sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ditadura da mediocridade

(Publicada no Expresso em 30 de Abril de 2005)

Seria de esperar que as televisões e os jornais e revistas estimulassem nas pessoas desejos de melhorarem os seus conhecimentos e os temas das suas conversas, porque a elevação da cultura aumentaria o consumo da Comunicação Social. Mas não é assim, porque os objectivos financeiros imediatos levam a priorizar a captação de audiências e leitores na maior quantidade possível o que não é condizente com critérios de qualidade e de melhoria cultural. Estamos, assim, constrangidos por uma ditadura da mediania, ou mesmo da mediocridade. O raciocínio parece ser: se o programa X agrada aos analfabetos, também pode ser visto pelos eruditos, enquanto o inverso não é verdadeiro!

Quando se quer ver televisão corre-se o risco de ver o ecrã ocupado com futebol (há-o quase todos os dias), com uma telenovela brasileira repetitiva, com um «reality show» de discutível valor artístico, cultural ou ético ou com um concurso em que fica sobejamente provado o inacreditável nível de ignorância de muitos licenciados, alguns com declaradas pretensões a professores universitários. Quando João Paulo II estava agonizante, havia um exagero televisivo como se as opiniões dos ouvintes pudessem impedir o sofrimento ou a morte. Depois, eram os múltiplos prognósticos sobre o cardeal mais «papável» e, por fim, opiniões daqueles que só vêm defeitos em Bento XVI, por ser alemão, ou daqueles, que se consideram os ‘verdadeiros crentes’, que o admiram por ter merecido ser eleito, por inspiração do Espírito Santo. Tudo isto se passava num nível que não resiste a críticas mais profundas. Também os próprios políticos usam palavreado vazio como se os ouvintes fossem estúpidos e ficassem convencidos de que o discurso tem conteúdo e verdade.

Parece poder afirmar-se que, há uns tempos a esta parte, as pessoas, com a obsessão da igualdade e do nivelamento social por baixo, em vez de reconhecerem o valor daqueles que se evidenciam pela positiva, procuram denegri-los reduzi-los à mais baixa expressão, esmagando-os para a média ou mais abaixo. Nada, portanto, estimula à melhoria da qualidade, seja de quem for e em relação a quê. E, deste panorama, sobressai valorizado quem se destaque da generalidade, pela sua mediocridade, isto é, o mais marginal. Esses, por várias vezes, ocupam mais espaço em noticiários do que aqueles que, pela sua genialidade, constituem uma base de esperança para um futuro mais risonho do nosso País e, portanto, de todos nós.

É de perguntar onde está a ponta do fio da meada para superar esta situação e criar uma cultura dos valores, princípios e normas mais consentâneas com o desenvolvimento cultural, social e económico de Portugal.

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