(Publicada em A Capital em 14 de Abril de 2005)
Na Natureza, embora haja permanência dos princípios, a mudança nos aspectos acessórios é constante, por vezes cíclica, mas sempre em função das circunstâncias e tendo em vista as finalidades. O homem não pode alhear-se deste facto mas, devido à sua intenção de originalidade e de inovação, a qualquer custo, esquece muitas vezes os princípios e os objectivos permanentes e toma decisões que, em vez de benefícios, trazem inconvenientes. Recordo uma frase de um célebre estadista que, ao alertar para os perigos de mudanças sem critério, disse que «mudar por mudar é vã tentativa de disfarçar o vazio íntimo».
Não somos um país rico que possa suportar os custos de inovações caprichosas, de indecisões, de hesitações, de anulações de decisões só porque estas foram tomadas por dirigente anterior. É actualmente bem visível o inconveniente da não construção de várias barragens planeadas e projectadas com uma finalidade de vistas largas, de suspensão da construção de outras e dos adiamentos sucessivos na construção da do Alqueiva. Também parece haver custos exagerados nas hesitações e alterações dos locais onde se construirão as pontes sobre o Tejo, por onde irá passar o TGV, onde e quando se construirá o aeroporto de Lisboa, onde vai ficar o casino de Lisboa, etc.
Ouve-se falar na intenção de mudar Portugal. Mas não se ouve definir qual o modelo pretendido e os benefícios que daí advirão para o bem-estar dos cidadãos. Qual a melhoria pretendida. Convém ter presentes os variados custos das mudanças, nomeadamente na cabeça dos utentes dos serviços. Hoje é frequente encontrar pessoas com dúvidas sobre quais as despesas que «este ano» são dedutíveis no rendimento colectável para IRS (porque mudam todos os anos), ou sobre as receitas de medicamentos e os critérios de comparticipação nos seus preços. Ah!... «mudar por mudar...», não.
É preciso mudar com critério, com são critério, para daí resultar clareza, facilidade, simplicidade e vantagens para o superior objectivo da administração pública, a favor dos cidadãos e do futuro do país que é de todos nós e não apenas dos políticos.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
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