quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Corrupção. A ponta do iceberg

Publicado em 25 de Janeiro de 2007 em Do Miradouro

Poucos minutos após as treze horas de hoje, 25, em frente aos Paços do Concelho de Lisboa, encontrava-se grande quantidade de carrinhas com antenas parabólicas e, mais próximo das portas da Câmara, havia várias máquinas de vídeo devidamente montadas em tripés, com os seus operadores atrás. Saltou-me ao espírito aquela velha frase de que «os jornalistas são como as moscas, quando lhes cheira a m..., são mais do que as mães».

Mas já não é apenas uma questão de cheiro, pois segundo as notícias, a porcaria já é bem visível e os principais visados já estão a abandonar o local (a cadeira) do crime. Parece que a corrupção, esse cancro da sociedade, aliado ao abuso do poder, e ambos proporcionados e apoiados por uma burocracia paralisante, constituem, talvez, o maior inimigo de um País em que a ética e o civismo primam pela ausência ou por um cinzentismo tímido e excepcional, com vergonha de se manifestar, sendo ultrapassados pela ganância de dinheiro e de sinais de opulência e ostentação.

Em quantas câmaras, em maior ou menor grau, haverá casos semelhantes aos detectados em Lisboa? A pergunta talvez devesse ser formulada adoptando um outro prisma: quantos autarcas estão inteiramente resguardados deste labéu? Quantos já foram indiciados e o processo morreu por «falta de provas» ou por prescrever ou por...?

Curiosamente, em simultâneo com estas notícias foi ontem abordado de passagem, na AR, a corrupção e a recusa das propostas de Cravinho para a luta contra o enriquecimento ilegítimo e a corrupção, por conterem «asneiras». Mas quem recusou e fala em «asneiras» estará a preparar legislação mais perfeita e eficaz para combater esses cancros sociais, para fazer face a esta emergência nacional, para criar, regras de transparência viáveis? Ou considera que a maior asneira é visar tais objectivos e o mais correcto será não tocar no assunto e deixar que tudo continue como dantes (quartel em Abrantes!)?

Isto traz à memória um julgamento de crime de tráfico de droga que foi anulado por as provas terem sido obtidas por meio de escutas consideradas ilegais. Mas o crime existiu e, dessa forma, ficou impune. Ironias da vida real. O que interessa não é o crime, nem as provas, mas apenas a forma como estas foram obtidas!!! Lembra a forma como as notícias são redigidas «foi autuado por ser detectado em contravenção» não por ter infringido a lei. O crime é ser detectado!

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