(Publicada n’ O Diabo em 6 de Junho de 2006, pág. 20)
Não é novidade que a generalidade das pessoas activas e dinâmicas está descontente com a mundo actual. Os mais idosos vivem na esperança de o tempo voltar para trás, para situações mais estáveis e previsíveis de que têm saudades e às quais estavam acomodados, habituados, comprometidos. Pelo contrário, os mais jovens e intelectualmente mais válidos não sentem qualquer simpatia pelo sistema actual ou pelo passado e acham que os seus pais e avós falharam na procura de um mundo melhor, e que terão de ser eles a criar novas dinâmicas sociais para uma vida mais sã e mais racional.
Não é um sentimento novo, nem garante um êxito absoluto. Há cerca de quatro décadas ocorreu o Maio de 68 em França. Não surgiu por acaso, mas foi o desabrochar de uma gestação social demorada. Recentemente, também em França, por duas vezes e por motivos aparentemente distintos, os jovens evidenciaram o seu gosto pela mudança necessária. Se o Maio de 68 teve repercussões no mundo em que se integrou o 25 de Abril, agora também vai repercutir-se por aí fora, com pequenos afloramentos aqui e acolá, e, por exemplo, vemos em Timor uma reacção muito expressiva com grande participação de jovens contra políticos que não mostram adequada competência, sentido de Estado e espírito de servir o país com vista a um futuro com melhor qualidade de vida para a generalidade dos cidadãos. Estou convicto de que esta onda vai ganhando expressão e está a preocupar os políticos em geral. Oxalá eles saibam analisar o fenómeno, façam uma autocrítica da sua actuação e retirem as devidas conclusões para bem do país, embora lhes custe a perda de regalias e benefícios abusivos.
Não deve sequer sonhar-se em amordaçar a geração emergente, por isso não trazer qualquer vantagem. Mas deve orientar-se a sua preparação teórica para melhor análise dos problemas, maior racionalidade na fixação de objectivos, análise das acções a escolher com base nas suas vantagens e inconvenientes e respeito pela coerência que conduza à convergência de esforços em direcção aos objectivos. Os jovens têm a vantagem de não estarem habituados, rotinados, dependentes, comprometidos com soluções passadas que fracassaram, o que cria a esperança de que poderão fazer ressurgir a humanidade da letargia em que está a viver. Assim, a geração do poder o permita, em respeito pela democracia, pela liberdade de expressão, pela alternância de soluções, pela renovação e pela criação de melhor qualidade de vida da generalidade da população.
O regresso de Seguro
Há 57 minutos
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