(Publicada no Destak em 13 de Julho de 2005)
Certamente, as pessoas não estão esquecidas das promessas solenes ouvidas durante a campanha eleitoral e logo traídas após as eleições. Tem havido governantes que dizem que as palavras eleitorais são o que são, isto é, não são para cumprir. Será isso o «embuste»? Foi a contradição de aumentar os impostos. Depois, foi o «lapso» do ministro que prometeu um juiz a fazer rusgas ao lado dos polícias. Há poucos dias a ministra da Educação evidenciou a sua ignorância acerca do estatuto autonómico dos Açores e da integração do Arquipélago na República Portuguesa e, perante a reacção do País estupefacto, disse que «errar é humano» e se tratou apenas de «um pequeno lapso». Mais recentemente, o ministro das Finanças, perante uma «incorrecção» de 140 milhões de contos num mapa da proposta do Orçamento Rectificativo, disse não ser um erro mas apenas «falhas irrelevantes». Pois é «errar é humano» e o Governo está a ser mais «humano» do que seria desejável.
Curioso é que estes dois ministros, tão compreensivos, condescendentes e tolerantes para com os próprios erros, são professores universitários e, como parece óbvio, aceitarão os erros dos alunos como «pequenos lapsos», «incorrecções» ou «falhas irrelevantes» o que, assim, não os impedirá de saírem com o diploma na mão, prontos para a vida profissional. E, logicamente, muitos deles enveredarão pela carreira política, com nomeações sem concurso, apenas por afinidade com a «entidade patronal», dando a esta o apoio que lhes é possível, com muita «humanidade», de que resultam casos como os referidos, de forma irresponsável e impune. E ganhando direito a boas reformas em curto lapso de tempo, a subsídios de reintegração e outras mordomias e regalias.
Olhando para este panorama, ficamos esclarecidos sobre as causas profundas da crise crónica que o País atravessa e de que o défice é a parte, actualmente mais visível, mas não a única, e de que resultam sérias restrições à qualidade de vida do povo que tem de suportar esta máquina desafinada. O povo de Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique, Marquês de Pombal e outros, merece melhor sorte.
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