domingo, 16 de agosto de 2009

Confissões discretas de políticos. 060423

Confissões discretas de políticos
(Enviada aos jornais em 23 de Abril de 2006)

Os nossos políticos, de quem não devemos menosprezar a inteligência, procuram de forma obsessiva defender a sua posição de homens do poder e, para isso, sentem necessidade de ocultar as verdades e fazer afirmações que, para os mais atentos, mais não são do que afirmações da sua insegurança. Recentemente a sucessão dessas confissões subtis foi sintomática. O ministro das Finanças, em relação à situação do País nos aspectos financeiros e económicos, afirmou que não há razões para entrar em pânico. Ora, este conselho só aparece em momentos em que o pânico é perfeitamente justificado, em situação de catástrofe, donde se pode concluir que o ministro queria expressar exactamente o contrário daquilo que disse. Aliás o mesmo se podia depreender da sua frase, aprendida dos conselhos de sua mãe «o que arde cura e o que aperta segura». Em concordância com esta afirmação, própria de qualquer ditadura em tempo de vacas magras, vieram afirmações de vários políticos aconselhando a que os cidadãos não devem criticar os políticos porque de política sabem eles. Mas, então, o que significa democracia? E liberdade de opinião e de expressão?

Outra confissão recente foi a do deputado M Alegre que disse que o PR não deveria no discurso do 25 de Abril «puxar as orelhas aos deputados». É uma afirmação própria de miúdo que cometeu uma falta e tem consciência de que merece um puxão de orelhas. Uma confissão de que os deputados tiveram um comportamento público que justifica um bom raspanete, e que vem justificar a referência aos cueiros feita em plena AR por um vetusto ministro, com longa experiência política em diversos cargos quer nacionais quer no estrangeiro. Se as faltas são condenáveis, é pior ainda o facto das assinaturas da presença antes da fuga e é infantil a preocupação de apresentar desculpas que não são aceitáveis para qualquer funcionário a quem eles devem dar bons exemplos, tudo isto sendo próprio de meninos mal comportados, como o Zequinha das anedotas escolares.

Embora difícil, não entremos em pânico e procuremos manter a esperança de os nossos políticos passarem a ter comportamentos que não suscitem críticas tão negativas como as que nos últimos dias têm sido lidas e ouvidas.

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