Publicado no blogue Do Mirante em 20 de Janeiro de 2007
A actual visita de Sua Santidade o Papa à Turquia vem ocasionar o reacendimento das discussões sobre conflitos entre religiões e guerra de civilizações, conceitos recusados por muitos pensadores que entram em pormenores minuciosos que desviam os esses desentendimentos para aspectos conjunturais e localizados. E há quem distinga religião de civilização, como realidades distintas e independentes. No entanto, é muito difícil falar de civilização e de religião em separado, porque há interacções, relações de causa e efeito, em que não se pode isolar uma da outra. As altas autoridades eclesiásticas reiteram a afirmação de que a civilização europeia tem raiz religiosa, cristã, o que faz recordar o Poder que o Vaticano tinha sobre os reinados europeus, cobrando as maquias e exercendo o papel de ‘tribunal internacional’, resolvendo pacificamente atritos entre estados. Presentemente, há em muito casos, separação entre o Estado e a religião. Mas, mesmo nos estados ditos laicos, a religião está sempre presente, porque cada cidadão está, mesmo que minimamente, vinculado aos princípios religiosos que o definem e segue as sugestões e conselhos do seu orientador espiritual. Isto é muito mais acentuado em civilizações em que predomina o Islão, por nelas não haver uma separação entre os aspectos espirituais e os temporais da vida.Por outro lado, também é discutível a expressão de guerra de civilizações. Civilização deve ser considerada como um conjunto de valores positivos que elevam as pessoas para o ideal. Ser civilizado é uma condição que evidencia elevação. E o uso de tal conceito prejudica as intenções louváveis de conciliar o Mundo e de criar um ambiente de harmonia, cooperação e equidade. Mas não tenho tanta hesitação em aceitar uma guerra de tradições, em qualquer parte do mundo, mesmo dentro dos estados e em pequenas colectividades, por a tradição ser emperrante da máquina da evolução para soluções melhores e mais adequadas aos tempos presentes.Por outro lado, o conceito tradicional de guerra, leva-nos, hoje, a colocar de lado os motivos espirituais e filosóficos e a verificar que aquilo que constitui a motivação para a guerra é, fundamentalmente, a economia, o mercado de matérias primas e o de colocação dos produtos acabados, com as manobras de pressão que controlam o comércio internacional. Uma rápida observação dos conflitos ocorridos nas última décadas conduzem-nos a essa conclusão.
NOTA: O livro intitulado «Guerra de civilizações» levantou polémica, embora continue muita gente a seguir este conceito, mas, realmente, ele não contribui para pacificar as relações muito tensas entre o chamado «mundo islâmico e o denominado «mundo ocidental». Seria mais suave utilizar a ideia de comunidade internacional e tratar os casos concretos como conflitos pontuais de interesses. Só que esses interesses são em muitos casos inconciliáveis, devido a tradições muito arreigadas onde a religião é utilizada como pretexto e apoio, embora de forma errada. Este é um dos inconvenientes das religiões - o seu mau aproveitamento por fanáticos no sentido da agressividade e exclusão dos não crentes em vez de procurar seduzi-los com a beleza dos mandamentos.É um tema que dá muito motivo para reflexão.
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