(Publicada no Público em 22 de Novembro de 2004)
O relatório do Banco de Portugal esclarece que o consumo tem crescido ultimamente, o que, à primeira vista, pode significar movimentação da economia e criação de riqueza para os agentes económicos. Porém, a realidade não dá para optimismo, pois este aumento de consumo está relacionado com o acentuado crescimento das importações o que, dado o reduzido incremento das exportações, denota aumento do défice da balança comercial, isto é, da dívida externa.
Estranhamente, nada disto foi referido pelos deputados economistas na discussão do Orçamento do Estado. Limitaram-se a jogo de palavras, tricas partidárias, «guerra do alecrim e da manjerona», sem ousarem entrar nos problemas de fundo que têm de ser encarados a sério, para que o país não se afunde numa espiral de atraso em relação à Europa.
E assim vai o país, sem ninguém que use a sabedoria e a coragem de traçar directrizes estratégicas que levem os portugueses a ter a esperança no futuro deste rectângulo cantado pelos poetas como jardim à beira-mar plantado, isto é, no futuro das condições de vida que serão legadas aos filhos e aos netos. Nada se diz, nada se vê escrito sobre as medidas tendentes a revitalizar a economia e a aumentar as exportações. Desconhece-se quais os sectores da economia e os produtos industriais ou de serviços para os quais Portugal está mais vocacionado.
Ao pensar nesta desagradável situação, recordo as grandes ideias que presidiram ao desenvolvimento económico de países hoje florescentes como Taiwan, Coreia do Sul e Índia. Qualquer deles iniciou o seu desenvolvimento rápido, começando por incentivar as indústrias orientadas para a substituição das importações, a fim de reduzirem o défice externo. Depois orientaram-se para a indústria pesada dirigida para a industrialização interna e para a exportação com competitividade capaz de fazer face à concorrência internacional. Na fase mais recente, voltaram-se para as indústrias ligeiras ligadas às altas tecnologias e aos serviços com elevado pendor de software. E a história mostra que foram estratégias eficientes, com resultados inquestionáveis.
Pelo contrário, por cá, não se ouve falar de estratégias, nem sequer no momento mais sensível da discussão do OE. Contentamo-nos com a táctica quotidiana do consumismo que dá dinheiro a armazenistas, vendedores e revendedores, que, em grande parte fogem aos impostos, e que contribuem pra o esvaziamento das divisas para pagar os produtos importados. E o Natal está à porta com o pico do consumismo de coisas inúteis. Será que os políticos se recusam a pensar nestas coisas essenciais?
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