(Publicada no Destak em 21 de Julho de 2006, p. 10)
Nós portugueses andamos muito carentes de optimismo e auto-estima. Já nada nos revigora, nem o quarto lugar no mundial de futebol que, para muitos, por não ser o primeiro, constituiu uma desilusão. Mas o optimismo não se recupera com falsidades ou suposições logo desmentidas, ou não confirmadas, pela realidade.
Com uma riqueza nacional que numa década cresceu apenas 0,8%, não é por aí que se gera optimismo. Com estes valores, só podemos caminhar para o pior refugo dos países. Para nos aproximarmos dos melhores, precisamos de taxas de desenvolvimento muito superiores às deles, sem o que a generalidade da população viverá cada vez pior do que a deles. O Banco de Portugal, que devia primar pela verdade e pelo rigor, assumiu indevidamente o papel de propagandista, ao afirmar que no corrente ano o crescimento será de 1,2%, atendendo a que as exportações subirão 8,4%. Isto dava logo vontade de perguntar se os senhores doutores administradores acreditam nisso. Nós não acreditamos nos 8,4% por não vermos os fundamentos reais de um tal cálculo. Porém, a pergunta não foi necessária porque a resposta não tardou. Responsáveis do BP apressaram-se a confessar a sua incredulidade e ausência de convicção, alertando para o elevado nível de incerteza dada a volatilidade das exportações, aos efeitos do preço do petróleo e ás indefinições no sector automóvel, que como é demonstrado pelos casos da GM da Azambuja e a Auto Europa, podem ser factores imprevisíveis e significativos.
E então, assentando estes números propagandísticos em factores subjectivos, com carácter de meras hipóteses, impossíveis de justificar por meios matemáticos, fica-nos uma preocupante dúvida sobre a credibilidade do Banco de Portugal e a sua intenção, já há ano e meio abalada com as sucessivas previsões do défice com aproximação às milésimas. Há quem diga que se trata de uma atitude de gratidão ao Governo por ter reconduzido o actual presidente. Custa-me a crer em tal venalidade, mas não vejo uma explicação aceitável, tendo o próprio ministro das Finanças alertado para o cuidado a ter na interpretação daquelas previsões. Será que este tem receio de os portugueses começarem a exigir o desapertar dos cintos?
O regresso de Seguro
Há 36 minutos
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