quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Confiar nos políticos ou pensar com independência. 040630

(Enviada aos jornais em 30 de Junho de 2004)

Sonhei que, quando passeava na Serra de Sintra, onde se concentram fortes radiações cósmicas, me apareceu um extra-terrestre e me disse: «Os terráqueos não querem ser felizes, não querem desenvolver as suas qualidades intrínsecas, a sua personalidade, vivem obcecados por ambições materiais perecíveis e agarrados à ideia de que devem sofrer hoje para virem eventualmente a ser felizes amanhã e, entretanto, evitam pensar e actuar de acordo com as suas próprias convicções. Acomodam-se aos conselhos dos outros, a regras estabelecidas artificialmente, submetem-se às sugestões da publicidade, às promessas dos políticos... Porém, esquecem-se de que cada um é responsável pelas suas decisões, pelos seus actos e não deixa de o ser se actuar sob persuasão ou coacção de outrem; deve passar a agir conscientemente, em conformidade com as suas próprias ideias. E deve procurar ser feliz hoje, porque é hoje que vive; sem, no entanto, comprometer o «hoje» que virá no dia seguinte». E disse muito mais, tudo inserido na mesma directriz filosófica.

Ao acordar, fui bombardeado pelas notícias e comentários sobre a «fuga» do primeiro-ministro e recordei aquela expressão que levava a não acreditar inocentemente nas promessas dos políticos. Com efeito, antes das eleições, eles não se poupam a deslocar-se às aldeias mais recônditas e a fazer inúmeras promessas. Após o escrutínio, esquecem as promessas feitas e os problemas dos eleitores. E, apesar de prometerem lutar pelo bem público durante toda a legislatura, não hesitam em abandonar o eleitorado e baldarem-se para cadeiras mais confortáveis, se alguém lhes acena com uma cenoura apetitosa. E é curioso ver como nos querem convencer que o fazem em benefício do país!!! No entanto, nas discussões que se seguem, este benefício não merece a mínima referência, discutindo-se apenas os interesses de pessoas e de partidos. Como estamos em época do EURO 2004, poderemos dizer que para os políticos, o país representa o mesmo que o relvado para os futebolistas. Tudo se passa, pisando-o sem dó nem piedade.

E, perante estas desconsiderações, o que é que os eleitores devem pensar? Nas últimas eleições, mostraram que se decidem – em conformidade com as palavras do extraterrestre e com o exemplo do primeiro-ministro - por ignorar a publicidade e as promessas comicieiras, considerá-los todos iguais e agir pela sua cabeça, abstendo-se nas urnas. Mas fica-nos a dúvida de qual será o efeito, para a Democracia, desta falta de confiança naqueles que era suposto representarem o povo?

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