(Enviada aos jornais em 12 de Agosto de 2006)
Passaram recentemente 17 anos após o massacre na praça Tianmen, em Pequim, e a lição não foi bem digerida pelos dirigentes político do mundo ocidental. Após dois meses de manifestações de estudantes e intelectuais, com repressão pelas polícias, foi decretado o «recolher obrigatório» que não fez desistir os descontentes, acabando por os polícias usarem de extrema violência naquela importante praça. Tal violência, mal recebida pelo mundo, seria impensável num regime democrático ocidental. Mas já não se pode dizer o mesmo da possibilidades manifestações de descontentes de forma ostensiva e visível pelo mundo.
No nosso País, o povo está a habituar-se a não ficar calado e a expor de forma bastante expressiva o seu descontentamento, a sua indignação. Hoje são as bandeiras negras nas janelas, na sede do município e nos mastros da via pública, em Mirandela. Há mais de um mês, foram os apupos, em Barcelos, ao Secretário de Estado da tutela do combate aos fogos florestais, por o apoio aéreo ter demorado mais de dois dias quando tinha sido prometido num prazo de 15 minutos após o alerta. Há um ano, foi em Canas de Senhorim com tal intensidade que o PR de então, Jorge Sampaio, fez uma visita a Nelas de forma discreta, encolhido, às escondidas, com surpresa para a própria presidenta do município. Também na exposição agrícola Ovibeja não foi consentida a presença do ministro da Agricultura. Mas não foram apenas estes factos a contribuir para o esboço da força democrática que move o povo mais descontente. Não têm faltado manifestações de polícias, de juízes, de familiares de militares, etc.
Sendo o povo «quem mais ordena», como diz a canção, e segundo a palavras da Constituição: a soberania reside na Nação, esta começa a mostrar que está ciente da sua força, não temendo arriscar-se como fizeram os heróis de Tianmen. Se ocorrer uma grande manifestação daquele género, como irá reagir o Governo? A principal medida, como aconselha o bom senso será prevenir situações de conflito, dialogando com os populares, indo ao encontro das suas legítimas aspirações e interesses, não esquecendo que, como mostram as notícias, está generalizado o culto da violência e a falta de respeito pelas vidas humanas e pelas autoridades, o que pode facilmente conduzir a situações dramáticas. Os governantes devem assumir-se como defensores dos interesses colectivos, governando para o povo e com o povo e não contra o povo. Há que evitar uma Tianmen à portuguesa.
Sócrates de novo
Há 1 hora
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