sábado, 15 de agosto de 2009

Islâmicos defendem os seus valores. 060206

(Publicada no Metro em 6 de Fevereiro de 2006)

A reacção dos islâmicos à profanação da imagem do Profeta suscita reflexões de grande amplitude. Em primeiro lugar, a profanação através da caricatura de uma divindade, sagrada para os seus crentes, constitui grave falta de respeito moralmente condenável. Ela deixa transparecer que o Ocidente, sob a capa da democracia de que se orgulha, alimenta a anarquia caótica, não respeitando nada nem ninguém quer no âmbito interno dos Estados quer no âmbito internacional. Isso tem sido bem visível no nosso País com o desrespeito havido em relação à Bandeira Nacional, a pretexto do Euro 2004, passando a ser vista a forrar assentos de motorizadas e automóveis ou a servir de pano de pó, e, mais recentemente, o Hino Nacional a servir de música de fundo num anúncio comercial de uma empresa de negócios, à busca de maior lucro. E, degradado pela ausência de valores, o Ocidente além de se desprezar a si próprio, a sua cultura, a sua história, os seus símbolos e os valores da sua civilização, nem repara que o seu desprezo por outras culturas e civilizações arrisca a ofendê-las gravemente, originando crises que podem assumir consequências imprevisíveis. Realmente, quem não sabe respeitar os seus valores ou os não tem, não pode respeitar os dos outros.

Em segundo lugar, a reacção islâmica, justa quanto às causas, foi exagerada no formato, por ser espontânea, emotiva, sentida por cada elemento da população, fazendo estalar toda a contenção armazenada contra o Ocidente que a despreza, a ignora e a reprime com bombardeamentos e ocupação. Quando se chega a este ponto, o diálogo e o relacionamento harmónico tornam-se difíceis e as ofensas mútuas como a queima de bandeiras nacionais e a destruição de edifícios consulares são quase inevitáveis.

Sem conhecimento dos outros, compreensão e aceitação das diferenças, não pode haver convivência internacional e diálogo. Mesmo os grandes areópagos internacionais, como a ONU, devido ao medo e à desconfiança dos seus participantes, não abrigam mais do que diálogos de surdos sempre inconclusos e ineficazes. E, além das autoridades dos países, a comunicação social prestará um bom serviço à Paz mundial se, em vez de acirrar os ânimos, procure acalmá-los e desenvolver a compreensão mútua. Melhor do que remediar incidentes, será evitá-los, através de comportamentos verdadeiramente democráticos e cívicos.

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