terça-feira, 28 de agosto de 2018

O FUTURO É UMA INCÓDGNITA

O futuro é uma incógnita

(Publicado no semanário O DIABO em 28 de Agosto de 2018)


Na vida tudo muda e nem a Natureza nem o clima se mantêm imutáveis, mas a democracia surpreende-nos a cada passo. E o que não é agradável é que há grandes males que as mudanças não curam, parece que cada mudança é apenas um gesto enganador para que tudo continue na mesma.


Agora aparece um artista a usar a marca de um industrial de vinhos, Aliança, que, antes de criar o partido, já está a plagiar o programa de outro criado recentemente, Iniciativa Liberal. O seu objectivo parece ser o desejo de liderar um partido, e não ser propriamente melhorar a situação interna e externa do País. Pois, no partido a que pertencia e de que saiu voluntariamente, podia colaborar com o seu amigo Rio que está no topo, por forma a ser escolhida uma estratégia bem definida para avançar num rumo seguro para uma boa gestão dos interesses nacionais e criar uma melhor qualidade de vida para os portugueses, que tão abandonados têm sido.


A criação de mais um partido à direita do PS pode acabar por reforçar a vantagem eleitoral deste. Mesmo admitindo que todos os abstencionistas se convençam a ir às urnas e que a maioria deles vote na área da direita, se com dois partidos já era difícil um deles ter a maioria, quando houver divisão dos votos pelos quatro, dá a cada um uma fatia que pode ser menor do que a do PS. E lá vai continuar o País a viver num clima de soporífera realidade, numa atmosfera de sucesso ficcional, num marcar passo sem as decisões necessárias. Mas, nisso, pode surgir alternativa à actual geringonça em que haja um encosto à direita aproveitando a simpatia de Rio. Esta poderá ser uma consequência do aparecimento de mais um partido na área da social-democracia. E Portugal ganhará muito com isso? Serão dois indecisos a marcar passo mais ou menos juntos.


Será que veremos o pântano referido por Guterres, agora ficar a ser agitado por dois indecisos, em quem alguns portugueses depositaram esperança, a marcar passo sem avançar, e soprando palavras bem sonantes, com esperanças enganadoras, mas sem concretização real? Curiosamente, perante a opinião generalizada de que a pior doença de Portugal é a corrupção epidémica criadora de novos milionários à custa do Estado e da desvirtuação da função pública, não se vê intenções claras de a combater activamente, dando à Justiça legislação que permita aos tribunais julgar rápida e correctamente os casos mais gritantes, todos relacionados com os mais altos cargos do Serviço Público e que passam ao abrigo de imunidade a beneficiar de impunidade. Quem rouba uma carcaça para matar a fome é preso, mas quem se apodera de milhões fica em liberdade, como se vê em nomes bem conhecidos.


Atrás foram alinhavadas hipóteses possíveis, dentro das hipóteses permitidas pelos mistérios do futuro. Mas, com elas, perpassou o desejo de que os nossos eleitos, governantes e de outros altos cargos, se concentrem com alta prioridade, nos essenciais interesses nacionais, para melhorar a imagem de Portugal e a qualidade de vida dos cidadãos.


Os políticos não são apreciados pelos cidadãos mais atentos, não inspiram confiança e não geram esperança em melhor futuro. “Os actuais partidos na AR defendem mais o Estado a meter-se nas nossas vidas do que as nossas vidas a serem facilitadas pelo Estado”. Se a democracia é o poder do povo, as decisões devem partir das vontades e das necessidades dos cidadãos e não da política autoritariamente imposta aos cidadãos.


É desejável que o sistema político-partidário e o sistema eleitoral sejam revistos por forma a que o País entre numa rota de desenvolvimento com uma convergência de vontades obtida por consultas populares, para felicidade de todos e para que extremistas e radicais sejam contidos na proporção e na lógica que lhes é adequada.


António João soares

21 de Agosto de 2018


terça-feira, 21 de agosto de 2018

APRENDER COM OS ERROS

Aprender com os erros
(Publicado no semanário O DIABO em 21 de Agosto de 2018)

Para viver a vida não é necessário conhecer grandes teorias e filosofias, bastando a simples sensatez de ir aprendendo com os pequenos erros e acidentes do dia-a-dia. Em criança aprendemos a andar, com os ensinamentos obtidos em cada queda. De cada erro devemos retirar lições para evitar a repetição de acidentes. A sensatez, a perspicácia e a persistência na procura de melhores soluções, constituem uma ferramenta essencial para a vida.

O que se tem aprendido com os grandes fogos florestais? Parece que foi aprendida alguma coisa, mas muito pouco. É gritante o caso do «plano de intervenção florestal por aprovar há sete meses» apresentado pela Associação dos Produtores Florestais do Barlavento Algarvio (Aspaflobal), com um projecto estruturante para a Zona de Intervenção Florestal de Perna Negra, em Monchique, onde começou precisamente o incêndio que durou vários dias com a destruição de grande área de floresta e o abandono das residências por muitas centenas de moradores.

Tal demora demonstra grande desleixo, inconsciência e ausência de sentido de responsabilidades de meninos burocratas do Instituto de Conservação da Natureza (ICNF) que não fazem ideia dos perigos que uma demora mesmo que pequena pode causar. Houve enorme falta de respeito pelos direitos da população que espera dos Poderes protecção e prevenção de grandes males. É grave uma organização como o ICNF, um pilar da Protecção Civil, sem ter capacidade de actuar na supervisão das medidas de prevenção e incêndios nas florestas do território nacional.

Antes que incêndio deflagre deve ter sido aplicada uma prevenção que deve ir do ordenamento do território ao tipo de árvores plantadas, passando por outros pormenores como a criação de faixas de descontinuidade ou asseiros (caminhos entre o arvoredo com largura adequada ao efeito desejado) que sirvam de corta-fogo, impedindo o seu alastramento por grandes áreas e facilitando o deslocamento dos meios motorizados de ataque. Principalmente, quando se trata de território de orografia complicada, deve ser evitada a todo o custo a continuidade de vegetação na serra, sendo indispensáveis as faixas de descontinuidade de largura adequada. Após um incêndio em Tavira em 2012, um técnico categorizado concluiu que, dos 120 quilómetros que deviam existir destas faixas de descontinuidade, apenas existiam 30 quilómetros. É um aspecto que deve ser corrigido com eficiência em todo o território nacional.

Quanto ao tipo de árvores, os eucaliptos têm sido alvos de muitas acusações. É certo que esta árvore, originária de climas muito diferentes tem tido bom comportamento quando plantada de forma muito regular pelas empresas de celulose, em condições que evitam incêndios graves. Mas tornou-se uma praga, expandida por forma completamente descontrolada, plantada sem os cuidados que lhe devem se inerentes. Para controlar e reduzir tal praga, é indispensável uma cuidadosa gestão do Estado com supervisão efectiva em todo o espaço rural nacional. A área de eucalipto deve sofrer uma diminuição acentuada e haver substituição por outras espécies como carvalhos, castanheiros, sobreiros, nogueiras, etc.

Quanto à necessidade da limpeza das matas que, pelos vistos, foi muito negligenciada e há pormenores que não podem ser deixados a desmaselos de pessoas sem preparação a fim de não contribuírem para que Portugal seja um deserto dentro de poucos anos, por não haver novas árvores que substituam as actuais quando a idade as derrubar. Sobre isto, já disse o que penso, no artigo «sem ponderação, a limpeza pode destruir o pinhal» publicado no semanário O DIABO em 3 de Abril.

Convém reflectir sobre esta assunto, com profundidade, a fim de se evitarem erros semelhantes aos anteriores.

António João Soares
14 de Agosto de 2018

domingo, 19 de agosto de 2018

CARTA ABERTA DE AGENTE DE AUTORIDADE

Para reflectir
19 Ago 2018

• Sou órgão de polícia criminal, agente da força pública ou agente de autoridade, o que queiram chamar.

• Alistei-me para servir todos os cidadãos, jurei cumprir e fazer cumprir a Constituição da República. Jurei defender os fracos e oprimidos. Jurei ajudar e defender quem de mim precisasse mesmo que para isso tivesse que sacrificar a própria vida.

• Chego à conclusão que não sei qual é o meu papel numa sociedade que não quer ser defendida, protegida e só sabe críticar. Mesmo assim arrisco tudo para que ela funcione.

• Se autúo um infrator de trânsito derivado à sua condução perigosa, sou um bandalho que só estou a lixar a vida das pessoas, esquecem que é o meu trabalho e estou a zelar pela segurança do próprio e dos mais utentes da via. Se sou chamado a intervir numa bancada de um estádio de futebol por causa das claques organizadas estarem a utilizar artefactos pirotécnicos e a causar distúrbios pondo em risco os outros espectadores sou violento. Se atuo num caso de bulling contra os vossos filhos sou repressor, são crianças eles entedem-se. Se abordo um traficante ou um passador por estar a vender droga (que até pode ser a um dos vossos filhos) só me meto com quem tenta ganhar a vida.


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

REGRESSAMOS AO SUBDESENVOLVIMENTO?

De regresso ao subdesenvolvimento sem o percebermos?
Por José Gomes Ferreira

Durante anos, receei que estivéssemos a caminho da Grécia. Por razões financeiras, orçamentais e fiscais. Continuo a recear, pelas mesmas razões.

A linha que separa o equilíbrio do roulement de dívida pública e privada, numa economia que cresce pouco, da impossibilidade súbita de não se conseguir pagar aos credores, é tão fina como um fio de navalha. Qualquer deslize imediatamente corta e faz sangrar.

Mas há um perigo maior. Um país a gangrenar de corrupção. Que estamos a redescobrir, mais uma vez.

Um ministro que faz lobby pela obtenção ilegal de devoluções de IVA de milhões de euros a favor de amigos;

Um ministro que discrimina a atribuição de vistos gold a favor dos cidadãos estrangeiros que rendem mais para quem lhos concede;

Um ministro que faz parte de uma teia de favorecimento, prevaricação e tráfico de influências;

Um grupo de advogados e de altos funcionários da Administração Pública que ajudam essa tenebrosa rede a conseguir lucros de milhões;

Um primeiro-ministro que recebia dezenas de milhões de euros dos empresários e banqueiros que favorecia.

Um banqueiro-mor que recebia pagamentos de comissões de milhões de euros de empresários amigos;

Um banqueiro-mor que pagava a políticos, funcionários, gestores, decisores e partidos do regime para garantir a sua teia de fidelidades.

Um Governo que fazia aprovar Regimes Especiais de Regularização Tributária, RERT, que branqueavam o regresso ao país dos capitais escurecidos da corrupção e do compadrio.

Um Parlamento que aprovou estes RERT sem pestanejar, sem ponta de crítica.

Um grupo de deputados de esquerda e de direita que sabia exatamente o crime legislativo que estava a votar.

Um procurador e um juiz de instrução todos os dias ridicularizados em inúmeras situações, declarações, entrevistas, mensagens orquestradas para os denegrir e desmoralizar.

Um corajoso corpo de investigadores da Polícia Judiciária, da inspecção Tributária, do Ministério Público, dos Tribunais de Instrução Criminal, todos os dias a torcer as mãos de apreensão, como medo que o seu dedicado e minucioso trabalho seja reduzido a tiras de papel em qualquer máquina trituradora das instâncias de recurso dominadas por aventais, compassos e triângulos dotados de poderes mágicos para apagar o que a preto e branco vai sendo escrito.

Um banqueiro corrupto instalado no âmago do coração financeiro do Estado, a Caixa geral de Depósitos, onde fazia passar empréstimos de baixo spread para amigos e financiamentos de favor para comparsas.

Um autarca que endividou a sua autarquia até ao tutano e que queria continuar no poder para fazer mais três pontes sobre o rio Douro, mas que tarda em ser devidamente investigado..

Um Parlamento de deputados ávidos de alterar legislação incómoda para os apanhados na rede.

Agentes da investigação criminal apanhados a chantagear suspeitos em proveito próprio;
Responsáveis de escolas e associações de escolas de condução a embolsar milhares de euros pela venda de cartas aos candidatos a condutores;

Médicos que empanturram doentes de medicamentos que lhes garantem, a eles médicos, faustosas viagens à Austrália e a reservas de caça da África profunda.

Médicos que empurram doentes aflitos em recurso para clínicas de capital detido por si próprio, familiares e amigos.

Funcionários, chefes de secção, diretores de departamento que emperram projetos anos a fio para depois venderem facilidades através do poder afrodisíaco de pôr um carimbo de Estado num simples papel.

Lobbies de jogo de azar que pagam a partidos políticos e departamentos de fiscalização para não terem de entregar parte dos impostos de lei ao Estado.

Portugal vive alheadamente na mais profunda corrupção de leis e comportamentos públicos e privados. Pior, vive na mais profunda corrupção moral na gestão da causa pública. O Parlamento que aprovou as leis das negociatas das PPP, dos swap, das engenharias financeiras que engordaram banqueiros, grandes gestores, consultores e advogados à custa dos pequenos empresários e de todos os contribuintes; O Parlamento que aprovou os programas Polis que engordaram arquitectos, construtores, fornecedores e importadores de materiais à custa de todos os portugueses;

O Parlamento de todos os esquemas inventados por juristas para favorecer clientes, juristas que são os próprios deputados que aprovam as leis regulamentadoras destes esquemas.

Os portugueses redescobrem, mais uma vez, que Portugal é um país profundamente corrupto. E que não é esta legislatura que se vai acabar com este estado de tragédia moral e financeira.

Como disse o economista Joaquim Ventura Leite, ex-deputado do PS que já o não voltou a ser a partir de 2009, em litígio aberto com Sócrates e toda a tralha que o acompanhava, o actual Parlamento reproduz o mesmo regime de interesses que as versões anteriores. Com uma única excepção — o deputado do Partido dos Animais.

Um Portugal a gangrenar de corrupção. Que começa na casa da Democracia.

A divisão do país em duas partes - que é tanto ideológica como partidária e, nessa medida, geográfica: direita no Norte e na Madeira, esquerda no Sul e nos Açores — não ajuda, agrava esta situação de podridão.

Triste fado.

Merecemos melhor.

Somos capazes de fazer bem melhor.

Quem paga esta podridão são os pequenos e médios empresários cada vez mais asfixiados em taxas e alcavalas — e os grandes que não compactuam com os esquemas do regime.

São os cidadãos portugueses sob a forma de mais impostos, menos empregos e menos desenvolvimento económico.

Cortássemos nós o fio vital da Moeda Única, das suas regras, instituições e fiscalizações externas permanentes e já teríamos sido atirados há muito para a lista dos países subdesenvolvidos, eufemisticamente reclassificados de países em desenvolvimento para não ferir susceptibilidades politicamente corretas

terça-feira, 14 de agosto de 2018

COMO VAI O MUNDO?

Como vai o Mundo!
(Publicado no semanário O DIABO em 14 de Agosto de 2018)

Há muito que venho criando a convicção de que a maior parte das palavras proferidas por políticos são para esquecer, pelo menos quando fazem propaganda que pretende iludir os ouvintes com promessas que asseguram, que garantem, que vão ser cumpridas mas que, na realidade, eles esquecem de imediato. Pretendem criar esperança e optimismo que não passa de ilusão. Com isso, esperam melhorar os resultados de sondagens e colher mais votos em eleições posteriores.

Mas agora aparece o conceito de “jogo de loucos” que, a princípio, considerei uma invenção desrespeitosa, mas que aparece demonstrada para ex-Presidentes americanos e com continuidade no presente. Trata-se de ameaças altamente belicosas feitas com divulgação pública, destinadas a amedrontar o rival, por forma a ele se dispor a aceitar negociação em condições que lhe sejam pouco convenientes.

Isso está sendo visível na situação actual entre EUA e Irão, com fanfarronices de ambos os lados. A pequena Coreia do Norte levou o jogo ao ponto de ameaçar com arma nuclear o gigante EUA e Trump prontificou-se a sentar-se à mesa com Kim Jong-un para o levar a desistir de tal acto insensato. Não desistiu de tomar a sua parte no jogo e, poucas horas antes da hora marcada, disse que a reunião não teria lugar. Mas não demorou a parar o jogo e a sentar-se à mesa.

Com o Irão, o jogo deve ser muito ponderado, para evitar que a guerra que foi iniciada no Iraque por um jogo mal jogado gerando uma guerra que ainda fere o Médio Oriente, não vá agora alargar-se ao centro da Ásia ou a todo o mundo. Outra partida deste jogo foi o lançamento da bomba “mãe de todas as bombas” (MOAB), em 12-04-2017 no Afeganistão, com a finalidade de calar o Estado Islâmico, mas que não resultou, pois os ataques e outros atentados terroristas continuaram.

Mas se o jogo de loucos pode gerar um conflito mundial, como Trump referiu a propósito de Montenegro, há o jogo nacional de procurar controlar a afectividade das pessoas através de promessas de projectos desejáveis e ilusórios impossíveis de realizar dadas as carências financeiras do Estado. É o caso, entre outros, da notícia acerca de obras de intervenções na rede ferroviária “Ministério anuncia 58 quilómetros de obra quando na verdade são apenas 16”, apenas 27% do prometido, e mesmo isso pode falhar. Mas há casos em que o prometido tem sido muito superior a 3,6 vezes do realizado. E assim, vemos o Ensino em carência, o Serviço Nacional de Saúde com muitas dificuldades, a Justiça sem condições para parar a epidemia da corrupção generalizada em todos os sectores, as forças de Defesa e de Segurança a perderem credibilidade e sem capacidade de obterem a eficiência que merecem e de que precisam com urgência.

E, perante estes jogos “habilidosos” praticados por políticos, das potências mundiais e dos Estados de qualquer dimensão, seria bom que os que se consideram líderes de regimes democráticos, reflitam serena e profundamente sobre a moralidade dos seus actos, em respeito pelos seus cidadãos, e revejam os valores éticos a que devem obedecer. Só com uma maior honestidade perante os que dependem das suas decisões, o Mundo em que vivemos será mais civilizado.

Mas, infelizmente, no nosso caso, as condições estão a ser melhores para imigrantes do que para quem trabalha seriamente, como se vê nas notícias “Mais de 14 mil enfermeiros pediram para emigrar nos últimos sete anos” e “Mais de 17 mil médicos e enfermeiros emigraram nos últimos oito anos”. “Emergências. Central 112 com menos de metade do número ideal de operadores”.

E o ensino deve ser melhorado por forma a deixar de haver razão para notícias como “gente que trabalha bem: uma espécie em extinção” em que é defendida a afirmação de que “vivemos na era do pacto da mediocridade”.

António João Soares
7 de Agosto de 2018


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

REDUZIR A OCORRÊNCIA DE MEGA-INCÊNDIOS

Eucaliptos, florestas e fogos: os mitos e os factos
da autoria de José Miguel Cardoso Pereira, Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, é um texto muito esclarecedor que reduz a mitos muito daquilo que tem sido dito e escrito e apresenta factos muito elucidativos e que devem ser tomados em devida conta ao ser planeada a prevenção e estruturado o combate. O texto, é longo e, por isso, apenas apresento a parte final mas, no início está o link que pode levar os interessados ao texto integral.

... O factor que mais propicia a ocorrência de mega-incêndios é a existência de grandes extensões ininterruptas de florestas e matagais, muito mais do que a natureza da espécie que constitui a floresta. É por isso que é importante construir e manter uma rede de faixas largas, tratadas periodicamente para manter cargas muito baixas de vegetação combustível e em localizações estrategicamente selecionadas no terreno. Estas redes devem, sempre que possível, incorporar áreas agrícolas e outras desprovidas de vegetação, como zonas rochosas e albufeiras de barragens. A função destas faixas de gestão de combustível não é, por si só, deter a propagação do fogo, é sim propiciar locais onde o combate seja simultaneamente mais seguro e mais eficaz. Isto exige um grau de integração entre acções de prevenção e de combate bastante superior ao que actualmente caracteriza o sistema nacional de defesa da floresta contra incêndios. O facto de uma das prioridades estratégicas da futura Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais ser a aproximação entre a prevenção e o combate é motivo de esperança acrescida em que se venha a concretizar o potencial deste tipo de intervenção de larga escala territorial.

Tenho a noção de que muito do que aqui ficou dito contraria hipóteses populares entre boa parte da opinião pública, mas que são contraditadas por análises objectivas dos dados relevantes. Por muito apelativas que algumas dessas hipóteses possam ser, não resistem ao confronto com o que T.H. Huxley, o biólogo evolucionista contemporâneo de Darwin, chamava “ugly little facts”.

Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa


terça-feira, 7 de agosto de 2018

ESTRATÉGIAS DIFERENTES

Estratégias diferentes
(Publicado no Semanário O DIABO em 7 de Agosto de 2018)

A Natureza, com as suas diferentes e variadas nuances, oferece beleza. Mas a Humanidade apresenta extremismos e radicalismos preocupantes e chocantes, muitas vezes, em consequência de caprichos, de desrespeito pelos direitos dos outros e de arrogâncias e autoritarismos indesejáveis.

Dois casos merecem a atenção dos poderosos. A China, sendo o maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo, com quase um quinto da população da Terra, desde os tempos históricos do «Império do Meio», tem usado de pacifismo e de respeito pelos outros povos. Com a intenção de impedir a invasão dos mongóis, iniciou antes de 221 a.C. a construção de uma forte muralha com 3.000 Km de extensão mas, mesmo assim, não evitou ser invadida pelos mongóis no início do séc. XIII, apenas os expulsando em meados do séc. XIV. Depois disso, sofreu a guerra do ópio e, mais recentemente, a invasão japonesa, durante a II Guerra mundial.

Nos tempos mais recentes, evidenciou de forma bem visível o seu pacifismo, no restabelecimento de relações amigáveis entre as duas Coreias, na desnuclearização da Coreia do Norte, no relacionamento desta com os EUA e no apaziguamento dos atritos no mar meridional.

Há dias, o Presidente chinês, Xi Jinping, fez uma visita de Estado ao Senegal para assinar dez acordos de cooperação e afirmou que o continente africano "promete um futuro radioso" pelo "grande dinamismo" que demonstra. Já antes tinha afirmado que a China está a preparar apoios ao desenvolvimento dos Estados africanos, respeitando as suas culturas e tradições. Pelos vistos, a promessa foi baseada em intenções devidamente ponderadas, como agora ficou claro.

No outro extremo, encontra-se Trump, a querer mostrar que é dono do mundo e, em cujas palavras, se encontra ódio e agressividade. Não respeita os acordos e tratados assinados pelo seu Estado, como o acordo de Paris, as posições do Grupo dos Sete, o acordo com o Irão. Usa modos pouco corteses com os seus dois vizinhos, México e Canadá e até já disse que a União Europeia, a Rússia e a China são inimigos da América.

Ao referir-se ao Montenegro, pequeno Estado europeu com apenas 640.000 habitantes disse que é um país pequeno com pessoas muito agressivas que podem iniciar a Terceira Guerra Mundial! «Diz coisas» que, por vezes, desmente de forma infantil. Quando do encontro com o Presidente da Coreia do Norte, desmentiu o local e a data poucas horas antes de o realizar como inicialmente tinha decidido.

A ameaça de empregar a força militar é quase constante e, por vezes, concretizada, como na explosão da «mãe de todas as bombas» no Afeganistão e o bombardeamento na Síria com um pretexto não comprovado. A «mãe de todas as bombas» lançada no Afeganistão em 13 de Abril era destinada a exterminar o EI, foi considerada muito eficaz pela propaganda americana, mas o seu efeito foi o oposto. Com efeito, 7 dias depois, militantes talibãs mataram 30 soldados afegãos e capturaram uma base militar, um atentado suicida causou 31 mortos e 54 feridos, 8 dias depois duas explosões na capital causaram 25 mortos e 45 feridos. Ainda não se convenceu de que a violência pode gerar mais violência, numa escalada incontrolável.

Não tem prudência, nem diplomacia, para negociar com frontalidade e franqueza qualquer ligeiro conflito. Além do caso de Montenegro, merece ser referido o modo como está a enfrentar o Irão com quem os EUA tinham um acordo sobre a energia nuclear que decidiu romper em desrespeito pelo compromisso aceite pelo seu País, fixou sanções económicas e ameaçou que reagiria com a máxima força a qualquer atitude hostil. Só conhece a força não gosta de diálogo.

António João Soares
31 de Julho de 12018