(Publicada no Público em 25 de Março de 2005)
Talvez esteja fora de moda, mas tenho grande admiração e respeito pelas acções inseridas em critérios de racionalidade, lógica, coerência e pragmatismo e sou alérgico a atropelos a estes critérios, principalmente quando está em jogo a causa pública. Tem sido dito e repetido que os automóveis são os maiores poluidores do ar das cidades. O consumo de combustível em percursos urbanos é muito superior ao verificado nas estradas, o que se agrava com a concentração de grande quantidade de veículos, o regime de pára-arranca e a fraca ventilação das ruas, em comparação com as estradas. A concentração de óxido e dióxido de carbono e de outros produtos gasosos e partículas é preocupante. Daí que seria racional que os responsáveis autárquicos procurassem, pelos meios mais adequados, reduzir o trânsito automóvel nas áreas urbanas, o que deve ter levado a Câmara Municipal de Lisboa fechar ao trânsito vastas áreas da capital, demonstrando cuidado com a saúde e qualidade de vida de quem vive, trabalha e visita a cidade.
Mas, de quando em vez, surge a incoerência trazida pela mão de autarca caprichoso que acorda com ideias «luminosas». Neste momento, há um caso em obras e outro em intenção declarada. O túnel do Marquês contraria o objectivo de reduzir o trânsito na cidade, pois, pelo contrário, facilita a entrada de maior quantidade de transportes privados, normalmente com apenas uma pessoa. E fala-se que o antigo cinema Europa poderá ser aproveitado para um silo auto. Estes dois casos contrariam a solução, há muito preconizada pelos mais sensatos de construir parques de estacionamento de grande capacidade na periferia da cidade de onde partiriam transportes colectivos para os principais pontos da urbe. Com a diminuição de carros ligeiros, os colectivos teriam uma velocidade média maior e seriam mais práticos e haveria menos poluição. E, para estes dois casos, surge-nos a hipótese de um silo auto junto ao viaduto Duarte Pacheco, com entradas e saídas para na Avenida de Ceuta e na Avenida Duarte Pacheco, com um terminal de autocarros na plataforma superior. Em coordenação com a Carris, o bilhete de estacionamento podia ser válido para uma viagem de autocarro, tornando a utilização do parque mais aliciante, por ser mais cómoda e económica quanto a combustível e a desgaste da viatura e quanto a tempo na procura de estacionamento na cidade, e o carro ficaria em local coberto e controlado. Paralelamente, haveria adequada repressão dos carros estacionados nos passeios que tanto prejudicam peões deficientes invisuais ou motores (cadeiras de rodas e carrinhos de bebé). Seria bom reflectir sobre o assunto, antes de ser tomada decisão do tal silo no cinema Europa, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida dos lisboetas.
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