sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Evitar promessas não concretizáveis. 050409

(Publicada no Expresso em 9 de Abril de 2005)

Após ouvir a promessa do primeiro-ministro de que vai acabar com os «furos» nas escolas, tive oportunidade de ouvir um jovem professor dizer que na escola em que lecciona levaram a efeito tal solução, durante dois anos, para evitar a desocupação dos alunos, nada favorável ao ambiente escolar e à formação das crianças. Mas a escola teve de terminar com isso porque os custos não eram comportáveis com as exíguas verbas disponíveis. Baseado nesse exemplo, considerava que a promessa do Governo, embora interessante não é realizável, pelos custos que implica.

Se a promessa entrar em fase de concretização, é de temer que venhamos a assistir a greves de professores por falta de pagamento das horas extraordinárias, tal como já aconteceu com funcionários do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, com a PSP, com os bombeiros, com os funcionários judiciais, com médicos e com juizes, etc. Seria do mais rudimentar bom senso que, antes de fazer promessas, fosse analisada a sua exequibilidade em termos humanos, materiais e financeiros. Não deve ser esquecida a promessa de um ministro dos dois governo mais recentes, feita aos antigos combatentes do Ultramar de pagamento de uma pensão especial proporcional ao tempo de serviço na defesa dos interesses da Pátria. Esta promessa era tão interessante para os que dela iriam beneficiar como a do preenchimento dos «furos» nas escolas, da criação de milhares de empregos, dos benefícios de milhares de idosos e de pobres, etc. Só que a falta de dinheiro não a tornava realizável e, para cúmulo da demagogia irresponsável (devido à inimputabilidade), o ministro teve a falta de senso de dar essa pensão a uma minoria dos que a ela têm direito, deixando os outros (em grande maioria) legitimamente descontentes (para não utilizar adjectivo mais forte). Mas, o eleitor tem uma arma poderosa na mão, e neste caso os combatentes, embora não se tivessem organizado, souberam individualmente utilizar a força do voto, para fazer saltar da cadeira do poder o referido ministro e levá-lo até a abandonar a liderança do seu partido. O povo está atento e não come com as promessas mas com actos concretos, sendo com base nestes que decide a orientação do seu voto nos actos eleitorais. Embora os políticos nada façam para aumentar o grau de esclarecimento da população, esta vai reflectindo de forma objectiva nas realidades da sua vida e vai tornando ineficaz as campanhas de promessas vãs e de poeira lançada para os seus olhos. O Governo anterior caiu, apesar de poucos dias antes do acto eleitoral ter prometido a construção de duas novas pontes sobre o Tejo. Estas anedotas já não colhem risos a não ser de escárnio.

Será do mais rudimentar bom senso que os responsáveis por aumentar o bem-estar da população evitem promessas utópicas e não realizáveis. A população gosta de ver comportamentos sérios e realizações conducentes às finalidades que devem nortear os governantes com vista ao crescimento da economia, a melhor distribuição das riquezas, a diminuição da pobreza e da exclusão, de que muito se fala mas que poucos progressos têm sido vistos.

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