizendo que não se sente desiludido, porque nunca o achou uma pessoa segura e sincera, parecendo aquele polícia que dizia «não me comprometa». Recordava que ele subiu a líder do partido, não por querer, mas pelo acaso de ter ido fazer a rodagem do carro à Figueira da Foz, onde por acaso havia um Congresso do partido e os participantes por acaso o terem convencido a aceitar o lugar. Depois veio a frase de «vender gato por lebre» que deu tanto prejuízo a muita gente, vieram os tabus, a afirmação de que não lia jornais e a utilização do bolo, que por acaso ali tinha à mão, para fechar a boca e não cair na tentação de responder às perguntas dos jornalistas. Com a sua habitual prudência, andou afastado da política partidária, com alguns intervalos para fazer prova de vida, prolongando o tabu quanto a eventual corrida a Belém, até que decidiu submeter-se aos apelos de amigos. Já no cargo de Supremo Magistrado da Nação, é aquilo que o Tóino disse e que não surpreende, porque está em conformidade com o passado. Mesmo agora, em relação à hipótese de envio de militares para o Líbano, disse que pretende agir com prudência, como se as outras decisões não exijam prudência.

O Zé, com a sua conhecida cautela e contemporização, tentou explicar que o chefe máximo de todos nós é uma pessoa simples, competente e muito prudente, procurando evitar que a história venha a referir-se a ele com críticas que não agradem aos seus descendentes. Por isso, procura evitar «aventuras» e manter-se bem com Deus e com o Diabo, e não desagradar nem a gregos nem a troianos, chegando a esquecer que, às vezes, a prudência se confunde com medo e leva à indecisão de que o povo pode não gostar. A continuar assim, poderá estar a arriscar ser reeleito para segundo mandato e a originar uma má classificação pela história.

O Fernando, que não é homem de muitas palavras e prefere ouvir a falar, ia abanando a cabeça a concordar com os colegas de ócio. Mas o abano de cabeça foi mais aprovador quando ouviu as últimas palavras do Zé, talvez com receio de que elas sejam um prenúncio desagradável para o partido de que é aficcionado.

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