(Publicada no Destak em 2 de Fevereiro de 2006)
Os políticos do mundo ocidental estão seriamente preocupados com o facto de o Irão pretender produzir energia eléctrica a partir de reactores nucleares, coisa já muito em voga em países que agora se sentem em perigo com esta pretensa modernidade do Irão.
Embora muitos ocidentais o ignorem, o Irão não é um país de origem recente, pois trata-se da antiga Pérsia, tendo p Império Persa sido fundado em 539 a.C. por Ciro, o Grande, como era ensinado no início da disciplina de História nos liceus de outrora. Durante 26 séculos passou por altos e baixos, mas mantendo sempre uma importância notável no Médio Oriente e na Ásia do Sul, quer pela maturidade dos seus governantes, quer pelas preocupações sociais, apesar da carência de recursos, quer pela sua localização estratégica. Esta originou a disputa colonizadora entre Ingleses e russos que acabaram por dividi-lo em duas áreas de influência em 1906. Os ingleses iniciaram a exploração de petróleo em 1908. Em 1931, na sequência de golpe de Estado, liderado pelo general Reza Khan, foi derrubado o último sultão da dinastia Kajar e, em 1936, aquele general coroou-se Xá. Em 1935, mudou o nome do país para Irão e começou a delinear o sonho de o país se tornar, no início do século XXI , a 5ª ou 6ª potência mundial.
O previsível esgotamento das reservas de petróleo a curto ou médio prazo poderá justificar a transição para a energia nuclear, a fim de alimentar a economia e, e particular, as indústrias vitais do país. Mas também pode estar presente a intenção de continuação da ideia do Xá de impor o país como potência regional e mundial. Porque não? Se já há tantos países com armamento nuclear que mal faz haver mais um? Certamente que o mundo ficará um pouco mais perigoso. Mas então, perguntamos: porque não abolir todas – absolutamente todas – as armas nucleares existentes? Quando se fala em democracia e em assembleia Geral da ONU, porque continuar a alimentar a discriminação entre Estados que têm direitos para tudo e outros que não têm qualquer direito?
Espero que estas reflexões não sejam mal interpretadas, pois apenas gostaria de ver os Estados respeitarem-se mutuamente, evitarem actos violentos e de domínio e utilizarem a diplomacia com vista a criar um mundo mais harmonioso e cooperante no sentido de o relacionamento pacífico garantir uma vida mais cómoda, desafogada e feliz para qualquer ser humano à superfície da Terra. Não devemos alimentar as ideias colonialistas que assentem na ideia de que as sociedades mais antigas são menos inteligentes e capazes e só as mais recentes são detentoras únicas da verdade. As crises entre os Estados tal como entre as pessoas, têm origem no sentimento de medo e insegurança. Para o evitar, é útil o diálogo e a negociação, quando muito com arreganhar de dentes, mas neste caso, já é conveniente a ajuda de um mediador, para evitar o uso da violência que apenas destrói haveres e mata pessoas.
Parece que o principal objectivo da ONU, da UE, dos EUA, da Rússia e da China devia ser o desenvolvimento de acções diplomáticas que conduzissem a um relacionamento mais transparente e franco, colaborando para a paz, evitando qualquer gesto hostil face aos outros. Recordando os exemplos recentes da Somália, do Afeganistão, do Iraque, de Kosovo, conclui-se que a guerra só causa destruições, agravando a situação das populações, e só é conseguido algo de positivo, nas negociações que se lhe seguem. Pergunto: porque não se tenta negociações antes, em vez dos bombardeamentos? Porque não se opta pela reconstrução da confiança como no caso da Líbia, como medida de evitar crises?
Mil dias
Há 50 minutos
Sem comentários:
Enviar um comentário