sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Democratas ou «senhores da guerra»? 050509

(Publicada em A Capital em 9 de Maio de 2005, p. 9)

Está recente na memória a guerra no Afeganistão, com especial acuidade após o atentado nas Torres Gémeas de Nova Iorque, cujo objectivo era capturar Bin Laden e tirar os talibãs do poder. Esse conflito deparou com uma situação específica, já evidenciada antes contra a invasão da União Soviética, que consistia na existência dos poderosos «senhores da guerra», os quais, como severos ditadores nos feudos, tornavam ineficaz qualquer manifestação do poder central. E, apesar da democratização, ainda hoje constituem um espinho que dificulta a governação do País.

Um Estado pode ter uma regionalização acentuada, pode ser federal, mas há aspectos em que só o poder central tem competência. Não pode, pois, deixar que todo o poder caia em cacos nas mãos dos caciques locais e «senhores da guerra». E os detentores do poder local, definido na Constituição, têm de agir em consonância com os mais altos interesses nacionais.

Ora, no nosso País está a surgir em quantidade já muito superior à desejada, um tipo de políticos autárquicos que, como autênticos «senhores da guerra», sobrevalorizam os seus interesses pessoais, sobrepondo-os aos da população, do Estado e até do próprio partido. Por este andar, o caos irá tomando conta do rectângulo lusitano (e da Madeira) e poderá vir a ser difícil, por meios pacíficos, restabelecer a verdadeira ordem democrática. Por isso, a melhor solução deverá consistir em cortar pela raiz as veleidades feudais de autarcas e candidatos a autarcas, como as verificadas nos casos de Felgueiras, Oeiras e Gondomar, em que a ânsia exorbitante de poder pessoal salta por cima de toda a lógica, bom senso e ética e disciplina partidárias e coloca em causa toda a estrutura política da nossa ainda incipiente experiência democrática.

Não queiramos tomar para modelo o Afeganistão, sendo mais aconselhável o exemplo de um país ocidental, moderno e desenvolvido.

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