(Publicada no «Púbico» em 25 de Abril de 2004)
O dia cinco de Abril começou prometedor. Temperatura agradável a anunciar a aproximação de tempo estival. A conversa deste grupo de amigos encaminhou-se espontaneamente para este tema. Será que este tempo vai continuar? E, depois, os fogos florestais como se irão comportar? Diz um dos parceiros que o Verão não é, forçosamente, causa de incêndios florestais, embora nessa estação sejam mais frequentes. Mas ainda há poucos dias, em tempo muito frio, houve incêndios de grandes proporções nos distritos de Viseu e Aveiro.
Um dos presentes, mais atento aos jornais, falou de uma comissão que, após mais de meio ano de «intensas e inteligentes averiguações» sobre os fogos do ano transacto, emitiu um relatório a dizer que tudo estava bem e que não havia deficiências a apontar a nenhum organismo. Ora, haveria que meter em tribunal o apóstolo S. Pedro por não ter lançado de imediato sobre as chamas uma chuvada que as apagasse. Quanto à comissão, dizia outro, foi um erro nomeá-la. Teria sido mais correcto nomear um e apenas um responsável e dar-lhe condições (pessoal e dinheiro) para proceder aos estudos necessários e, depois, exigir-lhe contas. É que, se não se pode dizer que uma ministra é «inimputável», como fez um deputado, já o mesmo epíteto atribuído a uma comissão é supérfluo e redundante por ser logicamente desnecessário. As realidades assim o têm demonstrado. «Quem quiser fazer qualquer coisa sem resolver o problema, nomeia uma comissão».
E a conversa continuava e um dos presentes, mais afecto ao governo, defendeu que o problema dos fogos já está resolvido, pois foi feita uma lei que proíbe fumar nas florestas. Vieram as dúvidas e as perguntas. Essa lei é para cumprir? Como a que obriga ao recenseamento eleitoral (há muitos jovens por recensear!), como a que proíbe a condução sem carta (há pessoas sem carta ao volante há décadas), a que proíbe a condução sob o efeito do álcool (quando há fiscalização são detectados inúmeros etilizados), a que proíbe o uso do telemóvel durante a condução (vê-se quando se para ao lado da estrada!), a que obriga os carros a terem dois faróis operacionais (quem circula de noite cansa-se de contar os carros zarolhos com que se cruza), a que obriga a cumprir os limites de velocidade (os próprios ministros dão o mau exemplo!), etc. etc.
Pode haver lei que proíba fumar na floresta. Mas quem detecta a infracção em tempo útil, quem autua o infractor? Será mais uma das utopias que apenas tem o efeito de permitir aos políticos que nos atirem poeira aos olhos dizendo que «tomaram medidas» para evitar os fogos florestais.
Mas no grupo surgiu a voz do defensor das novas tecnologias. O problema é fácil de resolver e o governo, certamente, está atento e, para obrigar a cumprir a lei, irá colocar em órbita um satélite a baixa altitude que detecte o cigarro logo que é aceso e enviará um copo de água teleguiado por lazer que o apagará de imediato, antes que possa provocar um incêndio. Foi muito aplaudido. Espera-se que os governantes sejam realistas e eficientes e «tomem medidas» emitindo um decreto-lei nesse sentido.
Com seriedade, e não com ideias lunáticas, é preciso encarar de frente e com eficácia este flagelo. Nos concelhos de Mortágua, Alcains e Góis, segundo os jornais, já há prevenção que se tem mostrado eficiente.
Começa a ser tarde para prevenir os fogos florestais do próximo Verão.
O regresso de Seguro
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