(Publicada no Diário de Notícias em 14 de Janeiro de 2006)
Após vários dias sem acompanhar os acontecimentos, deparei com a afirmação de um governante de que daqui a dez anos não haverá dinheiro para pagar pensões. Duvidei da minha capacidade auditiva e de interpretação do que ouvia, mas cedo veio a repetição. A minha dúvida era justificada, pois não era previsível um ministro dizer tal coisa. Com efeito, ele jurou publicamente desempenhar com lealdade as funções que lhe são confiadas e nessas funções, não consta lançar o pânico, o desespero, a desconfiança no espírito dos portugueses, com técnicas de guerra psicológica ou de terrorismo, empurrando-os para a emigração maciça ou para o suicídio colectivo em águas do Atlântico.
Expresso-me utilizando o título que me é conferido pelo cartão de eleitor que muito prezo e pela Constituição, desconhecendo se há razões técnicas para o ministro pensar tais coisas, mas dizê-lo representa insensatez e falta de sentido de Estado. Nós, simples eleitores, esperamos legitimamente que os governantes governem com seriedade para evitar que tais catástrofes possam ocorrer e detestamos que governantes confessem a sua incapacidade para isso e não se afastem do Governo ou não sejam afastados e substituídos por quem seja capaz de defender os cidadãos dos efeitos de más decisões.
Porém, deixo aqui uma réstia de esperança deduzida das notícias vindas a público recentemente, as quais evidenciam haver muito dinheiro para pensões, como tem acontecido com as dos ex-ministros das finanças, as do ministro das obras públicas, a de Mira Amaral e de tantos outros políticos que têm passado de tacho em tacho, sempre somando grossas remunerações cozinhadas em lume rápido. Além de termos interesse em que os políticos resolvam com eficiência os problemas do país (não são os dos políticos !), gostaríamos que nos fosse explicado de forma simples e honesta (por técnicos competentes e apartidários) o estado em que se encontram os problemas que nos afligem, nomeadamente onde está o dinheiro que foi descontado durante a vida activa. O bom senso e o sentido de Estado não devem ser ocultados por argumentos tecnicistas.
DELITO há dez anos
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