terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

MÉDIA E EPIDEMIAS SOCIAIS

Os Média alimentam epidemias sociais
(Publicado em O DIABO de 21 de Fevereiro de 2017)

As notícias de que a indisciplina está a aumentar nas escolas não poder ser apenas atribuída à deficiente educação recebida em casa e nas próprias escolas mas, resulta em grande parte, de uma degradação progressiva e acelerada que a sociedade vem sofrendo devido a factores variados com os quais é conveniente ter cuidado: o papel dos média e o abuso de recurso à Internet por pessoas ainda mal preparadas. Quanto aos pais, a sua ocupação nos empregos leva-os a deixar os filhos em creches onde são acompanhados mas não educados de forma a tornar-se crescidos e cidadãos responsáveis. Por isso, com tal complexo de culpa, quando estão com os petizes, não os contrariam e satisfazem todos os sus caprichos.

De posse, desde tenra idade, de smartphones, bebem de fontes desconhecidas muita informação, por vezes nociva, que lhes desenvolve uma mentalidade dificilmente controlada por pais e professores. Em vez de mimosos arbustos decorativos, integrados no jardim da civilização, crescem como robustas árvores selvagens misturadas em selvas descontroladas.

A Comunicação Social, tem-se preocupado mais «com o homem que morde o cão do que com o cão que morde o homem», mais com o malfeitor e o criminoso do que com o que se distingue na investigação científica, na arte, na cultura, na boa gestão, na inovação, na defesa e protecção dos sem-abrigo, etc. Essa tendência estimula e incentiva as mentes mal formadas na procura da celebridade pelo mau caminho, imitando os falsos «ídolos» criados por noticiários sucessivos.

Recordo que quando Marilyn Monroe faleceu, inesperadamente, em 5 de Agosto de 1962 por provável overdose ou suicídio, houve uma atitude mundial dos órgãos de CS para não ser dado muito espaço ao assunto a fim de não provocar uma onda de suicídios em jovens fãs da actriz, possuidoras de mente menos sensata e que podiam ser levadas a imitar o seu ídolo. Actualmente, essa atitude solidária está a funcionar ao contrário, tornando heróis os criminosos que são citados durante horas e dias seguidos mostrando as suas fotos, como foi por exemplo o caso de Aguiar da Beira e de outros, chegando ao exagero de divulgar pormenores das habilidades utilizadas nos crimes. Parecem querer ser escolas de crime, só faltando alvará para poder fazer exame e dar diploma. Vários amigos têm-me dito que nem sequer querem olhar para a página frontal de um jornal que abusa de tais «sensacionalismos».

Falar muito de casos de violência, além de os aumentar e generalizar, são autêntico terrorismo ou guerra psicológica que causa mal-estar nas pessoas criando nelas medo de sair à rua e até de continuar a viver. Os grandes movimentos de terrorismo pretendem criar esse estado de espírito aterrorizado.

Repare-se no endeusamento da coscuvilhice à volta de pretensa troca de e-mails entre um ministro e um cidadão que quer manter oculta a sua fortuna. Desde a AR, que se esquece da sua obrigação perante os cidadãos, até aos jornais, isso é prioritário e sobrepõe-se ao pr EPIDEMIAS SOCIAISoblema dos sem-abrigo que enfrentam as péssimas condições meteorológicas, ao dos idosos e deficientes solitários, à necessidade de reformas de serviços a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas com carência vitais, etc.

Há dias criticaram a falta de qualidade de um lar de idosos, mas não provaram que não havia melhor alternativa à escolha dos clientes e não alertaram governo, serviços e população para soluções desejáveis e possíveis. O que é bom e deve ser apontado como exemplo deve passar a ocupar mais espaço na informação pública para estímulo e incitamento à competição por mais e melhor. Mas a prática tem sido deixar passar isso ao lado. Por exemplo O Ronaldo é mais citado por alguns defeitos (não há quem os não tenha) do que pelo bem que faz aos familiares, a doentes, a deficientes e a carentes, numa acção exemplar de solidariedade e de generosidade para os necessitados. Há pessoas mais ricas que não olham para um pobre com vontade de o ajudar. E até há críticas para a actividade do PR ao pretender mostrar a necessidade de lutar contra as diferenças sociais demasiado chocantes. Ele bem merece ser seguido por «apóstolos» dispostos a ajudar a concretizar os objectivos que ele pretende ver resolvidos.

Será conveniente que a CS mostre modelos de virtude e estimule as pessoas, os voluntários e as instituições, no respeito por valores sociais, criando gosto pelas boas práticas profissionais, pela cultura, pela arte, pela investigação científica, etc. Entrevistem-se os galardoados com prémios internacionais, os que registam patentes de inovações, etc. Escolham-se boas bandeiras para mostrar Portugal aos portugueses.

A João Soares
14-02-2017

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

TRUMP QUER LUTAR CONTRA O TEMPO

Trump quer lutar contra o tempo
(Publicado em O DIABO de 14 de Fevereiro de 2017)

Trump está a tentar cumprir aquilo que prometeu na campanha eleitoral. Mas nem parece que a sua actividade tenha sido a «construção civil». Ninguém que deseje construir um palacete, o pode ver pronto a habitar no dia seguinte a ter manifestado tal desejo, mesmo que o tenha escrito em papel e assinado com caneta de feltro bem visível perante a câmara e vídeo. Com efeito, desde o momento em que a intenção é formulada, há muitos passos a dar para ser atingido o objectivo, desde a escolha do local, a elaboração dos estudos e planos até à entrega da chave, há muitos e diversificados trabalhos a levar cabo. As fases intermédias, ou objectivos parciais, são entregues a técnicos especializados – arquitectos, engenheiros, estocadores, pintores etc – cujo trabalho deve ser acompanhado e sujeito a observações e opiniões do patrão. Este deve abster-se de querer inserir o mobiliário antes do momento adequado e, só nessa altura deve, fazer a escolha das ofertas de mercado que lhe agradam e recusar as outras. É preciso dar tempo ao tempo e não baralhar tudo a fim de evitar fazer trampa.

Ora ele, parece querer resolver cada uma das suas intenções, apenas com o efeito milagroso e um papel assinado com pompa e circunstância, no seu gabinete, perante o operador de vídeo, mostrando para a máquina a sua assinatura bem vistosa.

Para um gestor competente, com sentido da responsabilidade, isso pode ser apenas o sinal de partida para uma longa maratona. Sem serem criadas as necessárias e adequadas condições, sem ser preparado o pessoal que vai ter de agir de forma diferente daquela a que está habituado, e sem conquistar a aceitação e a adesão das pessoas que vão ser atingidas pelos efeitos da mudança, dificilmente podem ser esperados os melhores resultados.

As reacções já visíveis em determinados sectores, não apenas nacionais, mas também de muitas partes do globo prenunciam as dificuldades que advirão de decisões complexas e precipitadas sem a adequada ponderação e busca da melhor alternativa. A forma como um seu admirador agiu contra uma mesquita de Quebec, pode ser considerado o primeiro sinal, e muito preocupante, do ambiente de confusão criado.

Sobre a preparação da decisão, sugiro a leitura do texto publicado no jornal «O DIABO» em 27-09-2016. A metodologia nele apontada aplica-se a todo o tipo de decisões e é imprescindível naquelas que irão afectar a actividade de muita gente e de vários países. Desde a adopção de uma intenção até iniciar a acção para a sua concretização há um cuidadoso e meticuloso trabalho mental, burocrático e de contactos com pessoas, directa ou indirectamente, atingidos, a elaborar.

Também se relaciona com este tema o texto «promessas e decisões anunciadas precocemente» publicado em O DIABO de 18 de Outubro de 2016, em que se mostra a vantagem de as coisas não serem publicitadas, antes de estarem bem definidas e ponderadas, para não exigirem recuos desvantajosos para o prestígio e a imagem do decisor.

Não é por acaso que, num alto cargo, o responsável dispõe de uma equipa, que pode ser muito numerosa e diversificada, para colaborar na formulação de todo o trabalho antes de a decisão saltar para o público. Isso mostra bem que a decisão a esse nível não constitui uma obrigação pessoal, prepotente, autoritária, por capricho, sem atender aos pareceres de colaboradores. Não se pode aplicar uma norma do tipo «quero, posso e mando».

A João Soares
O7.02.2017

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

POLÍTICOS E DECISÕES DA AR

Políticos e decisões da AR
(Publicado em O DIABO de 7 de Fevereiro de 2017)

Recordo uma leitura de Eça de Queiroz que criticava um cidadão por querer candidatar-se ao parlamento sem ter fortuna que lhe permitisse viver com boa qualidade sem precisar de mamar na teta do erário. A política, no seu conceito, era um serviço público, de generosidade, próprio de ricaços que podiam a ela dedicar-se à custa dos próprios meios. Hoje, tal actividade nada tem de generosidade e pouco tem de patriotismo, tendo-se tornado numa forma de vida fácil e bem remunerada, sob diversos aspectos. É vulgar ouvir-se que o objectivo que leva um mau estudante a ingressar em tal «carreira» é o desejo de grande enriquecimento, em curto prazo e por qualquer forma, o que é garantido pela imunidade e impunidade, facilitada pela exagerada tolerância dos contribuintes que receiam denunciar actos de corrupção e outros vícios parecidos e pela complacência da Justiça. Não há conhecimento de notícias de ex-políticos a viver com privações.

Costuma dizer-se que têm a faca e o queijo na mão e não vão limitar-se a comer apenas pão. E para adquirir habilidades têm convívios de verão, a que ostensivamente chamam universidades de verão, em que confidenciam truques usados pelos mais experientes e assim acamaradam e se tornam cúmplices e coniventes, dispostos a encobrirem-se e a denunciarem e achincalharem os que estão no governo, ou vice-versa.

Acerca de tais habilidades, li há dias uma crítica ao Presidente da AR, segunda figura da hierarquia o Estado, por decidir não prolongar, ad eternum, uma comissão de inquérito parlamentar, alegando nessa crítica que o inquérito iria informar os portugueses de erros cometidos na CGD. Mas, na realidade destas comissões nada de benéfico tem decorrido para a informação dos cidadãos, como se constatou no caso do Inquérito ao BES, que durou vários meses, e não foi conhecido nenhum resultado obtido para benefício dos portugueses, compensador da despesa feita pelos deputados. Houve certamente, benefício para os deputados que faziam parte da comissão e recebiam pelo tempo nela investido. Residia aí o desagrado do queixoso de o inquérito à CGD não ser prolongado, mesmo com risco de contribuir para o aumento do défice orçamental e da dívida pública.

Esquecem ou nem querem pensar nisso, que Portugal é um país pobre e submerso numa crise prolongada, não tornando aconselháveis tentações de ostentação de riqueza fictícia. Quando chegam ao nosso conhecimento dados sobre as condições de trabalho e de alojamento de deputados do Reino Unido e de vários Estados nórdicos, não podemos ficar felizes com as habilidades, as vaidades e as ambições dos nossos roedores e estimação.

Há dias, um amigo dizia que a quantidade de deputados devia ser reduzida a metade da actual. E que nem se trata da proporcionalidade com a população ou com a área ou com o PIB do país, em comparação com alguns países europeus, mas sim pelo pouco tempo que utilizam para analisar os problemas nacionais, as condições de vida da população do interior em despovoamento acelerado e da qualidade de vida de muita gente nos subúrbios das grandes cidades. Não se vê neles interesse na reorganização de sectores obsoletos e com demasiados penduras em tachos inúteis, a sugar o erário sem resultados vantajosos para o público. Mas desperdiçam tempo a criticar o Governo, de forma negativa, destrutiva, demolidora, quando esse órgão de soberania deve ser apoiado com críticas construtivas e sugestões de soluções consideradas vantajosas para bem de Portugal. Tal apoio, é dever de todo e cada cidadão, com os respectivos meios, e a oposição, feita de cidadãos, não deve considerar-se dispensada de tal colaboração.

Há quem ache muito interessante que anualmente seja publicada a quantidade de decisões tomadas na AR e os temas nelas abrangidos e que conste a percentagem das propostas que lhes deram origem referentes a cada partido. Por exemplo, das propostas votadas e aprovadas 20% eram do partido X, 30% eram do partido Y, etc. Isto poderia servir de estímulo para fazerem mais trabalho útil e ara facilitar a propaganda eleitoral que não precisaria de palavreado fantasista, porque demonstraria resultados obtidos em benefício do cumprimento da sua principal missão perante a Pátria.

Embora já tendo o texto praticamente terminado, não quero deixar de referir uma lição de grande interesse. A resolução do problema da TSU que tanto prazer deu à oposição ao querer triturar o Governo, acabou por ter uma solução obtida rapidamente através de conversação com os parceiros sociais. É mais um facto que demonstra que o diálogo e a negociação são mais fáceis, com pessoas racionais, com experiência da vida e com sentido de responsabilidade do que com obcecados pelo poder, pela ambição e vaidade, sem noções realistas e sem preparação para defender os interesses do povo português. Mas, atenção, o Governo não deve deixar de ter presente que não há soluções ideais, pois não há bela sem senão, e deve fazer sempre a sua análise, no cumprimento das suas funções de gerir o interesse nacional.

A João Soares
31 de Janeiro de 2017