domingo, 16 de agosto de 2009

Ensino com sezões crónicas. 060521

(Publicada no Público em 21 de Maio de 2006, pág. 6)

Num jornal de 12 de Maio vem em destaque a seguinte frase da ministra da Educação: «Mais de 400 mil alunos passaram nos últimos anos pelo secundário sem o concluir. Esta tendência não é natural nem aceitável face ao esforço financeiro do Estado». Realmente, não é aceitável termos sucessivos ministérios da Educação que tenham deixado chegar esta coisa a situação tão deplorável. 400 mil alunos constituem uma amostra demasiado representativa que impõe profundas reflexões e não se resolve com uma simples declaração pública. Se o ensino estivesse estruturado com realismo e adequação à sociedade a que se destina e às condições do País, não nos confrontávamos agora com este valor, demasiado escandaloso e dramático. Pergunta-se o que tem feito a ministra para estancar esta deserção maciça?

Por outro lado, a ministra usa como argumento, muito do gosto dos actuais governantes, o «esforço financeiro». Aqui o argumento joga contra ela e os seus colaboradores, pois, pelas suas palavras, fica provado que o ministério tem gasto muito dinheiro dos contribuintes, inutilmente ou de forma contraproducente. Aquilo de que o ministério tem necessidade não é de dinheiro que, pelos vistos, abunda e é mal utilizado, mas sim de pessoas competentes e sensatas, sem ambição de publicidade e popularidade, que se compenetrem dos verdadeiros objectivos do ensino e, com a colaboração de professores, determinem as medidas mais adequadas para incentivar os alunos a estudarem aquilo que lhes é útil para se transformarem em profissionais capazes de fazerem progredir Portugal, na produtividade da sua economia, no aumento das exportações e, consequentemente, no acréscimo do bem-estar e qualidade de vida deles próprios e dos seus futuros descendentes.

Sem a visível utilidade das matérias ensinadas, sem uma metodologia aliciante ao estudo e à investigação, não poderá estancar-se o êxodo dos alunos. Sem uma visão realista e sensata, escusa a ministra de exaurir os cofres do Estado, porque já abunda nas cadeiras dos ministérios quem cometa o crime de lesa-Pátria de fazer avultadas despesas improdutivas e inúteis. E nunca deve esquecer que os países que se destacam por terem sentido grande surto de desenvolvimento e nos darem lições, iniciaram o seu processo pela adequação do ensino às necessidades dos projectos económicos, sendo esse o primeiro passo, o qual, segundo as palavras da ministra, ainda não se vislumbra quando será dado. E assim continuaremos até...

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