(Publicada em A Capital em 16 de Agosto de 2004)
Passado um ano sobre os terríveis fogos florestais que emocionaram o país, estivemos há dias perante nova edição aumentada, apesar de nos últimos meses terem sido ouvidas opiniões cientificamente apoiadas, de catedráticos, e de muitos comentadores e de simples cidadãos, apesar de terem sido realizados grandes despesas e de terem sido ouvidas promessas de políticos que mais não foram do que narcóticos para apaziguar (iludir) os espíritos justamente preocupados.
Impõe-se encarar muito a sério tudo aquilo que está por detrás deste grave flagelo, Há muitas dúvidas que devem ser esclarecidas e que transparecem de declarações vindas a público nos locais dos sinistros, pela boca de quem sente na pele as consequências. Certamente que os investigadores judiciais terão em conta essa necessidade de esclarecimento. Como se compreende que os fogos se iniciem em locais inacessíveis? Como é que muitos incêndios se desencadeiam de noite quando a temperatura do ar é mais baixa e a humidade mais alta? Qual a razão de a maior parte dos fogos ser desencadeada antes do fim de semana? Haverá motivações políticas nos fogos postos? Embora haja grandes áreas do país com igual risco, porque será que os fogos têm evidenciado preferência por certas zonas? Porque se insiste que os fogos são causados pelas altas temperaturas, se a palha seca espalhada sobre laje de granito, em pleno dia de canícula, não arde por si só? Que interesses estão ligados aos incêndios, quer aos materiais para o combate, quer aos aproveitamentos locais de madeiras, de pasto de erva tenra e possibilidades de construção? Que situações de inveja e de vingança, em mentes criminosas ou doentias, podem estar detrás de cada caso? Qual a razão por que as populações dumas regiões colaboram activamente no combate aos fogo enquanto noutras deixam essa tarefa somente aos bombeiros, limitando-se ao papel de mirones? A quem interessa o crime? Estes pontos não devem ser ignorados nas investigações a levar a cabo.
E quanto à prevenção, recordo-me de terem vindo a lume as medidas tomadas nos conselhos de Mortágua, Alcains e Góis. Não tem havido notícias de fogos ali ocorridos. Será esta ausência de notícias indício de que essas medidas têm sido eficientes? Se assim for pode perguntar-se por que motivo não foram seguidas noutros locais? Não é vergonha seguir os bons exemplos, imitar os modelos perfeitos, a não ser que se descubram soluções melhores.
E quanto aos senhores governantes, não lhes ficaria mal serem mais realistas na forma como encaram os casos concretos, mais moderados nas promessas e deixarem de narcotizar o povo. Não é de repetir o seguinte: Em Outubro de 2003, o ministro prometeu criar uma comissão para coordenar a prevenção a fim de não se repetir a tragédia do Verão anterior. A legislação que criava essa comissão foi publicada em Abril, de 2004, seis meses depois de ter sido prometida, depois foi empossada e reuniu, pela primeira vez, em 30 de Junho, já ao som das sirenes dos bombeiros que corriam a apagar os fogos do corrente Verão. Com esta dinâmica, é preciso ser optimista para esperar que apareçam medidas eficazes antes de Portugal estar completamente reduzido a cinzas, sem uma folha verde. Não é muito racional, nestas condições, esperar um milagre da Nossa Senhora de Fátima, sem ir fazendo qualquer coisa útil. É urgente compenetrarmo-nos de que estamos com uma emergência nas mãos que não se compadece com demoras. O que dizem a isto as populações da zonas queimadas???
A Decisão do TEDH (396)
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