(Publicada no Correio da Manhã em 27 de Maio de 2006, pág.16)
Parafraseando um poeta clássico português, apetece perguntar: E o interior, senhor? Porque padece assim? Porque lhe dais tanta dor?
A questão é clara ao olhar, mas muito confusa ao entendimento. Por um lado, todos os políticos afirmam que os portugueses são todos iguais e todas as regiões devem beneficiar equitativamente da evolução tecnológica e do desenvolvimento. Mas a realidade, a triste realidade, está totalmente no lado oposto. No interior fecham-se maternidades, escolas e urgências nos centros de saúde, o que produz um agravamento da desertificação e do despovoamento que é afirmado ter de ser combatido.
Em contrapartida, a estreita faixa do litoral que num país já bastante esguio, no formato de rectângulo 2X5, está a beneficiar, reiteradamente das maiores vantagens, desde as universidades até aos estádios do euro 2004. Essa faixa vai de Setúbal a Viana e tem um clone no Algarve. O resto é zero em benefícios do poder central. Os contrastes sobressaem a cada passo, como, por exemplo, em oposição às restrições impostas às populações do interior, as cidades de Lisboa e Porto beneficiam e vão beneficiar de óptimas comunicações que se «resumem» a duas vias férreas, a normal e a do TGV; duas auto-estradas paralelas, a A1 e a A8-IC1; e ligação aérea. Tudo isto em dimensão superior à procura, segundo os entendidos.
É certo que nessa estreita faixa se encontra a maior parte da economia nacional e a maioria dos eleitores, tendo já alguém dito que as campanhas eleitorais deviam restringir-se a essa área porque os gastos na parte restante do país não são rentáveis. Havendo este desequilíbrio nas atenções prestadas ás duas partes do país, não é séria e honesta a propaganda a favor do futuro combate à desertificação e da igualdade de todas as regiões e de todos os portugueses. E há que tomar em consideração, também, que a prevenção dos fogos florestais, só é eficiente se houver população no interior profundo, a tal a que foram retirados apoios a crianças (maternidades e escolas) e a idosos (urgências nos centros de saúde). Os cálculos económicos e financeiros podem fazer concluir da desnecessidade de tanta maternidade, mas, nesse caso, seria mais coerente com o apoio ao interior que as grávidas se dirigissem para Leste para ter os partos e não se aproximassem do litoral, equipando e guarnecendo melhor de especialistas maternidades, por exemplo, em Moura, Niza, Penamacor e Freixo de Espada à Cinta. Se esta linha geral não for seguida, deixa de haver moral para falar em combate à desertificação.
Sócrates de novo
Há 53 minutos
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