(Publicada no Independente em 11 de Agosto de 2006)
Embora não seja grande consumidor de TV, tive há dias o prazer de ouvir parte de uma entrevista de um director de instituto universitário, com larga experiência na Suíça e nos EUA, que me levou a concluir que lá fora há a preocupação de basear o ensino, não na memória como cá, mas a capacidade de raciocínio, de formulação de dúvidas, de investigação, de procura de esclarecimentos. Tem-se como ponto de partida que a informação essencial de um curso, do Direito à Medicina, pode ser adquirida em pouco tempo, e antes dela, há que obter conhecimentos gerais, curiosidade pelo saber e hábito de pesquisa para a saciar. Desta forma, pela vida fora, o profissional manter-se-á sempre actualizado e competente, enquanto o que foi preparado pelo modelo baseado na memória depressa ficará desactualizado e ultrapassado pelo progresso da ciência, que não estava previsto nos manuais que estudou.
Esta deficiência do nosso ensino constata-se na ignorância da realidade e na incapacidade de encarar situações novas. Daí, surgem os mortos nas estradas e nas praias por não saberem raciocinar sobre os cuidados a ter; os políticos que perante situações nefastas e recorrentes decidem agravar leis antigas sendo as novas mais desprezadas do que as anteriores, mantendo a situação na rampa do agravamento; os adiamentos da venda do selo do carro por impossibilidade de avaliar o problema quanto à finalidade pretendida, a método e meios, etc. Será mesmo indispensável a fixação do dístico no pára-brisas? Não haverá outra forma mais prática de controlar os precaricadores, utilizando o cruzamento de dados?
Com tal ensino, parece ser cada vez mais difícil encontrar um técnico da função pública capaz de analisar um problema, com todos os seus condicionamentos, todas as consequências das diversas hipóteses de solução, sem o que resultam soluções claudicantes, a pedir emendas sucessivas e a agravar os problemas que era suposto resolverem, com os inerentes custos de toda a ordem.
Sócrates de novo
Há 1 hora
Sem comentários:
Enviar um comentário