(Publicada no Público em 24 de Abril de 2006, p. 4)
Quem está por fora da informação especializada mas procura estar atento às notícias do Mundo, chega à conclusão de que a ONU é uma ilusão desde a sua criação. Com efeito, nem as nações estão unidas nem estão organizadas. É certo que, em variados aspectos, tem conseguido um consenso positivo para melhor convivência geral. Mas, em grandes questões, de enorme visibilidade, a sua eficácia tem sido praticamente nula. Não existe uma autoridade reconhecida por todos, no mínimo para levar as partes desavindas ao diálogo e à negociação, e as suas decisões são quase sempre letra morta, sendo o mau exemplo dado muitas vezes pelos maiores estados, aqueles que deviam ter mais peso moral na resolução dos problemas mais graves. A ONU fracassou totalmente em casos em que o seu empenhamento foi ao ponto de fixar prazos como na Caxemira e no Sara Ocidental. Outros casos foram ignorados para não hostilizar grandes potências, como o Cáucaso, o Médio Oriente ou os Balcãs, ou foram deixados ao livre arbítrio da potência dominante como o Kosovo, o Afeganistão e o Iraque.
Os combates á pobreza, à poluição (Quuioto9, às desigualdades sociais, o apoio a refugiados, imigrantes, etc. não tiveram o êxito desejado. Nada foi conseguido para evitar que a globalização viesse traduzir-se no mais rápido enriquecimento das empresas multinacionais. Não conseguiram evitar que diversos países viessem integrar o clube nuclear, mas no entanto estão agora a tentar impor-se ao Irão, de uma maneira que irá resultar em mais um fracasso das eventuais sanções económicas. E uma questão voltará a ser apreciada de forma negativa, a da constituição do Conselho de Segurança e dos membros permanentes que o são por uma razão que, por ter mais de seis décadas, poucos compreendem que ainda esteja e vigor. Parece quem se opõe à energia nuclear no Irão são países que já possuem armas nucleares. Quem lhes deu autorização para isso? Por que razão eles podem e o Irão não?
Como tudo aquilo que tem início acaba por ter um fim, pergunta-se quando será extinta a ONU? E depois que organização aparecerá para fazer aquilo que está por fazer? E os Estados estarão disponíveis para acatar orientações de uma qualquer autoridade mundial? Certamente, nem os mais ricos, porque o são, nem os mais pobres por preconceito e receio de serem colonizados e explorados. Enfim, estamos perante um futuro incerto de cujo véu o caso do Irão vai levantar uma pontinha.
Sócrates de novo
Há 1 hora
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