domingo, 28 de fevereiro de 2010

Portugal doente espera terapêutica

Em medicina, o médico interroga o doente sobre as suas queixas, observa-o, recorre a exames mais complexos se houver motivo para isso, a fim de elaborar o diagnóstico correcto para depois aplicar a terapêutica mais adequada ao problema. Sem isso não pode ser esperada cura.

Este esquema de preparar as soluções para os problemas, esboçado no post Pensar antes de decidir, é aplicável a todas as actividades, com os respectivos ajustamentos de pormenor. Entre os militares, de cujas decisões pode resultar a vitória ou a derrota, com o respectivo número de baixas, isso chama-se «estudo da situação» que termina com a proposta de decisão depois da análise das modalidades de acção e da escolha da melhor. Após a tomada de decisão, há o planeamento com a definição das tarefas para os respectivos executantes, e a programação a horário das diversas fases, seguindo-se o controlo da execução e a «conduta» com os convenientes ajustamentos.

Mas, os políticos nada sabem de médicos, nem de militares, nem de engenheiros, nem de empreiteiros. Portugal está doente, há muitas achegas de comentadores e outros cidadãos para a elaboração do diagnóstico, mas os que estão em cargos de decisão não sabem do que se trata, ou procuram ignorar, mascarando tudo com fogachos à margem do problema, aparecendo na TV a todo o momento para lançar fumaça e não verem nem deixarem que se veja o problema real, o tema que espera decisões urgentes e acertadas.

Sem diagnóstico rigoroso e correcto não pode esperar-se uma terapia adequada e, dessa forma, Portugal continua sem cura, o que representa um agravamento da doença e o caminho acelerado para o termo da existência.

Estas reflexões, que são a repetição daquilo que aqui tem sido exposto por várias vezes, surgem agora por ter encontrado num cantinho do Jornal de Notícias on-line os seguintes artigos de opinião, cada um com abordagem diferente, mas todos com um ponto comum de muito patriotismo, por mostrarem o interesse de ver Portugal ressurgir e passar a ser melhor governado para o seu desenvolvimento e a qualidade de vida dos portugueses. Todos mostram a urgência de se iniciar uma terapia eficaz, na Justiça, na Administração pública, na Educação, no Emprego, na Segurança, na cultura do civismo, da verdade, da honestidade, do respeito pelos cidadãos, etc. Há palavras que, por pudor, não são ditas mas que ficam bem subentendidas na interpretação dos textos.

Aconselho a leitura cuidada, vagarosa dos seguintes textos:

- Desacreditar
http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Jos%E9%20Leite%20Pereira
JN. 100228. 01h57m. José Leite Pereira

- "O Monstro"
http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Freitas%20Cruz
JN. 100228. 01h52m. Por António Freitas Cruz

- O estado de direito
http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Ant%F3nio%20Marinho%20Pinto
JN. 100228. 01h56m. A. Marinho Pinto

- Para memória futura
http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=Lu%EDs%20Filipe%20Menezes
JN. 100228. 01h53m. Por Luís Filipe Menezes

Próximo inquilino de Belém ?

Transcrição de post do blogue O Guardião:

Os Candidatos

Neste momento temos pelo menos três candidatos mais que prováveis à próxima eleição para a Presidência da República. Há duas candidaturas assumidas e uma que é anunciada por gente próxima mas ainda não assumida por razões óbvias que se prendem com a função que ocupa presentemente.

Penso que ainda é possível que surja mais alguma candidatura, que pode baralhar ainda mais os eleitores, que mesmo só com estes três já têm muito em que pensar.

Cavaco tem a vantagem da tradição, que nos diz que um presidente que se recandidata tem quase garantida a reeleição, mas no seu caso tem como factores negativos o facto de a direita estar em minoria nesta ocasião, e de neste mandato a situação política e económica se ter deteriorado em demasia, sem que ele tenha tomado uma posição inequívoca e firme para inverter a situação.

Alegre estava até há pouco tempo numa situação muito favorável, que lhe garantia os votos de grande parte da esquerda e dos descontentes, contudo não soube ou não quis demarcar-se dos partidos políticos, nomeadamente do PS, ao não tomar uma posição clara sobre o pantanal de suspeições que atingem José Sócrates.

Nobre por seu lado teria a vantagem de não ser um candidato subordinado ao apoio partidário, mas poderá ter contra si o facto de não ter divulgado as suas ideias para o país de um modo claro e inequívoco.

Eu continuo à espera dos desenvolvimentos desta disputa, guardando para mais tarde uma eventual escolha, que naturalmente pode vir a ser também, o voto em branco.

Nota Importante: Neste post só analisei as candidaturas do regime, porque fora dele já existe uma candidatura de peso protagonizada por Sua Majestade D. Pata Negra sobre a qual me debruçarei numa próxima ocasião.

Publicada por O Guardião em O Guardião.

NOTA: A antecedência é grande e pode ter o efeito benéfico de os eleitores poderem informar-se de forma mais completa sobre os projectos e as capacidades de cada candidato, o que permitirá votar com mais segurança, com base em avaliações próprias e ser mais independente das propagandas que sempre procuram condicionar as decisões do voto.
Por outro lado, durante estes meses o povo é afastado da meditação sobre os grandes problemas nacionais, devido à pressão desta «pré-campanha». E dessa forma, deixa de se pensar nos graves problemas da educação, do emprego, da Justiça, da segurança pública, da saúde, das condições sociais dos mais desfavorecidos, etc.
Felicito o Guardião pelo estilo isento e imparcial como abordou esta análise. A referência a sua alteza o Rei dos Leitões, um célebre bloguista, faz esperar a eventualidade de mudança do regime, o que poderá ser conveniente para nos livrar dos vícios e manhas a que temos sido submetidos.

Cascais. Casa das Histórias de Paula Rego

Segundo notícia do Público, a curadora e especialista em História da Arte Helena de Freitas é a nova directora da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais que abriu em18 de Setembro de 2009.

Helena de Freitas assinou hoje um contrato de dois anos com a Fundação Paula Rego, após vários meses de negociações, e passará a ser a directora da Casa das Histórias a partir de 1 de Março.

Helena de Freitas, 51 anos, é licenciada em História, tem um mestrado em História da Arte, e trabalhava como curadora no Centro Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian desde o final dos anos 80.

O museu está instalado num edifício de raiz desenhado pelo arquitecto Souto de Moura, que representou um investimento, por parte da Câmara Municipal de Cascais de cerca de cinco milhões de euros, ao abrigo de um programa de apoio financeiro do Turismo de Portugal.

A Casa das Histórias possui um acervo com cerca de quatro centenas de obras de pintura, desenho e outras peças da pintora portuguesa de 74 anos, radicada em Londres.

Tragédia da Madeira foi prevista há mais de 25 anos

Depois dos post, Tragédia evitável na Madeira??? , Tragédia que faz pensar e Respeitar a Natureza é preciso, o amigo Amaral de Freitas fez o favor de me enviar o seguinte texto escrito pelo Engenheiro Silvicultor Cecílio Gomes da Silva em Lisboa, em 11 de Dezembro de 1984, e publicado no dia 13 de Janeiro de 1985 no jornal "Diário de Notícias" do Funchal. Embora um pouco extenso, vale a pena ler cuidadosamente esta profecia que, infelizmente, não foi devidamente ponderada durante mais de 25 anos, do que resultaram agora tantos prejuízos a em vidas e haveres.

Segundo diz o meu amigo, provavelmente, «este deve ser um dos “abutres” a que ontem se referia o Alberto João na entrevista com a Judite de Sousa…….!!!!»

Eu tive um sonho
Cecílio Gomes da Silva

Traumatizado pelo estado de desertificação das serras do interior da Ilha da Madeira, muito especialmente da região a Norte do Funchal e que constitui as bacias hidrográficas das três ribeiras que confluem para o Funchal, dando-lhe aquela fisiografia de perfeito anfiteatro, aliado a recordações da infância passada junto à margem de uma das mais torrenciais dessas ribeiras - a de Santa Luzia - o mundo dos meus sonhos é frequentemente tomado por pesadelos sempre ligados às enxurradas invernais e infernais dessa ribeira. Tive um sonho.

Adormecendo ao som do vento e da chuva fustigando o arvoredo do exemplar Bairro dos Olivais Sul onde resido, subia a escadaria do Pico das Pedras, sobranceiro ao Funchal. Nuvens negras apareceram a Sudoeste da cidade, fazendo desaparecer o largo e profundo horizonte, ligando o mar ao céu. Acompanhavam-me dois dos meus irmãos - memórias do tempo da Juventude - em que nós, depois do almoço, íamos a pé, subindo a Ribeira de Santa Luzia e trepando até à Alegria por alturas da Fundoa, até ao Pico das Pedras, Esteias e Pico Escalvado. Mas no sonho, a meio da escadaria de lascas de pedra, o vento fez-nos parar, obrigando-nos a agarrarmo-nos a uns pinheiros que ladeavam a pequena levada que corria ao lado da escadaria. Lembro-me que corria água em supetões, devido ao grande declive, como nesses velhos tempos. De repente, tudo escureceu. Cordas de água desabaram sobre toda a paisagem que desaparecia rapidamente à nossa volta. O tempo passava e um ruído ensurdecedor, semelhante a uma trovoada, enchia todo o espaço. Quanto durou, é difícil calcular em sonhos. Repentinamente, como começou, tudo parou; as nuvens dissiparam-se, o vento amainou e a luz voltou. Só o ruído continuava cada vez mais cavo e assustador. Olhei para o Sul e qualquer coisa de terrível, dantesco e caótico se me deparou. A Ribeira de Santa Luzia, a Ribeira de S. João e a Ribeira de João Gomes eram três grandes rios, monstruosamente caudalosos e arrasadores. De onde me encontrava via-os transformarem-se numa só torrente de lama, pedras e detritos de toda a ordem. A Ribeira de Santa Luzia, bloqueada por alturas da Ponte Nova - um elevado monturo de pedras, plantas, arames e toda a ordem de entulho fez de tampão ao reduzido canal formado pelas muralhas da Rua 31 de Janeiro e da Rua 5 de Outubro - galgou para um e outro lado em ondas alterosas vermelho acastanhadas, arrasando todos os quarteirões entre a Rua dos Ferreiros na margem direita e a Rua das Hortas na margem esquerda. As águas efervescentes, engrossando cada vez mais em montanhas de vagas espessas, tudo cobriram até à Sé - único edifício de pé. Toda a velha baixa tinha desaparecido debaixo de um fervedouro de água e lama. A Ribeira de João Gomes quase não saiu do seu leito até alturas do Campo da Barca; aí, porém, chocando com as águas vindas da Ribeira de Santa Luzia, soltou pela margem esquerda formando um vasto leito que ia desaguar no Campo Almirante Reis junto ao Forte de S. Tiago. A Ribeira de S. João, interrompida por alturas da Cabouqueira fez da Rua da Carreira o seu novo leito que, transbordando, tudo arrasou até à Avenida Arriaga. Um tumultuoso lençol espumante de lama ia dos pés do Infante D. Henrique à muralha do Forte de S. Tiago. O mar em fúria disputava a terra com as ribeiras. Recordo-me de ver três ilhas no meio daquele turbilhão imenso: o Palácio de S. Lourenço, A torre da Sé e a fortaleza de S. Tiago. Tudo o mais tinha desaparecido - só água lamacenta em turbilhões devastadores.

Acordei encharcado. Não era água, mas suor. Não consegui voltar a adormecer. Acordado o resto da noite por tremenda insónia, resolvi arborizar toda a serra que forma as bacias dessas ribeiras. Continuei a sonhar, desta vez acordado. Quase materializei a imaginação; via-me por aquelas chapas nuas e erosionadas, com batalhões de homens, mulheres e máquinas, semeando urze e louro, plantando castanheiros, nogueiras, pau-branco e vinháticos; corrigindo as barrocas com pequenas barragens de correcção torrencial, canalizando talvegues, desobstruindo canais. E vi a serra verdejante; a água cristalina deslizar lentamente pelos relvados, saltitando pelos córregos enchendo levadas. Voltei a ouvir os cantares dolentes dos regantes pelos socalcos ubérrimos das vertentes.

Foram dois sonhos. Nenhum deles era real; felizmente para o primeiro; infelizmente para o segundo.


Oxalá que nunca se diga que sou profeta. Mas as condições para a concretização do pesadelo existem em grau mais do que suficiente.

Os grandes aluviões são cíclicos na Madeira. Basta lembrar o da Ribeira da Madalena e mais recentemente o da Ribeira de Machico. Aqui, porém, já não é uma ribeira, mas três, qualquer delas com bacias hidrográficas mais amplas e totalmente desarborizadas. Os canais de dejecção praticamente não existem nestas ribeiras e os cones de dejecção e tão a níveis mais elevados do que a baixa da cidade. As margens estão obstruídas por vegetação e nalguns troços estão cobertas por arames e trepadeiras. Agradável à vista mas preocupante se as águas as atingirem. Estão criadas todas as condições, a montante e a jusante para uma tragédia de dimensões imprevisíveis (só em sonhos).

Não sei como me classificaria Freud se ouvisse este sonho. Apenas posso afirmar sem necessidade de demonstrações matemáticas que 1 mais 1 são 2, com ou sem computador. O que me deprime, porém, é pensar que o segundo sonho é menos provável de acontecer do que o primeiro.

Dei o alarme - pensem nele.

Cecílio Gomes da Silva, engenheiro silvicultor
Lisboa, 11 de Dezembro de 1984

Como controlam tudo!!!

Transcrição do post do blog Sorumbático, seguido de Nota:

É conforme…
Por Joaquim Letria, «24 horas» - 24 Fev 10

O FILHO DUM AMIGO meu não acabou curso nenhum, deram-lhe o nono ano sem saber ler nem escrever, chamaram-no para uma tarefa sigilosa, forneceram-lhe um PC portátil e um e-mailconfidencial, um telemóvel com cartão de pré-pagamento e disseram-lhe que quando lhe encomendassem tarefas, teria de obedecer.

Pode trabalhar em casa, sem horários, recebe em dinheiro e não faz perguntas nem descontos. O rapaz anda feliz. Limita-se a reenviar mails e sms com comentários a artigos e notícias em jornais, e com ameaças aos destinatários que lhe indicam e que, viria ele a descobrir mais tarde, são os autores desses escritos.

Há momentos em que há mais que fazer. Mas nos tempos mortos, fornecem-lhe historietas e anedotas para o rapaz distribuir pelos endereços electrónicos que lhe indicam, desacreditando uns e deixando boas impressões de outros.

À observação de ser um erro não descontar para a segurança social, o filho do meu amigo diz que não é preciso. ”Deram-me um número de telefone e, se precisar de alguma coisa, alguém cuida de mim”.

E se alguém pergunta o que faz na vida? ”Ora, digo que sou informático, ou que trabalho para o Estado, ou que sou consultor do Governo. Depende! É conforme! Mas eu gostava era de estar na equipa que escreve os textos”…

NOTA: Este texto, embora muito interessante, não se enquadra no tipo de reflexões que aqui costumo expressar. Mas, de repente, fez-me lembrar dos comentadores anónimos (não sei se apenas um ou se eram dois!), identificados por nomes fictícios, como ficou explícito no caso do Leandro/Bernardo e que podem ser relidos abrindo os links seguintes Leandro e depois Bernardo e António Lopes. Moços de recados a soldo nos termos do caso referido por Joaquim Letria.

Carreira dos políticos

Já por aqui deixei em vários textos, principalmente comentários, esta ideia, expressa por palavras simples de um cidadão comum, sem o saber e a autoridae de advogado de José Luis Seixas, autor do texto que transcrevo do Destak de hoje. Admito que haja eventuais excepções, mas isso é próprio de todas as regras pois, como diz o ditado, não as há sem elas… Eis como se criam os «boys»:

Bons rapazes
Jornal gratuito Destak, 23 | 02 | 2010 Por José Luís Seixas, Advogado

Duma forma geral, nos países do Primeiro Mundo as lideranças políticas forjam-se em percursos pessoais assinaláveis feitos nas universidades, nas empresas ou nas profissões liberais. Todas exibem currícula suficientes para suportar e legitimar ambições de poder. A política é, pois, a decorrência de uma vida com biografia.

Em Portugal, principalmente a partir dos anos 80, os partidos iniciaram um processo de insaciável tentacularidade que ainda hoje persiste. Assumiram estruturações organizacionais herméticas e através delas tentaram absorver as pulsões sociais e secar a cidadania.

Potenciaram o “carreirismo”, servido por jovens com itinerários iniciáticos feitos nas organizações de juventude e que, por decorrência de uma militância alinhada e acrítica, se viram catapultados a Câmaras, ao Parlamento, ao Governo e ao sector empresarial do Estado.

A legitimidade brandida não radicava na formação, na competência ou na experiência de vida, mas em trajectos partidocráticos feitos de cumplicidades, de compromissos e de engajamentos. Hoje este paradigma de progressão individual na política transformou-se em estilo e em forma de vida que atravessa horizontalmente toda a denominada “classe dirigente”. Ora, com estes “bons rapazes” difícil será a reforma dos partidos e do sistema político.

Apesar de dramaticamente urgente. Mas o instinto de preservação da espécie é uma característica do mundo animal. E do mundo político também.

Limpar Portugal

Transcrição:

Executive Digest, Terça-feira, Fevereiro 23, 2010
As cidades de Guimarães e de Santa Maria da Feira acolheram, nas manhãs de 13 e 16 deste mês, respectivamente, as limpezas-piloto do projecto “Limpar Portugal”, onde mais de 50 voluntários removeram quase 20 toneladas de lixo depositado em espaços verdes.

Só em Guimarães, no monte Aldão, foram removidas e submetidas a triagem 16 toneladas de lixo com a ajuda de uma retroescavadora, um camião compactador e dois camiões pesados de caixa aberta disponibilizados pela Câmara Municipal.

Nesta acção experimental participaram mais de 30 voluntários, entre os quais esteve a Presidente de Junta de Freguesia de Aldão, Conceição Castro.

O Concelho de Guimarães já possui 360 voluntários registados no portal do”Limpar Portugal”, os quais querem ajudar a limpar as áreas florestais no próximo dia 20 de Março.

Para a coordenação concelhia da iniciativa este número deverá aumentar exponencialmente no grande dia, sendo esperadas cerca de 5 mil pessoas dispostas a contribuir para a remoção do lixo no concelho.

Em Santa Maria da Feira, cerca de 20 voluntários ajudaram a tratar uma lixeira de média dimensão no dia de Carnaval, conseguindo remover 3,5 toneladas de diversos tipos de lixo, separados no local, em cerca de 4 horas.

“Estes ensaios vêm afinar o planeamento logístico e a orientação do trabalho voluntário de cidadãos que irão varrer a paisagem e a floresta portuguesa de lixeiras ilegais no grande “Dia da Limpeza”, refere Paulo Pimentel Torres, da coordenação nacional da iniciativa.

O Projecto Limpar Portugal nasceu da iniciativa de três amigos, que constituíram um movimento cívico que pretende, através da participação voluntária de particulares e entidades públicas, remover todo o lixo depositado ilegalmente nos espaços verdes nacionais no próximo dia 20 de Março.

A um mês do dia “L”, o projecto conta já com 30 mil cidadãos voluntários, para além do Governo, da Igreja católica e de várias escolas, universidades, grupos de escuteiros e autarquias, entre outras instituições públicas e privadas.

Para mais informações e fotografias: www.limparportugal.org

NOTA: O bom povo português está consciente da necessidade de preservar o ambiente, de respeitar a Natureza, e propõe-se activamente corrigir ERROS COMETIDOS
NEGLIGENTEMENTE E IMPUNEMENTE PELOS AUTARCAS INCOMPETENTES.

Tragédia que faz pensar

Perante as notícias e as imagens da tragédia provocada pela pluviosidade excessiva da Madeira, mais acentuada no Funchal, surgiram comentários extremados: ou apenas olhando para os estragos de vidas e haveres ou colocando a tónica nos cuidados preventivos considerados insuficientes. Mas, como «no meio é que está a virtude», parece que o mais importante para a vida real é retirar conclusões, lições, a aplicar na prevenção.

Neste caso, além do falado radar que permita prever a chegada do mau tempo, há que ter presente que a ameaça é a Natureza, não se podendo evitar uma nova bátega de água de volume igual ou mesmo superior. Também não há forma eficaz de parar a torrente ou de lhe condicionar o avanço porque este, tratando-se de tantas toneladas de água e de detritos e destroços por ela arrastados, é imparável.

Logo, parece lógico que o que há a fazer é ter o seu caminho natural – a linha de água – facilitado, desimpedido, liberto de obstáculos para poder ser utilizado pelo «dilúvio». Deve ter-se presente que o chamado «leito de cheia» deve estar desobstruído, não devendo ter nada que dificulte o avanço da torrente a fim de esta não ter de procurar outra via, à força, com os estragos inerentes. Mas, infelizmente, os empreiteiros, apoiados pelos técnicos das Câmaras, não podem ver um palmo de terra sem ambicionar retirar dele o máximo de rendimento ou de lucro.

Esta lição deve ser aprendida e praticada em todo o lado. Não faltam situações de perigo nas nossas aldeias, vilas e cidades, principalmente onde o terreno é mais acidentado.

Por exemplo, em Cascais, nos fins da década de sessenta, houve um caso grave que não foi devidamente assimilado e aplicado na prevenção de casos futuros. Em termos de «Protecção Civil» é normal aceitar que tudo o que pode acontecer virá a acontecer, embora em data imprevisível.

A vila de Cascais é atravessada pela Ribeira das Vinhas que em tempos foi feita passar em túnel desde um pouco a montante do mercado até ao mar, na baía, junto ao Palácio Seixas. Durante essa chuva intensa em 1968 (se não me engano), ou porque o túnel não tivesse a dimensão conveniente ou porque os destroços arrastados pela água tivessem entupido a boca, a água cumpriu o seu destino, começando a formar uma albufeira e depois avançou pela superfície destruindo tudo o que lhe dificultava a progressão. Pisos dos arruamentos e andares mais baixos sentiram os seus efeitos devastadores.

E o resultado? O mesmo túnel ali continua para criar uma tragédia semelhante ou pior. Houve a ideia brilhante de restabelecer a Ribeira a céu-aberto, com largura e profundidade adequadas e pontes elevadas para suportarem enchentes, sem dificultar a passagem da água. Mas não passou de ideia e, entretanto, a Câmara investiu no edifício da biblioteca em pleno leito de cheia e os edifícios de construção recente do BCP e de outras empresas estão inconscientemente a barrar a linha de água.

Mas a vulgaridade das pessoas e de alguns funcionários camarários desconhecem «o que é uma linha de água», «o que é o leito de cheia».

Há alguns anos, durante grandes chuvas, numa região do Norte, havia um café mesmo em cima de uma linha de água, a que ninguém dava atenção porque nunca ali viam água. Com as chuvas a água tinha que passar por ali, esbarrou na parece da casa, foi enchendo e, quando a pressão foi suficientemente forte, derrubou a parece e varreu tudo o que estava dentro do café, tirando a vida aos clientes que lá estavam calmamente a beber a cerveja.

Há erros que a Natureza não perdoa e que bem podiam ser evitados.

Sócrates sabe o que quer

Por ajudar a compreender os acontecimentos que actualmente enchem os ‘mídia’ e a personalidade do homem que confia muito em si próprio, transcreve-se parte do Editorial do Diário de Notícias:

A estratégia de José Sócrates
Diário de Notícias, 23 de Fevereiro de 2010. Editorial

A entrevista de José Sócrates a Miguel Sousa Tavares ontem na SIC, a primeira depois do caso do alegado esquema para controlo dos media, não esclareceu nada em relação à polémica. Apesar de as perguntas lhe terem sido feitas, o primeiro-ministro refugiou-se na defesa que elaborou desde o início e que já antes usara para o Freeport: além da indignação pelas fugas ao segredo de justiça, repetiu que o seu nome foi usado indevidamente.

Ou seja, Sócrates decidiu que não tem de dar mais explicações. Nem justificar porque não responsabilizou de imediato quem abusou do seu nome e da sua amizade, quer nas escutas em que é citado no falhado negócio PT/TVI, quer no apoio que Luís Figo lhe deu em plena campanha eleitoral.

A intenção é óbvia: o primeiro-ministro quer que quem o acusa apresente provas. Se tal não acontecer, da sua boca não sairá mais nenhuma justificação, nem se o assunto o levar a sede de comissão parlamentar. Porque acredita que o tempo e as falhas da investigação jogam a seu favor. E ele está empenhado nessa corrida de fundo, que percorre entre dois obstáculos paralelos: as investigações da justiça e a recuperação da crise.

Se as investigações judiciais provarem o seu envolvimento directo nas polémicas que vieram a público (o primeiro a fechar será o Freeport), ficará sem condições para se manter no Governo ainda antes do Verão. Caso contrário, evitará o confronto e colar-se-á à forma positiva como Portugal parece estar a sair da crise: se a sociedade civil, os empresários e os investidores o apoiarem, levará o debate até às presidenciais e aí os números da economia falarão por si.

É uma estratégia. Mas a divulgação de contradições sucessivas não está só a provocar um visível desgaste político a este Governo. Está a deixar o País mergulhado num ambiente cada vez mais inviável. E se isso continuar, Cavaco Silva poderá ver-se forçado a avaliar e decidir sem fazer cálculos políticos.

Sobre o tema da entrevista tem interesse também o artigo do Correio da Manhã
Apoio de Luís Figo foi “livre e generoso”

Palavras do Candidato a Belém Fernando Nobre

Em reacção a provocação de Manuel Alegre, Fernando Nobre disse várias ideias com muito interesse, em entrevista à Agência Lusa:
"Eu sei que uma certa ou possível candidatura quer lançar um barulho, sobre o qual eu me vou pronunciar pela última vez".
"Embora o meu nome nunca tenha sido citado, é evidente que como só há um candidato assumido, que sou eu, as críticas só podem ser para mim, eu gosto das críticas frontais, directas, porque é assim que trato com as pessoas (...) eu não sou pessoa para ser influenciada por ninguém, penso pela minha cabeça", vincou.
Fez questão de enfatizar que até hoje foi "a única pessoa que se afirmou como candidato" e que "quis fazê-lo às claras".
Fernando Nobre citou "um provérbio africano" que considera "muito instrutivo": "Mais vale ser a cabeça do rato, do que o rabo do elefante".
"Eu sou a cabeça do meu rato, ninguém pensa por mim, desde os 15 anos que conduzo a minha vida, fui sozinho para Bruxelas com 15 anos, num apartamento que o meu pai alugou para mim e assumi o meu destino, não sou pessoa para ser influenciado".
"O povo português saberá julgar quem está aqui para falar de Portugal e quem está aqui naquela postura péssima, de maledicência, eu não vou por aí".
A sua candidatura "não é cheque em branco nenhum" e recomendou a "quem diz que nunca ouviu nenhuma ideia" sua a ler os seus livros. "Estão lá ideias muito bem expressas quanto às causas nacionais", acrescentou.
Disse ter um "pensamento político apartidário, porque quem se ocupa de questões sociais e humanísticas é evidente que faz política, não faz é política partidária".
A noção de "direita, centro ou esquerda" não tem "qualquer cabimento" e esse é um "debate esgotado".
"Eu não me enfeudarei a nenhum partido, vou para Belém livre de qualquer compromisso, a minha candidatura é transversal, é apartidária, eu vou procurar votos em todos os quadrantes da classe política portuguesa, à direita, ao centro e à esquerda".

Tragédia evitável na Madeira???

Aproveitamento de post do «Mentiroso» no blog Democracia em Portugal, ao qual foram feitas algumas alterações de pormenor. Espero que o autor me perdoe o atrevimento, e deixo o link para os interessados na leitura do seu post o poderem apreciar.

A cidade do Funchal, na Madeira, está a ser vítima de temporais, inundações e deslizamento de terrenos devido às grandes chuvas de ontem de madrugada, sendo já confirmados 32 mortos e incalculáveis prejuízos.

Infelizmente, não é uma catástrofe natural inevitável, mas apenas uma das consequências do mau ordenamento do território. Efectivamente, se a pluviosidade ou outros acontecimentos naturais do género são inevitáveis, é possível com uma acção permanente de prevenção e de rigor nas obras de saneamento e urbanização reduzir significativamente as suas consequências. Isso tem sido demonstrado por todo o mundo. Ainda que num grau bastante inferior, constata-se a diferença observada em Lisboa aquando de grandes chuvas. Antes dos trabalhos adequados e necessários terem sido efectuados, algumas zonas, como a da Baixa (que pseudo-intelectuais, iletrados pedantes, cheios de «auto-estima», agora chamam de pombalina, como se houvesse outra), Cais do Sodré / Av. 24 de Julho, Benfica, Av de Berna/Praça de Espanha, tinham inundações enormes logo que chovia um pouco mais.

Os problemas do Funchal são bem conhecidos desde sempre. O temporal de 1993 foi um dos que causaram maiores estragos. O governo regional, constituído por indivíduos nascidos e criados nas ilhas está perfeitamente consciente dessa possibilidade de catástrofe. No entanto, não fez o suficiente, em quantidade e qualidade, para a evitar. Ou melhor, fingiu fazer. Tanto que disso tem sido permanentemente acusado. O chefe do governo regional respondeu às acusações de agora dizendo que se a cidade do Funchal não desapareceu por completo foi devido às canalizações feitas nas ribeiras. Só que demonstraram não ser suficientemente adequadas.

Governo e autarquias deviam prestar mais atenção à salvaguarda das vidas dos cidadãos. As obras necessárias deveriam ter sido projectadas, efectuadas e controladas por gente competente, com menos burocracias e mais rigor e não de ânimo leve, mas com contratados impolutos sem corrupção. Não se libertam da suspeita, que muitos consideram certeza, de parte do dinheiro investido nas ditas obras ter sido gasto em trabalhos insuficientes e mal feitos, outra parte usada literalmente na corrupção e o restante para outros objectivos que davam mais votos.

No entanto, mesmo com tais inconvenientes, a Madeira é a segunda região nacional mais desenvolvida mas, apesar disso, o governo exige que o dinheiro que o país deveria dar a outras regiões mais necessitadas lhe seja destinado. É de toda a moral e justiça que ele seja utilizado com o máximo rigor com utilidade para a prevenção de catástrofes como esta, atendendo às condições climáticas e á orografia da ilha.

Devido a tal falta de rigor e competência nas condições de segurança e prevenção, aconteceu que, só desta vez, tenham perdido a vida 32 pessoas e tenha sido destruída propriedade de altíssimo valor ainda não calculado, tudo evitável em grande parte. A falta de realismo dos políticos produz estas infelicidades para inúmeras famílias e a redução das receitas da principal actividade da ilha, o turismo. O futuro próximo nos dirá que os culpados por negligência e incompetência ficarão impunes, como de costume.

Mas ao menos que a população aprenda a apreciar o desempenho dos seus eleitos e que pressione estes a reflectir no ditado «Mais vale prevenir do que remediar»

Dilúvio na Madeira causa 32 mortos

Estão confirmados 32 mortos e 68 feridos na Madeira, consequência da tempestade que varreu a ilha.
João Cunha e Silva, vice-presidente do Governo Regional, já confirmou estse números, ao mesmo tempo que já foi posta em marcha uma operação de auxílio à Região, esforço conjunto do Governo Regional e das autoridades centrais.
José Sócrates já se deslocou à Madeira, reuniu-se com Alberto João Jardim, e prometeu disponibilizar toda a ajuda necessária (Madeira: Sócrates reuniu-se com Jardim).
Nas próximas horas, será Cavaco Silva (Cavaco vai deslocar-se à Madeira) a deslocar-se à Região, sabendo-se que a Protecção Civil, do Continente e da Região Autónoma, sob a liderança do Ministro da Administração Interna, está também já no terreno.
A notícia Madeira: mau tempo fez 32 mortos dá o relato das consequências de tão grave tempestade.
A violência das imagens aqui:




Transcrição, com retoques, do post de igual título em Devaneios a Oriente

«Confio muito em mim»

Os coleccionadores de pensamentos de gente célebre talvez tenham dificuldade em saber o autor desta frase, tão elucidativa:
"Eu confio muito em mim e por confiar muito nas minhas capacidades e nas minhas convicções, dizem que sou autoritário".

Terá sido pronunciada por: Cristo? Maomé? Gandhi? Lutero? Martin Luther King?, Dalai Lama? Einstein?, Descartes? Pinochet? Salazar? Franco? Churchill? De Gaulle? Eisenhower? Mao Tse Tung? …

Certamente, nenhum deles se pronunciou em público a seu respeito nestes termos.

Mas tenho dúvidas que Adolfo Hitler, Pinochet, Hugo Chávez, Robert Mugabe, Idi Amin, Muamar Kadafi tenham dado tal mostra de vaidade, convencimento de infalibilidade, autoritarismo, despotismo ou ditadura.

Ainda não descobriu? Não quero que perca mais tempo, faça clique aqui.


Procurar acertar é meritório

Nos últimos tempos o Poder executivo e, mesmo o legislativo, têm sido alvos de críticas, com aspecto positivo de sugestão e conselho, o que mostra da parte dos opinadores consciência de que, perante a realidade no rectângulo, mais do que dizer mal, é necessário encontrar pistas para resolver a grave situação em que o País tem sido lançado de forma sistemática.

Os governantes, com a teimosia de quem não consegue distinguir o essencial do secundário, agarram-se a tentativas de solução comprovadamente (pelos resultados) erradas e recusam reconhecer os erros e procurar emendar-se. Fecham os olhos e os ouvidos a opiniões muito meritórias, talvez devido ao preconceito de não quererem aproveitar ideias expostas por quem não pertence ao clã. E, pior, procuram «calar» o mensageiro.

Mas, começa a haver repetidos sinais de que, no partido do governo, há cabeças pensantes que estão bem conscientes da necessidade de mudanças e apontam ideias de ponderação e avaliação das hipóteses potenciais de solução.

Agora é a voz de Manuel Alegre de quem se escreveu que estava asfixiado pela pressa, mas que criticou ontem, em Coimbra, a "promiscuidade" entre a justiça, a política e a comunicação social e afirmou que Portugal precisa de repor "rapidamente" a normalidade democrática.

Veio juntar-se a outras vozes socialistas que têm enviado recados ao Governo de forma muito clara e construtiva, desde João Cravinho que, há muitos anos, propunha um combate eficaz contra a corrupção e o enriquecimento ilícito, passando por Henrique Neto e, mais recentemente, por Ana Gomes.

Portugal precisa de um chefe de Governo que saiba ouvir e interpretar as sugestões e os conselhos que lhe são enviados por qualquer via e não se encerrar nas opiniões tendenciosas e interesseiras de «colaboradores» que nada lhe fornecem de novo para evitar desagradar e perder o tacho.

Ficaram atrás quatro nomes da sua área política, mas deve haver outros que tenham a coragem de esclarecer e iluminar os melhores caminhos para o ressurgimento de Portugal, com isenção, imparcialidade e dedicação aos destinos do País que pretendem legar aos filhos e netos. Oxalá as mentes dos responsáveis se ilumine e veja as melhores sendas a seguir.

Rei-Sol


Como num post anterior referi o Rei-Sol, Luís XIV de França, um amigo, possuidor de um bom arquivo, ofereceu-me esta imagem em homenagem ao visado.
Recordo que este Rei autoritário colocou a França em grande perigo de que resultou o seu neto Luís XVI ter sido morto na guilhotina no eclodir da Revolução Francesa.

Os ânimos estão exaltados

Sócrates usou o seu direito de negar aquilo que tem surgido contra si na Comunicação Social que apelidou de ideia "rotundamente falsa", "infundada" e "até delirante". Afirmou querer «defender o interesse nacional, assegurar a governação, e conduzir o país para a recuperação económica" que "reforce a confiança internacional". Disse que "Já não é a primeira vez que o país assiste a uma tentativa de substituição do debate político pelo ataque pessoal, pela insinuação e pela mentira pura e simples." Não será agora que se deixará condicionar por "insultos, rumores e mentiras".

O PM, ao dizer que não se deixará condicionar por "ataques pessoais com ódio" estava a contradizer a atitude que estava a tomar, totalmente orientada para a reacção aos actos de que estava a ser alvo.

Os portugueses gostariam que, em vez de reagir, condicionadamente aos insultos e mentiras delirantes, em vez de nisso gastar as suas energias, lhes falasse com verdade do diagnóstico da situação do País, na economia, na dívida externa, no défice, no desemprego, no funcionamento da Justiça e da segurança interna, na pobreza, etc., e apontasse as directrizes da sua política para ‘«defender o interesse nacional, assegurar a governação, e conduzir o país para a recuperação económica" que "reforce a confiança internacional"’. Estes, sim, são aspectos que justificam que fale ao País, que absorvam todas as suas energias, todos os seus cuidados, sem condicionamentos, sem limites, a não ser a preocupação da máxima eficiência para bem dos portugueses.

E, por isso, as críticas logo surgidas dos vários sectores foram pouco lisonjeiras. E ele sentiu necessidade de dizer «o líder sou eu», no bom estilo do Rei Sol de França que disse «O estado sou eu».

Ver os artigos:

- Sócrates passa ao ataque e diz que acusações sobre os media são “delirantes”
- Face Oculta: CDS-PP defende “moção de bom senso” para que primeiro-ministro comece a governar
- Face Oculta: PCP acusa Sócrates de chantagem sobre Parlamento
- Face Oculta: Bloco insiste em comissão de inquérito para tirar conclusões
- Face Oculta: Aguiar-Branco diz que declaração de Sócrates foi “oportunidade perdida”

Telhados de vidro, desgraça de Portugal

Há poucos dias Mário Soares na sua sabedoria de político prático, experiente, disse que todos estes casos que parecem ser focados contra Sócrates vão acabar em nada. Parecia ser uma afirmação gratuita, mas agora, juntando os indícios técnicos, temos que lhe dar razão!

Diz o cronista Pedro Ivo Carvalho que quase todos os edifícios têm telhados de vidro. E não convém atirar pedras ao telhado do vizinho. Eles entendem-se todos muito bem , como ficou bem provado na aprovação da célebre lei do financiamento dos partidos.

O abuso do dinheiro público é corrente em todos os sectores, como diz uma notícia que me chegou por e-mail e que diz ter sido publicada no 24 Horas de 16 de Janeiro, segundo a qual o líder parlamentar do PSD, Aguiar Branco, contratou uma espécie de assessor por dois meses e pagou-lhe 12 mil euros, usando dinheiros públicos, não do partido. E para fazer o quê? Ninguém sabe, ninguém explica. Miguel T... não foi visto uma única vez no Parlamento, a maior parte dos deputados laranja nem sabem quem ele é, e a Assembleia não sabe explicar porque é que este advogado recebeu 12 mil euros por dois meses de "trabalho".

Ao 24horas, Miguel T.... disse apenas que deu "umas consultas" a Aguiar Branco, de quem é amigo. Repare: deu umas consultas a Aguiar Branco, não ao PSD, não ao Parlamento. Só que estes 12 mil euros não foram pagos por Aguiar Branco, mas sim pela Assembleia da República. O mínimo que o líder parlamentar do PSD poderia fazer era explicar que pareceres são estes, o que é que a Assembleia da República beneficiou com estes pareceres e porque é que os dois meses de trabalho de Miguel ... custaram 12 mil euros, uma fortuna.

Também, com dada de há pouco mais de dois anos, veio nos jornais e encontra-se IN VERBIS a notícia Advogado contratado por duas vezes, segundo a qual o ministério da Educação contratou duas vezes o mesmo advogado para fazer o mesmo trabalho. O primeiro contrato, o advogado João Pedroso comprometia-se a fazer um levantamento das leis sobre a Educação e ainda a elaborar um manual de direito da Educação. O trabalho deveria estar concluído até Maio de 2006, mas tal não aconteceu. Apesar de não ter sido concluído nos prazos previstos, o advogado recebeu a remuneração. Ainda assim, o ministério fez depois com João Pedroso um novo contrato com os mesmos objectivos, mas a pagar uma remuneração muito mais elevada. Em vez dos iniciais 1500 euros por mês, João Pedroso passou a receber 20 mil euros/mês.

Também o PSD candidatou às legislativas dois ex-vereadores que estavam a contas com os tribunais por irregularidades com dinheiro público, tendo depois o julgamento de um deles sido adiado sine dia. Igual benesse do tribunal bafejou o deputado António Preto.

Com tais telhados de vidro, e com a complacência da lei e da Justiça, é realmente de esperar que por mais diligentes que sejam os jornalistas, nada será alterado e tudo ficará cada vez mais na mesma, isto é, o pântano ficará cada vez mais pestilento e nauseabundo. E o que preocupa é que o povo poderá acordar e dar «um coice no telhado», seja ou não de vidro, como «a mula da cooperativa», no cantar do madeirense Max.

As peias do legalismo

Perante as notícias que têm enchido as páginas dos jornais e de toda a comunicação social, são muito sintomáticos os títulos seguintes em jornais e dias diferentes

PGR alega que tentar controlar imprensa e TVI não é crime

PGR diz que “Falta transparência entre políticos e comunicação social"
não é crime


Com efeito, num País dominado pelos homens do Direito, peritos em preparar leis adequadas aos interesses de quem as assina e em jogar com as palavras para as aplicar da «melhor» forma em defesa tanto de uma face como da outra, o Sr. PGR tem razão nas suas afirmações. Um robot preso ao restrito significado da letra da lei, feita por políticos habilidosos, não diria melhor.

Das palavras do Sr. PGR deduz-se que, quando os políticos tomam atitudes anti-democráticas, autoritárias, ditatoriais, anti-éticas, imorais, chamando-se entre si os piores nomes e insinuando as piores coisas, desrespeitando os direitos e liberdades, também não é crime. Dessa forma não será crime dizer-se: vão para a pqp.

Mas, Sr. PGR, não devemos esquecer que, acima da lei e da Justiça, estão as pessoas e os valores éticos, morais, essenciais, que agora têm sido pisados repetidamente. Isso poderá sair do âmbito das funções de um PGR mas o povo não pode ignorar e deixar de exigir reparação. Se não for pela Justiça, terá de ser por outros meios. Provavelmente, acontecerá um dia.

Companheiros duvidosos

Desde pequenino que ouvia dizer «diz-me com quem acompanhas e dir-te-ei as tuas manhas»; «junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior do que eles». Realmente, deve haver muito cuidado na escolha das companhias, porque nem todas servem para levar para a frente bons projectos para alcançar os melhores objectivos.
Transcrevo o post publicado por Ana Gomes, a diplomata heroína da independência de Timor, no blogue
Causa Nossa em 11 de Fevereiro:

Boys will be... bóis

Eu não sei quem é esse tal Rui Pedro Soares, o boy sem cv que aos 32 anos foi alçado a administrador-executivo da PT pelo Estado, a ganhar escandalosamente mais num ano do que o meu marido ganhou em toda a vida, ao longo de 40 anos como servidor do Estado nos mais altos escalões.
Socialista encartado, dizem. Será, nunca dei por ele, que eu saiba nunca sequer me cruzei com ele.
Fraquinho no discernimento é, de certeza. Porque se não quis encalacrar os socialistas, foi exactamente isso que logrou ao accionar uma providência cautelar para impedir a saída do jornal SOL com mais escutas das suas ruminações telefónicas, justamente numa semana em que os socialistas procuraram desmentir quem clamava contra a falta de liberdade da imprensa.
E se investiu para abafar o jornal, a criatura também não percebeu que, ao contrário, projectava ainda mais longe a radiação solar.
Com bóis destes, para que servem ao PS os boys?

Voz do povo é voz de Deus

E a voz do povo é, muitas vezes, expressa pela pena de cronistas, bem intencionados que procuram alertar para o perigo de uma rota errada levar o navio a encalhar no rochedo e chegam ao ponto de sugerir pistas para solucionar falhas por omissão ou distracção.
Há lendas e factos antigos que hoje se tornam realidade. Transcreve-se aqui uma lição extraída do naufrágio do Titanic, e uma lenda celta, do mesmo cronista e um alerta de outro autor que merece também ser tido em atenção É pena que os governantes, obcecados como estão com a sua ambição pessoal, a concentração no seu umbigo e a teimosia orgulhosa de não quererem emendar erros e corrigir o rumo, não queiram compreender as realidades e aceitar sinais de bom senso e de ajuda.
Pessoas como o comentador anónimo que assinou António Lopes, parecendo um clone do que assinou Leandro e Bernardo, devem analisar o significado destas e de oputras crónicas, tirar as suas conclusões quanto ao presente e aconselhar as pessoas com quem contactem. Mas parece estarem mais interessados em incensar o chefe, mesmo que, com isso, o arrastem mais rapidamente para o afundamento.

Notícias do naufrágio
Jornal de Notícias. 2010-02-08. Manuel António Pina

Diz-se que, enquanto o Titanic se afundava, no salão de festas a orquestra continuou a tocar. A ter sido assim, deve ter havido um momento em que, ou porque a água chegou aos instrumentos ou porque chegou o pânico aos instrumentistas, a orquestra desafinou.
Ouve-se o primeiro-ministro dizer que o défice foi, afinal, uma opção do Governo, espécie de derrapagem controlada para tentar sair em velocidade da curva e, ao mesmo tempo, o ministro das Finanças confessar que se enganou quanto ao tamanho do "iceberg", e a desafinação dos solistas da crise orçamental não parece bom prenúncio. Acrescente-se a visão do governador do Banco de Portugal metido num bote a caminho de uma organização internacional e ceceando a monótona mantra do "Aumentem-se os impostos, baixem-se os salários" enquanto se multiplicam os rombos na credibilidade das instituições, e justificar-se-ia que crescesse a inquietação. Mas o Sporting perde, o Benfica empata, o seleccionador nacional esmurra não sei quem e Mimi Travessuras vem cantar a Lisboa. E, como que por milagre, dissipam-se, a julgar pelos jornais, todos os perigos.

Uma lenda celta
Jornal de Notícias. 100218. Manuel António Pina

Uma lenda celta, compilada por Bioy Casares em "Contos breves e extraordinários", conta a história de dois reis inimigos que jogam xadrez enquanto os seus exércitos combatem, demorando-se, como Borges diz, "hasta el alba en su severo/ ámbito en que se odian dos colores".

"Chegam mensageiros com notícias da batalha; os reis não os ouvem e, inclinados sobre o tabuleiro de prata, movem as peças de ouro... Ao entardecer, um dos reis derruba o tabuleiro porque apanhou xeque-mate e, pouco depois, um cavaleiro ensanguentado vem anunciar-lhe: 'O teu exército está em fuga, perdeste o reino'". Manuel Alegre não será propriamente um rei, nem sequer ainda um presidente, mas o silêncio em que parece mergulhado enquanto, à sua volta, o país arde em torno do tema da liberdade, recorda a longínqua lenda. É natural que esteja preocupado com os "tenue(s) rey(s), sesgo(s) alfil(es), encarnizada(s) / reina(s), torre(s) directa(s) e peon(es) ladino(s)" que se alinham no tabuleiro da sua candidatura. Mas jogar o seu jogo alheando-se do país talvez seja prudência (ou, se calhar, imprudência) comprometedora de mais.

Depois de Sócrates
Correio da Manhã. 18 Fevereiro 2010. Por Carlos de Abreu Amorim, jurista

Face ao imparável declive ético e político de Sócrates, o PS atém-se a uma atitude de resguardo aperreado do poder pelo poder – o que condicionará o futuro do partido por muitos anos. Se o PS mudasse higienicamente de líder ficaria em condições de enfrentar os desafios da governação de cabeça limpa e discurso tranquilo.

Ao contrário, parece ter optado por se barricar no bunker que a falta de vergonha do seu Chefe tramou para si e para os que não têm pudor em serem comparados com ele. Um Governo assim não governa coisa nenhuma, apenas gere de forma desconexa a sua morte adiada. O PS pagará bem caro este apoio deplorável. Em vez de ser o partido da liberdade e da democracia passará a representar o pior do regime – a malta de Sócrates, de Vara e do Soares da PT.

Abuso do dinheiro público

No meio de tanta confusão e falta de transparência, é uma bênção aparecer mais um dado para percebermos as linhas com que cosem o País. Seria mais vantajoso que houvesse ética (republicana ou, de preferência, simplesmente ética), e os políticos se orientassem por um código de valores morais que os dignificasse perante os eleitores e o estrangeiro. Depois dos pagamentos feitos pelo ministério da Educação ao Dr João Pedroso, surge agora o abuso dos recursos públicos em propaganda partidária, como se vê no artigo que se transcreve:

A 'central' do Governo
Correio da Manhã. 17 Fevereiro 2010. Eduardo Dâmaso

A história da tal ‘central’ de propaganda do Governo pode parecer uma brincadeira, mas não é: nos últimos anos o Governo de José Sócrates usou meios públicos para fazer propaganda e campanha eleitoral.

Quais? Assessores, chefes de gabinete, membros do Governo usaram o seu tempo, pago pelo erário público, instalações do Estado, meios informáticos públicos e informação privilegiada para fins de combate político.

Como o CM demonstra nesta edição, o Governo alimentou blogues de campanha eleitoral daquela forma, mas também outros que antes e depois do tempo de eleições continuaram a ser a barriga de aluguer de argumentários e documentos pré-fabricados. Há preparação para responder a questões difíceis, por exemplo com perguntas e respostas sobre o caso BPN, ou manipulação de números sobre o investimento público, como o TGV. É tudo à vontade do freguês...

Para quem ainda há menos de 15 dias enalteceu os valores da ética republicana este é um caso politicamente desastroso e de uma legalidade muito duvidosa. A utilização de meios do Estado, pagos pelos contribuintes, não consta de nenhum manual de história como um dos ‘valores’ do dito ideal republicano. O pagamento aos serventuários com as habituais benesses de nomeação para cargos também não. Mas com tal Governo tudo é possível...

Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto

Amizade ou honra e dignidade


No meio da variada campanha de tricas, suspeitas, acusações, réplicas, insinuações, «verdades», «mentiras» e referência insultuosas a entidades que deviam ser mantidas acima de qualquer vexame, já aqui expressas por várias pessoas, surge esta apreciação de um factor que merece ser tido em consideração. Segue-se a transcrição:

Guardiões da honra
Correio da Manhã. 16 Fevereiro 2010 - 00h30. Eduardo Dâmaso

Uma das coisas mais escandalosas que a ‘Face Oculta’ tem revelado é a ligeireza com que se multiplicam os insultos de dirigentes do PS aos investigadores e magistrados do caso. O mais irrelevante do que tem sido dito está na multidão de rapaziada embasbacada com Sócrates que pulula pela Internet.

Uns mais desinteressados, outros puramente empenhados em defender umas migalhas, todos muito encandeados com a luminosidade da propaganda governamental. Agora veio o advogado Proença de Carvalho, que há anos diaboliza polícias e magistrados. Habitualmente com opiniões respeitáveis, desta vez com adjectivos inqualificáveis. Por fim, o candidato do PS rotundamente derrotado nas Europeias, Vital Moreira, que despejou todo o desprezo que é capaz na expressão "agente local", qualificativo aplicado ao Ministério Público de Aveiro. Estes continuadores da prosápia governamental fazem tábua rasa do trabalho e da seriedade de pessoas que servem o Estado, algumas há mais de 30 anos, e com inegável competência e prestígio. Alguns dos prestimosos guardiões da honra de Sócrates são só patetas, mas outros têm responsabilidades públicas e políticas sérias. Mais valia que soubessem estar calados quando não sabem conciliar a defesa de amigos com o respeito pelo trabalho dos outros.

Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto

Mentira, doença dos políticos!!!

Transcrição:

A mentira de Rangel
Jornal de Notícias, 16 de Fevereiro de 2010, por Paulo Ferreira

Paulo Rangel, candidato à liderança do PSD, aprendeu depressa. Aprendeu a produzir "soundbites". Aprendeu a mover-se no aparelho partidário. Aprendeu a controlar os "tempos" da política. Aprendeu a formatar a imagem de intelectual que chega à política com o único intuito de ajudar o país a erguer-se da miséria, em contraponto aos que estão há demasiado tempo no "establishment" - aqueles de quem o "povo" desconfia e trata por "eles". Não admira: Paulo Rangel é um homem inteligente. Ocorre, porém, que o candidato à sucessão de Ferreira Leite também aprendeu depressa a mentir. Sim, a mentir de forma descabelada, não hesitando em usar gordas falsidades para sustentar a tese que a cada momento lhe convém. Mentir é sempre feio. Mentir como Paulo Rangel mentiu no Parlamento Europeu (PE) é feio, muito feio.

Os factos são os que se seguem.

Facto um. Uns dias antes de dizer ao país que deixará o PE para vir salvar Portugal, Paulo Rangel usou da palavra para informar os seus parceiros europeus do seguinte: "Queria denunciar aqui aquilo que se está a passar em Portugal neste momento, onde é claro que a comunicação social trouxe à luz um plano do Governo para controlar os jornais, para controlar estações de televisão, para controlar estações de rádio" (sic). Concluiu Rangel: tudo isto "põe em causa a liberdade de expressão". Truculento no uso da linguagem como é, o (ex) eurodeputado deve ter feito um figurão.

Facto dois. Para sustentar este quadro de terror, Rangel deu o exemplo de um "jornalista muito conhecido, Mário Crespo", que "viu censurada uma crónica sua, também por sugestão, ou aparente sugestão, do primeiro-ministro" (sic). Ao dizer isto, Paulo Rangel disse uma gigantesca mentira, sem nenhum facto, nenhum indício de que o proclamava tem correspondência com a realidade.

Por que razão é isto importante? Porque revela um (péssimo) traço de carácter. Revela que Paulo Rangel, que tanto gosta de aspergir moral sobre os ímpios, mente. Esse não é um facto de somenos, numa altura em que temos um primeiro-ministro acusado, por vários quadrantes, de usar a mentira para contornar os obstáculos.

Donde se impõem as perguntas:
- um homem que mente assim numa instância tão relevante como o PE pode ser líder do principal partido da Oposição?
- Se vencer a luta pela liderança do partido e concorrer a primeiro-ministro, como saberemos se, a cada declaração de substância que produz, não estará Rangel a mentir?
- E se chegar a primeiro-ministro?
- Que confiança deve Rangel merecer dos portugueses?


Solução possível: talvez tenhamos que o fazer passar, regularmente, por um detector de mentiras. Para descanso de todos nós.

NOTA: Depois de tantas suspeitas levantadas ao Governo por mentiras, surge agora esta referente a um elemento da oposição que pretende guindar-se a alto cargo. Fica a dúvida se foi posta de lado definitivamente a receita da transparência e da verdade e já é aceite que a mentira é uma doença incurável de todos os políticos. Da parte de Rangel, não é de estranhar depois de ter afirmado na Universidade de Verão do seu partido no Alto Alentejo, citando Nicolau Maquiavel, que a ética e a política nada têm a ver entre si. São coisas inconciliáveis. Talvez quisesse dizer que a Política deixou de ser uma arte e ciência de governar um País para o desenvolvimento e para o bem-estar e as condições de vida das pessoas, e passou a ser um conjunto de manhas e aldrabices para iludir a população e adquirir o máximo de poder , mantê-lo e abusar dele, sem olhar a meios.

A mentira e o pântano

Vão longe os tempos de Egas Moniz e hoje ninguém se sente ofendido por lhe chamarem mentiroso, e ninguém sente rebuço em lançar essa ignomínia à cara de pessoas que deviam estar acima de qualquer suspeita do género.

Sobre este tema, transcrevo a primeira parte do artigo de opinião:

A mentira
Jornal de Notícias, 15-02-10. Por Rafael Barbosa

Sócrates não será demitido pelo presidente da República, que tem uma eleição pela frente; nem pelo Parlamento, porque o PSD não tem líder; nem pelo Povo, que acabou de o reeleger e tem melhores coisas que fazer. Se não me engano, é mais ou menos desta amálgama que se faz um pântano.

Um país que tem um primeiro-ministro a quem chamam mentiroso, primeiro no Parlamento, depois em manchetes nos jornais, não é um país politicamente saudável.

Porque num país politicamente saudável, aconteceria uma de três coisas:
1. o primeiro-ministro não era mentiroso e os deputados e jornalistas que o injuriaram seriam ridicularizados;
2. o primeiro-ministro era apanhado a mentir e demitia-se;
3. o primeiro-ministro era demitido por ser mentiroso.

Como Portugal não é um país politicamente saudável, nada disto acontece.
I. Não sendo mentiroso, José Sócrates não considera importante manter o seu carácter intacto, ou já não tem força anímica para o tentar.
II. Sendo mentiroso, demonstrou outras vezes ter couraça e teimosia suficientes para se manter no cargo, pelo que jamais se demitirá.
III. E, finalmente, não será demitido,
- nem pelo presidente da República, que teme os efeitos dessa decisão quando tem uma eleição pela frente;
- nem pela Assembleia da República, porque o PSD anda à procura de líder;
- nem pelo Povo, porque fomos chamados a votar três vezes no espaço de poucos meses, uma delas para o reeleger, e temos melhores coisas que fazer.

Se não me engano, é mais ou menos desta amálgama que se faz um pântano.

Ética Republicana?

Transcrição de post do blog Sempre Jovens:

Ética republicana. Como se a palavra ética não valesse por si. Como se o adjectivo a valorizasse ou a aumentasse. Como se o mesmo atributo lhe desse um estatuto de uma qualquer superioridade.

Agora que se comemoram os 100 anos da República a propalada ética republicana promete voltar em catadupa. Como já tivemos três Repúblicas, o que quer dizer essa adjectivação da ética? É que já houve de tudo no plano ético e político. Uma coisa e o seu contrário. De positivo e de negativo. De construtivo e de destrutivo. De seguidismo e de persecutório. De direitos e de míngua deles. De verdade e de mentira. De carácter e da sua falta. De serviço probo e de aproveitamento criminoso.

A verdadeira ética não é apropriável. Existe por si ou não existe. Bem sei que somos todos cidadãos e não súbditos. Logo, portadores de direitos e de obrigações. Mas antes e acima do cidadão há sempre a pessoa. Com inteligência, vontade, percepção e consciência. Pessoa e cidadão são indissociáveis na razão ontológica e teleológica da nossa individualidade. Quando se fragmentam, a ética dissolve-se.

Diz-se que a ética republicana consiste sobretudo em cumprir escrupulosamente a lei. Já o fariseu era um absoluto legalista. Acontece que o conjunto das normas jurídicas e o conjunto das normas éticas jamais coincide. Há matérias reguladas pela lei que não exprimem qualquer juízo ético, como há muitas regras de conduta ética que não estão juridicamente plasmadas. A ética não se estrutura na dicotomia legal / ilegal, mas radica na consciência. O conjunto do que é moralmente aceitável (o legítimo) é mais restrito do que é juridicamente aceitável (o legal). Nem tudo o que a lei permite se nos deve impor, e há coisas que a lei não impõe mas que se nos podem e devem impor. A pessoa tem mais deveres éticos do que o cidadão. A consciência de uma pessoa honesta é mais exigente do que o produto de um legislador. A lei é o limite inferior da ética.

Nenhuma lei proíbe em absoluto a mentira, a desonestidade, a deslealdade, a malvadez, o ódio, o desprezo, a vilanagem... Como nenhuma lei só por si assegura a decência, a verdade, a amizade, a generosidade... Na ética pura não há lugar para a falaciosa "terceira categoria ética" dos actos indiferentes entre os bons e os maus.

Olhemos para a crise global que se instalou no mundo. Há muitas explicações técnicas mas, no fim, chegamos sempre à escassez ética onde a fronteira entre o bem e o mal se erodiu fortemente. Olhemos para o que se passa na governação do nosso país, onde a verdade definha, a autenticidade escasseia, o exemplo desaparece. Onde é conveniente separar a pessoa da função e a função da pessoa, como se o carácter fosse divisível. Onde há faces ocultas de quem nada deveria ter a ocultar. Onde assuntos públicos se disfarçam de privados e os juízos éticos não vão além de um qualquer sistema sancionatório ou penalista. Tristes faltas de ética. Chamem-lhe republicana ou não.

António Bagão Félix, Economista

Publicado por Luís no Sempre Jovens

NOTA: Muito oportuno para compreender a situação actual. Além dos temas que têm ocupado a Comunicação Social, hoje o Correio da Manhã traz a notícia de que o contrato de João Pedroso com o ministério da Educação está a ser investigado no DIAP. Apesar da República com a sua ética!

Egas Moniz respeitava a palavra dada

Este exemplo dos primeiros tempos da nacionalidade mostra apurado sentido da honra, da dignidade e do respeito pelo valor da palavra. Pelo contrário, os políticos de hoje são aquilo que vamos conhecendo.

Nada de pessoal tenho a favor do autor do artigo que cito nem do político nele destacado e, infelizmente, este é apenas um dos muitos que poderiam ser referidos por casos semelhantes. Se alguns são considerados mais mentirosos do que a média, poderá ser por terem maior incontinência nas palavras e promessas ou por ocuparem cargo de mais visibilidade. Como os valores éticos têm sido tão vilipendiados nos últimos tempos!

Vejamos o que diz o artigo:

Uma corda para Alberto Martins!
Jornal de Notícias. 15-02-10. Por Honório Novo

A fundação da nacionalidade está ligada a Egas Moniz, homem para quem a palavra dada era compromisso firme, que não hesitou em pôr uma corda ao pescoço quando soube que o que avalizara não seria cumprido.

É isto que está a acontecer a Alberto Martins, ministro da Justiça, ex-líder parlamentar do PS, candidato do PS no Porto nas eleições de 27 de Setembro. Por três vezes, Martins disse que o PS não iria privatizar a ANA, empresa pública que gere os aeroportos. Na RTP-N, no Porto Canal e na Associação Comercial, em três debates eleitorais, Martins repetiu o compromisso, afirmando que, quando muito, o PS poderia privatizar a parte comercial da ANA...

É pública a polémica sobre este tema. A reboque da privatização da ANA, há por aí uns "trutas" - apadrinhados pela Junta Metropolitana do Porto -, preparados para "sacar" os lucros dos 400 milhões do investimento feito no Aeroporto do Porto e do facto da sua gestão pública ter transformado o "apeadeiro de Pedras Rubras" num dos melhores aeroportos mundiais. Daí a relevância política das afirmações de A. Martins, comprometendo-se, e ao PS, a não privatizar a ANA! Mas, para Sócrates, a palavra pouco interessa.

Teixeira dos Santos disse esta semana que o Governo vai afinal privatizar a ANA. Estranhou então o Ministro a insistência no tema, em ligá-lo à honra de A. Martins. Já sabíamos o que significa a palavra dada para T. dos Santos: recordamos que se comprometeu a representar o Porto na Assembleia Municipal mas que, no dia seguinte às eleições, deu logo "às de vila-Diogo"! Só que não deve medir os outros pela sua própria bitola…

Mas, não obstante os tempos que correm, pensamos que há ainda homens com honra. Por isso, acreditamos que Alberto Martins se irá explicar, com ou sem corda, como Egas Moniz.

Sócrates visto por notável do PS

O Primeiro-ministro, já não precisa das críticas, avisos e sugestões da oposição para tomar as decisões mãos adequadas á situação a que conduziu o País. Elas já são tão lógicas e evidentes que até os seus parceiros de partido as compreendem e partilham.

Nestas condições de até os camaradas do PS estarem em desacordo com o comportamento do chefe, parece que a publicitada manifestação de desagravo a que se refere Manuel António Pina terá menos dos 1361 já contemplados com cargos nestes pouco mais de três meses de Governo. Apesar da gratidão pelo «tacho» recebido, não devem estar dispostos a arriscar o seu «bom» nome para o futuro.
Transcreve-se parte do artigo do CM de hoje.

Face Oculta: Henrique Neto lança aviso
“Sócrates revela fragilidade”
Correio da Manhã. 15 Fevereiro 2010. Por Ana Patrícia Dias e Diana Ramos

O ex-dirigente socialista Henrique Neto considerou ontem que José Sócrates deve prestar esclarecimentos ao País sobre o seu alegado envolvimento num plano para controlar a Comunicação Social e avisa: "Condenar o mensageiro não esclarece e revela a fragilidade da sua posição".

"Ao não prestar qualquer esclarecimento sobre o assunto, condenando apenas o mensageiro [‘Sol’], José Sócrates confessa o seu próprio envolvimento", afirmou ao CM Henrique Neto, considerando que o desafio de dirigentes do PS à oposição para que avance com uma moção de censura ao Governo é uma "fuga para a frente".

Questionado sobre se Sócrates tem condições para continuar, Henrique Neto foi peremptório: "Penso que Santana Lopes foi demitido por menos". Mas compreende que dada a situação económica do País, Cavaco Silva "não assuma o mesmo risco". Mesmo assim, para o ex-dirigente do PS, o Governo tem os dias contados: "Deverá aguentar-se até ao Verão".(…)

7 meses na cadeia por esquecimento dos tribunais

As manobras políticas de desviar as atenções dos portugueses para problemas menores, deixando de ver aquilo que é realmente importante e essencial, estão a conseguir os objectivos dos seus autores. Lançam-se na Comunicação atoardas sobre coisas insignificantes para entreter as pessoas, levando-as a um estado de embriaguez de euforia ou, no mínimo, de indiferença e apatia em relação às grandes causas e, quando a táctica é bem aplicada, mantém os responsáveis à vontade para «gerir a causa pública» da forma que mais lhes interessa pessoalmente.

Mas, como «o crime não é perfeito» esse desvio de atenção acaba por ocasionar erros escandalosos, como o relatado na notícia «Tribunais esquecem preso na cadeia durante 7 meses», em que se conta o caso de um cidadão de 40 anos que devia cumprir pena de 8 anos de cadeia, pelo simples crime de toxicodependência e furtos, em vez de ter sido libertado em 26 de Junho do ano passado, só agora saiu em liberdade.

Lá pelas alturas da Justiça andam preocupados com a forma de ocultar a face de pessoas importantes dos incómodos das escutas relacionadas com manobras demasiado ilegais e eticamente condenáveis das sucatas, do controlo da Comunicação Social, do abuso de dinheiros das empresas públicas, enfim, do abuso do Poder, e desprezam os interesses dos cidadãos, neste caso, do preso por esquecimento!!! Trata-se de um minúsculo transgressor comparado com os tubarões de que é preciso desviar as atenções, aqueles que constituem os tentáculos do polvo.

Isto vem confirmar que um dos maiores males do nosso País é a incapacidade e a incompetência para uma correcta definição das prioridades e da vontade de as concretizar. Andamos iludidos atrás de aparências, em vez de analisarmos convenientemente os problemas, as suas causas, condicionantes e factores relevantes, e escolhermos a solução mais adequada às circunstâncias. O resultado desse defeito será a crise crónica e o atraso patológico em que vamos navegando ao sabor de caprichos desencontrados.