(Publicada no «Público» de 17 de Maio de 2004)
Tem sido enfatizado que a subida dos preços dos combustíveis é devida à subida do preço do petróleo nos mercados internacionais, o qual depende da redução da produção por parte dos países membros da OPEP. E os comentaristas dizem que não há esperanças de os preços baixarem significativamente, nunca chegando aos valores de há um ano atrás. Isso obriga a subir os preços dos transportes e dos produtos que deles dependem.
Diz-se também que Portugal é muito sensível a esta situação porque, em termos energéticos, é muito dependente da importação, dada a carência de produção interna de energia. Com efeito, quer o petróleo quer o gás natural, são importados, e a produção hidroeléctrica, somadas a outras fontes de energia renovável não têm crescido na proporção do aumento do consumo.
É uma situação estrutural grave. Enquanto o país vizinho faz um aproveitamento exaustivo da rede hidrográfica para produção de energia e outros fins da actividade económica, nós deixamos escoar para o mar quase toda a água dos rios sem dela retirarmos benefício. Poucas barragens existem em relação ao máximo possível. E os governantes têm colocado este interesse nacional em última prioridade em relação a outros interesses culturais ou ambientais pouco explicados. É o caso da barragem de Foz Côa que fazia parte de um programa que inseria vários pontos de produção hidroeléctrica entre o Douro e o Tejo, a barragem do Sabor e a própria barragem do Alqueva cuja construção foi adiada exageradamente por pressões estranhas à carência grave de fontes energéticas nacionais.
Portanto, não temos que nos lamentar da redução de produção de petróleo pelos países da OPEP, nem da consequente subida do preço do crude nos mercados mundiais. Temos, sim, que lamentar a ausência de uma estratégia nacional no que respeita à energia, nomeadamente, o deficiente aproveitamento das potencialidades da rede hidrográfica e as insensatas decisões como a de Foz Côa. Neste caso concreto, fica a dúvida se teriam sido analisadas serenamente as várias alternativas para o problema dos vários interesses em jogo e as implicações que adviriam de cada uma delas. Teria sido feita uma clara e justa comparação dos respectivos custos e benefícios?
Enfim, a democracia coloca-nos nas mãos daqueles em quem votamos, talvez mais em função da emotividade criada pelas campanhas eleitorais do que em função das suas reais capacidades para tomar decisões racionais em defesa dos verdadeiros interesses nacionais
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