sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Um começo duvidoso? 050314

Um começo duvidoso?
(Publicada em A Capital em 14 de Março de 2005)

O Presidente Sampaio provocou a queda do Governo de Santana, merecendo a aprovação do povo que ocorreu às urnas com elevado grau de participação e, até, a posterior concordância daquele que, durante vários meses, assumira o papel de vítima, não só da decisão presidencial mas também dos próprios pares do partido. Surgiu, assim, uma esperança generalizada de que o País irá, por pequenos passos, avançar na senda correcta da recuperação não só económica e financeira, ma também nos aspectos sociais que estimulem a melhoria do bem-estar da população. Há problemas estruturais graves de que não se pode esperar solução rápida mas para os quais se exigem análises realistas e formulações de vias de solução, com vista a ser escolhida a que se apresentar mais adequada. São necessárias decisões, mas apoiadas em estudos prévios.

Lá por fora há alguns exemplos de países que saíram de forma brilhante de situações similares à nossa. Porém, não se pode usar o método «copiar e colar» porque as realidades são forçosamente diferentes, tornando indispensáveis os ajustamentos convenientes. Por exemplo, não se pode justificar que os medicamentos não carentes de prescrição médica sejam vendidos em hipermercados só porque há países onde isso acontece. É que o nosso consumidor pode não estar devidamente consciencializado para as vantagens e os inconvenientes do uso de produtos químicos que, com uso indevido e sem controlo, podem ser tóxicos. Comprar medicamentos, sem conselho de técnico competente, só porque a vizinha se deu bem com eles, não parece atitude correcta.

Recordo-me que, há quase 50 anos, ouvi um indivíduo chamar a atenção de uma moça sua familiar para o perigo de ela com frequência tomar um analgésico, mais ou menos vulgar, com um café, por isso ser viciante. Agora, à distância, vejo que isso podia ser uma toxicodependência da época.

Vejo inconveniente nos abusos da automedicação, mas actualmente ela poderá ser moderada pelos conselhos do farmacêutico, por sua iniciativa ou a pedido do cliente. Porém, esse conselho não terá lugar quando ao cliente bastar estender a mão à embalagem da prateleira do hipermercado, correndo até o risco de levar um produto diferente daquele que a vizinha aconselhara, porque não fixou bem o nome ou porque a caixa, sendo da mesma cor, originou a confusão. Começo a ter pena dos fígados e dos rins das pessoas que os sobrecarregarem de trabalho para enfrentarem quantidades de produtos que excedem as suas capacidades já debilitadas. O automedicado, hipocondríaco, raramente está preparado para conhecer as suas limitações, sensibilidades e alergias, e para calcular os efeitos secundários dos químicos que lhe agravarão sofrimentos paralelos.

E, em vez desta medida, não haveria algo de mais substancial a anunciar ao País, para combater as fugas ao fixo, a corrupção, a burocracia, para aumentar a produtividade e as exportações, para tornar mais rápida a Justiça e a saúde, para aumentar a segurança pública, etc.? Teria o anúncio referido sido um prenúncio do tipo de acção governativa de Sócrates? Faço votos para que os cérebros dos responsáveis produzam as melhores ideias e as melhores decisões para bem de Portugal.

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