(Publicada em A Capital em 10 de Maio de 2005)
Quando se fala em democracia subentende-se confiança nos eleitos, nos legítimos executantes da vontade dos eleitores e garantes da segurança e do bem-estar destes. Para merecerem essa confiança, os governantes devem ser sérios, competentes, credíveis e coerentes com os supremos objectivos da sua actividade e o juramento feito no acto da posse. Sem essa confiança, os cidadãos não têm esperança no futuro, desinteressam-se, não investem, não agem com produtividade, inovação e criatividade e o país não se desenvolve. No marasmo, não há evolução positiva, mas apenas degradação.
E os portugueses têm razão para não ter confiança e não acreditar nas palavras dos governantes, nem à primeira vez, nem nas rectificações que se lhes seguem. Recordo apenas três casos. O primeiro-ministro disse que não aumentaria os impostos; a seguir o seu ministro das Finanças aventou como muito provável a hipótese desse aumento; depois, o primeiro-ministro voltou a garantir que não os subiria. Não sabemos em que acreditar; o ministro continua em funções. Pouco tempo depois, o ministro da Administração Interna prometeu aos cidadãos que, para maior eficiência e legalidade na garantia da segurança, as rusgas policiais seriam acompanhadas por um magistrado do MP, mas mais tarde, perante as críticas surgidas, disse que se tinha enganado por não conhecer bem as competências da polícia sob sua tutela. Agora, o ministro da Saúde disse que não seria construído um hospital central no Algarve, ao contrário da promessa anteriormente feita pelo primeiro-ministro; após críticas muito claras e explícitas a tal atitude de cata-vento desfavorável à credibilidade do Governo e à obtenção da confiança dos eleitores, o primeiro-ministro veio, mais uma vez, contrariar um seu ministro, reafirmando a construção do hospital.
Parece não haver governo, no sentido de equipa coordenada, havendo apenas ministros que se dão à infantilidade de fazerem afirmações públicas sem prévio estudo e análise dos problemas e das alternativas de solução e que, apesar de emendados publicamente pelo chefe da pretensa equipa ou de confessarem os seus erros por precipitação, continuam nos lugares. O Portugal de mais de oito séculos de história e dos feitos heróicos dos descobrimentos merecia melhor sorte, merecia uma verdadeira democracia em que a população não sentisse abalada a sua confiança e a sua esperança num futuro melhor. Em vez disso, vai aturando «ditaduras a prazo» em que os eleitos actuam com poder absoluto, fazendo e dizendo aquilo que lhes apetece durante o mandato.
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