(Publicada em A Capital, em 25 de Novembro de 2004)
Perante o aumento das abstenções nos últimos actos eleitorais, o Presidente da República apelou para a necessidade da credibilização dos políticos, porque se apercebeu que os eleitores perderam a confiança e o respeito pelos detentores dos cargos públicos. Havia, por isso, que reabilitar os representantes do povo e essa seria tarefa deles, procurando mostrar-se merecedores do crédito dos cidadãos que por eles devem ser defendidos e apoiados na sua segurança e no seu bem-estar.
Mas, além desse esforço de credibilização não ter sido evidenciado, temos verificado precisamente o contrário, com os políticos degladiarem-se entre si e a atacarem e a acusarem as instituições que deviam ser respeitáveis e respeitadas. Acusam a justiça, não das suas necessidades de meios e condições de trabalho, mas, o que é grave, de perseguir uns com «cabalas» e de deixar prescrever os processos de outros, acusam de tendencioso o PGR;, criticam o INE por mostrar a desgraça em que caiu o desemprego e outros indicadores do Estado; agora acusam a AACS, apesar de ser um órgão previsto na Constituição da República, por ter emitido relatório desfavorável a membros do Governo que agiram contra a independência da Comunicação Social; os eleitos autarcas acusam o Tribunal de Contas, e, para cúmulo dos cúmulos, apareceu agora o ministro das Finanças, pessoa por quem tinha grande apreço, a acusar o Banco de Portugal de falta de isenção e imparcialidade, por ter apoiado um governo de cor diferente do actual.
Perante este drama generalizado, surge a pergunta: Haverá alguma instituição, ou algum político que mereça o nosso respeito? Recordo que houve um ministro da Agricultura que tentou convencer os cidadãos de que a BSE não representava perigo e, para isso, comeu mioleira de vaca e o resultado foi sair da circulação e não mais se ouviu falar dele. Na Educação, até os computadores foram acusados de errar, sem que os programadores e os operadores fossem citados. Na cidade de Lisboa sucedem-se os buracos, desde a Praça do Comércio à Avenida Joaquim António de Aguiar, passando pelo caneiro de Alcântara e por Santa Apolónia.
Recordo as palavras do filósofo grego definidor da alavanca e da respectiva fórmula, «dai-me um ponto fixo e moverei o mundo». Também me apetece dizer: indicai-me uma instituição respeitável para poder acreditar no futuro de Portugal. Os portugueses precisam de ter fé na sobrevivência do seu país e, para isso, é preciso mostrar-lhes seriedade, profissionalismo, rigor e eficiência e a definição de linhas estratégicas de desenvolvimento integrado e sustentável, com produtividade para competir nos mercados internacionais.
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