(Enviada aos jornais em 6 de Maio de 2006)
A história dificilmente, ou nunca, se repete, mas há símbolos que são ocasionalmente clonados, embora com significados diferentes. Uma crónica num jornal em 5 de Maio referia-se aos três D. Por já não ser muito jovem, saltou-me de um ficheiro da memória o programa do MFA – já lá vão mais de 32 anos – que escolheu esta sigla como tradução de Democratização, Descolonização e Desenvolvimento.
Mas agora, o significado referido na crónica era diferente – Dívida, Défice e Desemprego. Cotejando os três D de então e os de agora, parece que os primeiros resumiam a intenção positiva e optimista quanto ao futuro, um plano de acção e objectivos a atingir para melhor bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos, enquanto os actuais a que se poderão juntar mais – Desmotivação do povo, Despesismo dos governantes e autarcas, Desespero, Desilusão, Desconforto, Desconsolo, etc. – constituem um retrato da situação actual, uma espécie de relatório da actividade política de 32 anos, em que se vê a involução da democracia então criada e do desenvolvimento não concretizado. Os actuais três D são uma tela em que predomina um mal-estar generalizado em que a maior parte dos portugueses declaram não ter prazer na nacionalidade que têm, como era tornado público numa notícia do mesmo dia.
Bem diz o povo que «de boas intenções está o inferno cheiro», pois os três D do programa de Abril não foram suficientes, só por si, para gerar bem-estar e qualidade de vida. Faltaram políticos à altura, com capacidade intelectual, técnica, de dedicação generosa ao bem de Portugal. Foi neste ponto que tudo falhou e que agora justifica os três D da cronista, e os mais que se lhes podem juntar. Oxalá possamos voltar a ser optimistas com base em medidas concretas positivas e não apenas em promessas de puro marketing, profusamente repetidas.
Mensagem de fim de semana
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