(Apontamentos para ajudar num trabalho escolar universitário)
Não sou militante de qualquer partido político, tal como não sou fã incondicional de qualquer clube, embora goste de ver na TV um bom jogo de futebol. Quanto à política, exerço o meu dever ético e cívico de votar no sentido que na altura ma pareça mais conveniente para o futuro do país. Gosto de analisar as decisões políticas, com base na informação disponível, tendo sempre em vista as previsíveis repercussões no bem-estar da população. A ética, a deontologia que deve orientar a actividade dos governantes é suposto assentar no bem comum da nação, isto é, do conjunto de cidadãos que são a razão de ser de um Estado. Porém, os políticos sofrem das maleitas de todos os seres humanos no tocante a egoísmo e ambição, e raramente a ética é utilizada como suporte para a definição e consecução dos objectivos nacionais.
Também a metodologia utilizada raras vezes é um modelo impecável de razoabilidade científica. Esquecem-se de que vender uma ideia exige procedimentos semelhantes aos aplicados à venda de um produto, e conquistar adeptos e votos é uma tarefa similar à atracção de clientes. Geralmente, falta-lhes um adequado conhecimento das doutrinas e das técnicas de marketing, que lhes permitiria actuar da forma mais adequada nos momentos propícios.
Vêm estas reflexões a propósito das palavras proferidas em 28 de Novembro em Vila Pouca de Aguiar pelo Primeiro-Ministro, a quando da inauguração de mais um troço do IP3. Era de esperar ouvi-lo destacar aquilo que de positivo o governo tem feito, de informar sobra medidas esboçadas, de carácter estratégico, pra o desenvolvimento sócio-económico do país, nomeadamente do interior em que no momento se encontrava, para melhorar o bem-estar, a segurança e a felicidade do povo, abrangendo a produtividade e a competitividade das exportações portuguesas. Mas, em vez de procurar apresentar ideias positivas e atraentes para criar confiança, atrair pessoas e criar condições para a obtenção de mais votos nas próximas eleições, descambou num vazio de conteúdo em que, recorrendo a imagens infantis, se lamentou de ser vítima da incompreensão e hostilidade dos próprios correligionários do partido.
Em vez de se enaltecer, o que seria um apelo para a elevação daqueles que pretenderia atrair, diminuiu-se ao comparar-se a um nascituro de parto difícil que teve de passar os primeiros tempos numa incubadora onde em vez de carinho dos familiares e irmãos mais velhos sofreu abanões, bofetadas e outros maus tratos que tornaram difícil a sua sobrevivência. Ora, as pessoas aliam-se ao campeão, ao vencedor e não à vítima, ao derrotado, àquele que é menosprezado na própria família política. O governante deu, assim, bofetadas em si próprio, o que nada resolve. É bom proceder-se a um estudo da situação, ou exame de consciência, não como objectivo final, mas como método de preparação de uma decisão realista e acertada, porque não se avança quando não se passa das lamentações e de chorar sobre o leite derramado.
Com estas lamentações, não era de esperar um bom presságio, até porque a remodelação a que tinha sido pressionado pelas circunstâncias, dias, antes, não evidenciava uma situação salutar, propiciadora de vivência robusta e duradoira. Essa falta de simples bom senso ou de ética ou de deontologia, não podia resultar positivamente. E de imediato, para cúmulo do azar, veio a público a demissão do ministro da Juventude e Desportos através de um carta os jornais em que o Primeiro Ministro era acusado de deslealdade, de mentira, de não praticar uma verdadeira coordenação da equipa governamental, etc. Também da parte desse ministro foi evidente a falta de ética, de maturidade e de bom senso, pois não é bom sintoma demitir-se quatro dias depois de ter sido empossado, com o juramento de cumprir lealmente as funções que eram confiadas, facto a que no momento se referira, perante a televisão, com satisfação e vaidade. Conclui-se que jurou sem conhecer o compromisso que estava a tomar, o que não é eticamente desculpável nem sequer a uma criança. A ambição de poder era tanta, com o aroma obsessivo da pasta governamental, que nem sequer olhou às condições em que iria trabalhar.
Outro ponto de reflexão assenta na preocupação de o Primeiro Ministro se rodear de amigos sem pensar na competência, sem dar prioridade a esta. Lá diz o velho ditado «amigos, amigos, negócios à parte». Se a competência é pouca, perante grandes interesses e ambições, a dita amizade não consegue suprir a falta de dedicação, de lealdade, de coesão e de espírito de sacrifício. E, à mínima dificuldade, estala o verniz e sai a «peixeirada».
Acontecimentos deste jaez surgem a vários níveis da hierarquia social, mas é muito lamentável vê-los no topo da escala social e administrativa do país, de onde seria de esperar virem os melhores exemplos de comportamento cívico e etnicamente irrepreensíveis.
Se o ex-ministro falou verdade quando disse que o Primeiro Ministro lhe mentiu, trata-se de um caso preocupante. A mentira não serve de alicerce para edificar um programa ou um projecto válido. Para dirigir uma equipa, de forma coordenada e coesa, orientada para o êxito é imprescindível definir claramente, de forma participada, objectivos finais e intermédios a atingir e as estratégias gerais e sectoriais para lá chegar, elementos estes conhecidos e perfilhados por cada componente da equipa. Quem os ignorar não pode sintonizar em cada momento as suas decisões com as finalidades da equipa. Se tiverem sido previamente definidos os objectivos e as estratégias, o chefe da equipa terá apenas de assegurar a coordenação do conjunto, estar atento às «performances» e às alterações da situação interna e externa com vista às eventuais necessidades de ajustar aquelas definições às condições reais actuais.
Havendo objectivos e estratégias aceites e interiorizados por cada membro da equipa, não é crível que o líder sinta necessidade de se lamentar em público numa cerimónia de Estado, de não ser devidamente apreciado. Ele, nessas condições, apareceria em público sempre de astral elevado, criando confiança nas pessoas e indicando pistas para um futuro risonho, de recuperação sócio-económica, em que todos se sentiriam mais felizes. As dúvidas dos técnicos devem ser esclarecidas internamente, só saindo para o exterior directrizes claras e construtivas. O narcisismo evidenciado pela apetência de aparecerem diariamente nas televisões, não favorece a imagem dos políticos; acabam por mostrar as suas debilidades.
Se existisse um decálogo definidor da deontologia dos servidores da causa pública e fosse seguida escrupulosamente, não assistiríamos às «desgraças» dos últimos tempos.
Da falta de verdade, de sinceridade e de promessas dilatórias também se queixam os habitantes de Canas de Senhorim. Os políticos não querem elevar esta região a concelho mas ninguém tem a coragem de o dizer e explicar as razões, de forma clara e franca, porque temem perder votos esquecendo que os perderão por falta de verdade.
A Decisão do TEDH (402)
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