(Publicada no Público em 8 de Maio de 2006, p. 5)
A minha credulidade é ocasionalmente origem de situações inexplicáveis. Neste momento custa-me acreditar numa notícia que encontrei nos jornais. É inacreditável que na lista de assinaturas apresentada pela candidatura de um militante de um partido com vocação a ser governo tivesse, entre 800 novas assinaturas de militantes, algumas dezenas falsas, uma de militante já falecido e outra de militante que declarara na ficha de inscrição que não sabe assinar. O candidato a líder do partido, se fosse eleito, viria a ser, a breve prazo, candidato a primeiro-ministro. É inacreditável que isto aconteça com gente que era suposto ser séria. Na minha habitual boa-fé, não me custa admitir que o beneficiário dessa ilegalidade não conhecesse a «falcatrua» dos seus «amigos» que certamente a cometeram com intenção de prejudicar o outro candidato, mas que acabaram por enredar numa situação incrível o amigo. Com amigos destes não precisa de ter inimigos.
No meio desta espantosa desonestidade, aparece um facto digno de elogio, mesmo que tenha sido fruto de uma circunstância casual, o de o Conselho de Jurisdição ter detectado a fraude, através de um exame cuidadoso das assinaturas.
Perante casos como este, quem deve estar chocado é o ex-Presidente da República Jorge Sampaio que mostrou empenho em acabar com a campanha anti-política. Talvez ele pensasse que essa campanha era fruto de animosidade de cidadãos comuns, mas na realidade quem alimenta a fogueira da anti-política são os próprios políticos que, na sua ânsia de poder, na sua ambição desmedida, não olham a meios e cometem baixezas que não dignificam nada nem ninguém. Já se ouve dizer que temos maus políticos porque as pessoas de valor não querem ver o seu nome misturado com o daqueles. E, de forma mais acutilante, há quem diga que, salvo raras excepções, Portugal não é um País de gente séria, a começar por muitos políticos. Podemos não alinhar nestas maledicências, mas o certo é que não é fácil encontrar argumentos para as rebater. Os factos falam por si.
CONCORRÊNCIA DESLEAL
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