(Publicada no Destak em 14 de Setembro de 2006, p. 15)
Há poucos anos fazia parte dos discursos políticos o desenvolvimento do interior do país, a igualização, em muitos sectores, entre o litoral e a raia. Para esse objectivo foram planeadas vias de comunicação, como o IP2, o IP3 e a A23, foram instalados institutos de ensino superior em cidades beirãs e transmontanas. Mas esse entusiasmo inicial parece ter passado à história e, agora, com ou sem estratégia global do Governo para este tema, tanto o ministro da saúde como a ministra da educação estão apostados em esvaziar o interior, em fazê-lo estiolar por garrote apertado que o prive do ensino básico e dos apoios de saúde.
Quanto ao ensino, que é tido como a primeira condição para o desenvolvimento de uma nação, foram fechadas muitas das escolas cuja construção tinha sido o maior motivo de orgulho na primeira metade do século passado. O fecho das escolas se não provoca a imediata desertificação, vai sem dúvida, causar a migração de pessoas menos idosas para o litoral ou para as maiores cidades. E assim se provoca o envelhecimento das populações rurais.
Quanto à saúde, é conhecido o encerramento de Serviços de Atendimento Permanente (SAP) em muitos centros de saúde, e o das maternidades, obrigando senhoras em trabalho de parto a percorrer muitas dezenas de quilómetros e a arriscar-se a ter os filhos a meio da viagem, em condições demasiado precárias. É mais um convite às senhoras em idade de ser mães a irem a viver no litoral, acentuando a desertificação do interior.
Estas medidas até poderiam ser compreensíveis se assentassem numa reorganização do tipo de povoamento rural, que consistisse em reduzir a quantidade de pequenas localidades e a criação de aldeias ou vilas em menor quantidade, mas de maior dimensão começando por projectos de expansão devidamente elaborados para não repetir o caso dos bairros clandestinos dos subúrbios de Lisboa que nunca mais poderão ser transformados em áreas de boa habitabilidade.
A agricultura de subsistência foi praticamente abandonada e os actuais meios de transporte viabilizariam a redução das localidades em troca de aldeias maiores, com melhores apoios administrativos e de comércio. Só é pena que não esteja a ser encarada uma solução deste género e estejam já a ser retirados apoios fundamentais à população. Afinal, quem se preocupa com o «Portugal Profundo»? Quem se preocupa com um projecto coerente em que se integrem as pequenas decisões do quotidiano?
O regresso de Seguro
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