(Publicada no Diário de Notícias em 29 de Junho de 2005)
Existem países dotados de acentuado grau de desenvolvimento que devem aquilo que são aos imigrantes a quem abriram as portas. Incluem-se na lista os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, o Brasil e a Argentina, nos seus tempos áureos. Os imigrantes com capacidades profissionais úteis às estratégias de desenvolvimento do país de acolhimento, devidamente enquadrados em organizações económicas eficientes, constituíram factores insubstituíveis de crescimento. Ainda, há poucos meses os EUA se declararam interessados em receber mais de duas centenas de engenheiros informáticos da Índia. A estratégia consistiu sempre em receber profissionais úteis e não pessoas indiscriminadas e sem especialização profissional.
Portugal foi, durante séculos, fornecedor de mão-de-obra, país de emigrantes que, graças às organizações e ao enquadramento no destino, granjearam fama de trabalhadores eficientes e exemplares. Partiram com vontade de trabalhar e obter riqueza, o que na grande maioria dos casos conseguiram.
Nos anos mais recentes, Portugal tornou-se país de acolhimento para imigrantes de várias origens que em grande parte vêem preencher necessidades de mão-de-obra principalmente nas obras públicas e na construção civil. Mas a nossa deficiente organização e enquadramento não permite que do seu trabalho tenha resultado um surto de desenvolvimento semelhante ao verificado nos países atrás referidos. E o aspecto mais negativo assenta na falta de estratégia para a imigração de que tem resultado a prostituição, com tráfego de mulheres utilizadas nas «casas de alterne» e, não menos grave, a quantidade de mendigos, incluindo mulheres e crianças que infestam as cidades. Nalguns casos, a mendicidade surge de tal forma organizada que mais parece uma actividade «industrial» para transferência de fundos. E, sendo Portugal um dos países mais pobres da Europa, não pode nem deve ignorar os seus muitos pobres (muitos sem coragem para mendigar – a pobreza envergonhada) e orientar a sua generosidade para pessoas desconhecidas cuja vida e necessidades são verdadeiras incógnitas.
E, para mais, sendo Portugal visitado por grande quantidade de turistas, não deve apresentar a estes os espectáculos pouco edificantes, com actores estrangeiros, que se vêm na baixa lisboeta e nos transportes públicos. O conceito internacional de Portugal sai bastante degradado devido às imagens que os turistas levam na retina e nas máquinas fotográficas e de vídeo, o que não é nada favorável a um país que deposita grande esperança no turismo como fonte de divisas.
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