domingo, 16 de agosto de 2009

Faz que anda, mas não anda. 060822

(Publicada em O Diabo em 22 de Agosto de 2006, p. 22)

O Mundo é o que é porque o homem faz que o melhora mas continua na mesma e, em certos aspectos, piora. Como receptores de notícias e de informação de diversas origens, podemos ser tentados emotivamente a crises de optimismo ou de pessimismo consoante aquilo que os ventos nos trazem e o seu atrito com as nossas convicções. Para não afectarmos o nosso equilíbrio psíquico, convém não nos aquecermos demais por aspectos aparentemente bons ou maus. Nem sempre é fácil perscrutar para além das aparências e podemos cair no embuste da ilusão. Por exemplo, na manhã de 14 de Agosto, sensibilizou-me a notícia de que o Governo do Sri Lanka e os Tigres Tamil decidem dialogar. Coisa agradável de saber e só é de lamentar não ter ocorrido logo no início da rebelião e 1972. Mas um pouco depois, folheando outro jornal vi que os Tamil negaram ter havido qualquer proposta naquele sentido. E à noite ouvi na TV que um bombardeamento das forças governamentais causou a morte a 60 crianças na área controlada pelos Tamil. Já por várias vezes chegaram a um acordo, com o apoio de um país escandinavo, mas a Presidenta, Chandrika Bandaranaike Kumaratunga, ao contrário de governantes anteriores, endureceu a sua posição, não querendo ceder um milímetro e continuaram a morrer pessoas e a ser destruídos haveres valiosos.

Isto de diálogo e negociações não é fácil porque pressupõe que as partes em conflito estejam predispostas a fazer cedências para chegarem a um ponto em que haja, para cada um, o mínimo de inconvenientes, com vista que o país, na sua globalidade, obtenha o máximo de vantagens. Teoricamente, assim devia ser, mas cada uma das partes tem a sua ambição os seus interesses específicos e pessoais e não quer perder uma unha do espaço em que se espraia a sua vaidade, sendo indiferente ao sofrimento que a situação provoca no povo. Cada um quer impor a sua posição ao outro sem nada ceder, o que impede qualquer ponto de acordo. Os políticos encaram o povo como os futebolistas encaram o relvado dos estádios, podendo ser pisado, sem merecer a mínima atenção por esta ser toda dirigida para a baliza e as manobras que levarão ao objectivo, o golo. Isto é geral e a ilha da Taprobana, referida por Camões nos Lusíadas, mais tarde chamada Ceilão, tendo recebido o nome actual em 1972, não foge à regra. A Presidente Kumaratunga, não quer ceder a independência do Nordeste, para não ficar à frente de um país mais pequeno! Com essa ambição apoiada por um autoritarismo sem igual, que a levou a ser «eleita» para continuar a «dinastia» começada pelo pai, não podemos esperar uma solução pacífica e dialogada entre o Governo e os Tigres Tamil, continuando a haver uma alternância entre promessas de negociação e reacender da violência de parte a parte, com os graves inconvenientes para a população, que tudo sofre. Faz que anda, mas não anda!

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