(Publicada na GR n.º 182, pág. 7, de 3 de Julho de 2004)
Na crónica «O ministro do futuro» de José Manuel Barata-Feyo na GR 179 de 12 Junho, é referida a antítese imediato-futuro. É um tema que, cada vez mais, devia ser debatido porque se, quando visto do lado teórico, não levanta grandes objecções, quando chega o momento de ser levado à prática, deixa de haver coerência e convergência de opiniões.
Nos tempos que correm, esquece-se a estratégia e procura-se concretizar a táctica imediata. O planeamento de acções que exijam grandes prazos de realização não é interessante para conquistar votos nas eleições que se aproximam. Hoje não se construiriam monumentos como os Jerónimos ou a Batalha cujas obras demoraram muitos anos. Hoje apenas se inicia aquilo de que se posa fazer a inauguração, o que significa o prazo de uma legislatura. Chega até a fazer-se várias inaugurações – a da ideia (como a ponte Chelas Barreiro!!), a da adjudicação do projecto, da aprovação deste, da adjudicação da obra e, antes de esta acabar, a inauguração propriamente dita.
É vulgar ouvir-se defender que as pessoas vivem AGORA e que ou são felizes AGORA ou o não o serão nunca. Não devemos viver o presente sacrificados com a justificação de virmos a ter um futuro melhor. Porém, se sacrificamos o AGORA de hoje, sacrificaremos também o AGORA de amanhã e daqui a 20 ou 30 anos e acabamos por ter uma vida e de permanente esforço não compensado. Teoricamente isto está certo. Devemos ter a melhor qualidade de vida, em cada momento. Mas o bom senso aconselha a que as decisões de hoje não devem colocar em perigo o AGORA de amanhã. Não devemos prejudicar a nossa possibilidade de sermos felizes no futuro, nem a dos nossos filhos, netos e mais descendentes. Não temos o direito de, por egoísmo ou irresponsabilidade, estragar o ambiente, em qualquer das suas vertentes – flora, fauna, água, ar, etc. Os autores de agressões ecológicas, como aquelas a que temos assistido, através da comunicação social, não podem ser verdadeiramente felizes, embora obtenham mais lucros por não investirem na preservação do ambiente. Mas não basta a condenação da sua consciência, são indispensáveis punições exemplares na sequência de uma investigação, que tenha fins dissuasores e preventivos e que detecte qualquer infracção antes de atingir efeitos devastadores. Os governos, com os organismos estatais adequados não podem continuar a deixar impunes os responsáveis pelas poluições de rios, terrenos e atmosfera, pelos fogos florestais e pelas indústrias altamente poluentes.
A incúria na prevenção de tais agressões a um bem que é da comunidade levam a descrer das vantagens da Democracia que não consegue defender os legítimos interesses dos povos, defesa essa que é o mais alto objectivo dos representantes eleitos.
Há que procurar um ponto intermédio entre os ecologistas fundamentalistas que pretendem o sacrifício total do AGORA e os governantes e outros oportunistas que desprezam a salvaguarda do futuro em benefício de interesses imediatos, egoístas e lucrativos.
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