(Publicada no Diário de Notícias 19 de Janeiro de 2006)
Os jornais alarmaram os leitores com a notícia de que, quanto a inovação, estamos no último terço dos países da Europa, com vinte anos de atraso. Mas porque não? Qual o espanto? Todos nos lembramos das vozes que se opuseram à criação de uma central nuclear que iria reduzir a dependência do petróleo, forneceria energia limpa e mais barata e estimularia outras indústrias inovadoras; as oposições iniciais à energia eólica por trazer perigo para os passarinhos mais estúpidos; à construção da barragem de Foz Côa e do complexo com ela relacionado; as dificuldades que atrasaram durante décadas a barragem de Alqueva e a de Odelouca, etc. Para quê a inovação se temos as gravuras de Foz Côa, as pegadas de dinossauro de Belas e da Pedreira do Galinha? Para quê a coincineração ou outros métodos de eliminação de resíduos tóxicos? Para quê, afinal, isso a que chamam inovação?
Estas palavras não são uma brincadeira. São a dedução lógica daquilo que se tem passado no país, a todos os níveis, apesar de recentemente se ter enfatizado a intenção do choque tecnológico. É que problemas desta complexidade não se resolvem com meras intenções. Reparemos: Na lista de cidadãos nacionais e estrangeiros condecorados nos últimos anos pelo PR, qual a percentagem de académicos, técnicos ou empresários que se tenham distinguido pelo contributo para a inovação, ou para o aumento das exportações ou para o crescimento do PIB per capita? Pelo contrário, têm sido privilegiados os agentes da cultura do ócio, o que não contribui para produzir efeitos de inovação e desenvolvimento do bem-estar dos cidadãos. Que apoio ou incentivos, práticos e eficazes, têm sido dados pelo Governo para fomentar a inovação e outras actividades tendentes à modernização e ao desenvolvimento? E estará o ensino orientado para resultados práticos?
Como pode um povo orientar-se para a inovação e criatividade se o seu orgulho se situa numa época passada de cinco séculos? Desde então, parece nada se encontrar de muito positivo. Mas os portugueses de hoje esquecem que a glória dos descobrimentos se deve a um esforço sério de estudo e investigação que gerou uma onda de inovação que ainda hoje é notável. Porque razão, a seguir, se caiu no adormecimento e ainda não se acordou? Será que o choque tecnológico actualmente em curso terá a força inovadora para abanar os espíritos adormecidos e coordenar esforços em todos os sectores da vida nacional, com vista a reduzir o atraso em relação aos nossos parceiros europeus? Oxalá que sim. O Infante D. Henrique, lá onde estiver, ficaria muito satisfeito com os seus vindouros.
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