domingo, 16 de agosto de 2009

O exemplo vem de cima! 060801

(Publicada em O Diabo em 1 de Agosto de 2006, p. 12)

Há acontecimentos antigos aparentemente sem importância que nos são trazidos à memória inesperadamente pelas notícias actuais. Recordo que, quando o Dr. Mota Amaral tomou pose como residente da AR, nos discursos do presidente cessante e do empossado houve convergência de objectivo mas divergência de estratégia. Ambos defenderam que os deputados precisavam de ser prestigiados, mas, enquanto o primeiro, materialista e monetarista, pondo o assento no TER, apontava para o aumento de ‘ordenado’, o segundo, mais vocacionado para os valores éticos e espirituais, priorizando o SER, indicava a solução de melhorar o desempenho, procurando a excelência em toda a sua amplitude. O prestígio conquista-se no dia-a-dia.

Se a estratégia de Almeida Santos não conduziu à duplicação dos ‘ordenados’, também Mota Amaral não convenceu os representantes do povo. Além de a legislação não ter atenuado os flagelos que afligem a população – acidentes rodoviários, saúde, justiça, prevenção e combate aos fogos florestais, violência, etc – os deputados ofereceram o triste espectáculo da debandada precoce para ferias em 12 de Abril e, agora, a notícia de que em 103 sessões plenárias houve 1900 faltas (18,45 por sessão!), tendo apenas 26 deputados, de que deviam ser publicados os nomes, estado presentes em todas as sessões. E, caso curioso, ou talvez não, todas as faltas excepto 13 foram justificadas e nenhum deputado perdeu o mandato por faltas, em conformidade comas normas e regulamentos aprovadas pelos próprios deputados! Tudo legal, como era esperado!

Porém, embora se esperasse melhor ‘performance’ dos deputados eleitos, eles comportaram-se como a generalidade dos trabalhadores portugueses que, por falta de esclarecimento, não se dedicam seriamente às suas tarefas, o que tem dado argumentos às multinacionais para fecharem as suas empresas e as deslocalizarem para países onde a maior produtividade lhes garante melhor competitividade, como se vê em múltiplos exemplos por todo o país. No entanto, seria de esperar que as pessoas que se candidatam a estes cargos tivessem um lote de qualidades que os colocasse visivelmente acima da média nacional para serem motivo de orgulho nacional e exemplo de virtude para cada cidadão. O Dr. Mota Amaral estava correcto nos seus propósitos, mas estava enganado quanto ao auditório que tinha à sua frente.

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