(Publicada em «A Capital» em 05 de Agosto de 2004)
Como todos os anos, a passagem de Julho para Agosto foi uma tragédia para muitas famílias. A redução de acidentes em relação a 2003 não é significativa. Interessa focar a atenção nas vidas destroçadas que, mesmo que fosse apenas uma, havia que tomar medidas para a evitar. Da atenção que venho dedicando a este fenómeno, há vários anos, sou levado a concluir que as recomendações, os conselhos, expressos de forma mais ou menos científica ou empírica e prática, obtêm pouco efeito nos comportamentos de risco dos causadores de acidentes.
Há, porém, que procurar explicação para a redução de nove por cento no número de acidentes. O que se passou nos últimos tempos para obter esta redução da desgraça? Houve um fenómeno que é significativo: Há cerca de dois meses, a BT levou a cabo a «Operação Lince 2004», por todo o país, exercendo uma atenção abrangente dos vários aspectos relacionados com as principais causas dos acidentes, e, o que é muito importante para a dissuasão e a prevenção, foi dada muita publicidade aos resultados da operação. Também, ainda ontem os jornais traziam notícia dos resultados do trabalho da BT em Junho: 11,555 multas por excesso de velocidade, 2.191 autuações por excesso de álcool, 666 detenções por excesso de álcool e 3.866 casos de falta de cinto e de outros dispositivos de segurança obrigatórios.
Parece que os acidentes com mortos e feridos graves não sensibilizam a maioria dos condutores, que continuam a pensar que isso só acontece aos outros e que eles conduzem com segurança. Mas quando se confrontam com a possibilidade de serem multados ou ficarem sem carta de condução, o caso muda de figura. E, por isso, a «Operação Lince 2004» e a actividade da BT e de outras autoridades policiais relatada nos jornais, e passada de boca a orelha, tem mais efeito. E para confirmar este aspecto da segurança rodoviária, com efeitos no regresso de férias em finais deste mês, seria conveniente que, durante Agosto, a BT e a PSP efectuassem uma ou duas «Operações» semelhantes à atrás referida e dessem para a imprensa os resultados do seu trabalho, pelo menos, semanalmente. Estou certo que a redução de acidentes verificada no início do mês iria repetir-se, talvez acrescida, no final do mês. É que os comportamentos de risco são moldáveis pelo receio da sanção legal.
Já que os grandes cartazes da Prevenção Rodoviária e as campanhas que sempre foram feitas nas televisões foram consideradas letra morta pelos condutores aventureiros, actue-se com a fiscalização policial, sistematicamente e em horas e locais não previsíveis, por forma a criar o sentido da necessidade de cumprir a lei, sempre e em qualquer lugar, para bem de todos.
Convém também sensibilizar as pessoas para que, evitando o excesso de velocidade, além de não haver tantos acidentes, consegue-se o benefício da redução do consumo de combustível, como provam as estatísticas francesas, que mostram a redução das suas vendas desde que o uso intensivo dos radares obrigou os carros a rodarem dentro dos limites autorizados.
Sócrates de novo
Há 1 hora
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