(Enviada para Grande Reportagem, em 14 de Junho de 2004)
Não é fácil, através da análise das palavras pronunciadas pelos políticos mundiais dos diversos quadrantes, perceber os mecanismos das relações internacionais e das suas implicações na vida interna dos povos
Em nome da expansão da Democracia, apoiam-se uns, retira-se o apoio a outros e vai-se ao ponto de fazer guerra aos mais indesejados com as baixas humanas e as destruições advenientes. Porquê? Quais os reais interesses que estão em jogo?
Há regimes autoritários, mesmo ditatoriais, que caem nas boas graças das potências mundiais, apesar das violências e desrespeito dos Direitos Humanos que permitem nos seus países, mesmo que denunciados pela Amnistia Internacional e outras organizações humanitárias com credibilidade internacional. São inúmeros tais regimes, podendo destacar-se Pinochet no Chile, Suharto na Indonésia, Ferdinando Marcos nas Filipinas, Musharraf no Paquistão, Kadhafi na Líbia, John Taylor na Libéria, Mobutu no Zaire, Jean-Bertrand Aristide no Haiti, o próprio Saddam Hussein no Iraque, Eduardo dos Santos em Angola, etc.
Para esses governantes, a potências dominantes no xadrez mundial não exigiam que fossem legitimados pelos votos directos dos seus cidadãos ou pela eleição indirecta por órgãos representativos da população; bastando o beneplácito dessas potências alicerçado no interesse geoestratégico e económico tanto da sua posição geográfica, como da sua qualidade de fornecedores de matérias primas com especial valor para as indústrias de ponta, em que se destaca a de Defesa. Não é por acaso que tais governantes para obterem essa «legitimidade» internacional reverenciam directamente ou por meio de intermediários, as potências mais influentes. É o caso de Eduardo dos Santos que foi meticuloso na elaboração da lista de convidados para o casamento da filha, na contratação de Pierre Falcone para seu diplomata, na cedência a George Soros e a Mário Soares para libertar o jornalista Rafael Marques, e na visita a Bush oferecendo um aumento da produção de petróleo para reduzir a crise energética nos EUA e no Ocidente.
Estas manobras tácticas sempre são mais fáceis e seguras do que proceder a eleições honestas. Só que os seus resultados se são eficientes no curto prazo, não são duradouros e comportam-se como a aspirina, isto é, ocultam alguns sintomas mas não curam a doença, como o prova o fim de alguns dos ditadores atrás referidos.
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