quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Fogos florestais. Prevenção e combate. 040811

Fogos florestais. Prevenção e combate
(Publicada no Público em 11 de Agosto de 204)


Gostei de ler o artigo «Fogos Florestais: O que Falta Fazer» no PÚBLICO de 7 de Agosto, do professor da UCP, Américo Carvalho Mendes, que aborda os diversos factores deste grave problema, colocando a tónica no combate e nos meios a ele inerentes: sapadores florestais em coordenação com os corpos de bombeiros, dotados dum comando único e de mais eficientes meios de informação e comunicação.

A comparação que faz com a situação de há 50 anos não foca explicitamente um factor importante, embora esteja de certo modo incluído no fenómeno do êxodo agrícola. É que, independentemente desse êxodo, as técnicas agrícolas e as condições de vida nas aldeias mudaram muito, o que teve consequências directas na limpeza das matas.

Nasci na zona do pinhal e ali vivi até os dezoito anos e, partir dessa idade, mantive-me ligado ao campo. Os agricultores não viam na limpeza das matas um fim, um objectivo, mas apenas um meio para atingir diversos objectivos. Os pinheiros eram «esgalhados» regularmente com vista a obter lenha para a cozinha, para o forno do pão, madeira para «empar» as videiras, para «estacoar» os feijoeiros, as ervilheiras e os tomateiros. Com isso, o pinheiro apresentava fustes limpos, sem ramos secos e uma copa pequena e totalmente verde.

Quanto ao mato, era roçado em anos alternados para obter cama para o gado de onde saía o estrume para os campos a semear ou a plantar. A caruma era cuidadosamente colhida anualmente (nalguns casos duas vezes) para curtir na cama do gado, junto com o mato, ou misturada em medas com estrume em fase final de curtimento.

Com estas actividades economicamente rentáveis, em termos locais da época, as florestas mantinham-se limpas, com uma desprezível carga térmica. O perigo de fogos florestais era muito reduzido.

Mas, com o êxodo rural, veio o abandono do cultivo das terras, com menor necessidade de animais, de estrume, de estacas para videiras e outros cultivos. Também a evolução da vida trouxe os fertilizantes a substituir os estrumes, os tractores que tomaram o lugar dos bois, deixou de se cozinhar com lenha que foi substituída por botijas de gás; o pão passou a ser comprado na padaria, etc. E, com isto, as matas transformaram-se numa selva impenetrável com abundante carga térmica, autênticos barris de pólvora.

Pr outro lado, não é lógico esperar que proprietários idosos e sem capital procedam à limpeza das matas à custa de mão-de-obra cara (para as suas posses) e que depois dêem destino aos produtos resultantes a limpeza. Como? Com que meios? Para onde? Mas não há dúvida que a população deve participar na prevenção, tomando todos os cuidados para evitar o desencadeamento de fogos. Este não surge espontaneamente. Deve colaborar na necessária vigilância intensa e permanente como já é feito em vários concelhos, não apenas para detectar eventuais incendiários mas, principalmente para alertar o mais cedo possível os bombeiros ou os sapadores florestais a fim de evitar as grandes extensões ardidas. Recorde-se a máxima de que, no início, o fogo pode ser apagado com um copo de água.

Detectado o incêndio ainda incipiente e dado o alerta, então procede-se ao combate que exige pessoal bem treinado, com bons meios e uma rede de acessos, mantida em permanente bom estado de utilização que permita ir a todo o lado.

Termino, como comecei, felicitando o autor do artigo referido e apelando para que este grave problema nacional seja estudado a nível científico e conceptual, mas também escalpelizado a nível técnico e prático, para ser compreendido por todos aqueles que terão de sujar as mãos e suar as estopinhas no meio do fumo e do calor dos montes em chamas. Não bastam legislações pouco ajustadas às realidades. Diziam há pouco os jornais que as «Comissões Municipais de Defesa da Floresta, ainda não estão a funcionar, apesar de o diploma que as criou, de 8 de Maio, dar um prazo de 30 dias para serem constituídas. Já lá vão 90 dias! Também notícias recentes diziam que a APIF (Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais) que fora prometida pelo ministro em Outubro de 2003, só foi criada por diploma de abril e apenas teve a primeira reunião em 30 de Junho p.p., já em plena época de fogos. Com esta falta de entusiasmo, não há lugar para optimismos.

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