(Publicada no «Público» de 26 de Maio de 2004)
Nos dias mais recentes, senti-me pressionado pelos órgãos da Comunicação Social, principalmente pelas televisões e algumas rádios, a aderir à tese de criação da Ibéria. Como mero telespectador fui tratado como se já fosse súbdito de Sua Majestade. Não gostei. Não é que não admire as qualidades dos nossos vizinhos que, nos últimos anos, conheceram forte surto de desenvolvimento tornando-se numa das principais potência europeias. Mas não gosto de ser descaradamente empurrado para soluções impostas. Perante este caso, reajo como nas tentativas de publicidade pelo telefone em que pretendem uma adesão imediata sem darem tempo para ponderar se o produto me interessa realmente. Respondo claramente que não.
De Espanha já consumo hortaliças, frutas, azeite e vários outros produtos e, se vivesse perto da fronteira, iria lá regularmente atestar o depósito do carro. Mas não gostei que as televisões pusessem de lado tudo para nos martelarem horas seguidas com o casamento de Suas Altezas. Esqueceram as crianças a morrer de fome no Sudão e no Ruanda (tema de reserva para preencher espaços vagos em noticiários!), e de referir o problema da Casa Pia (já em 2.ª ou 3.ª prioridade), de falar do «apito dourado», do Iraque, de Israel, etc.
A volatilidade das prioridades nos noticiários evidencia ausência de estratégia informativa que me deixa baralhado. Afinal o que é mais importante para a nossa vida nacional, o que é que tem mais repercussões na nossa Europa e no Mundo de que dependemos em tempo de globalização ou de alterglobalização?
Por outro lado, é muito preocupante que não sejamos esclarecidos sobre a importância das próximas eleições. O que são? Qual a sua finalidade? O que é a EU? Qual o interesse de Portugal pertencer à EU? Para que serve o Parlamento Europeu? Que influência tem o PE na vida dos Portugueses? Os únicos argumentos que nos saltam aos olhos é que é preciso mostrar o cartão amarelo ao Governo, portanto, um problema doméstico que será resolvido cá dentro, mais tarde, nas legislativas, e não agora.
Com tanta falta de informação e estes falsos esclarecimentos, como é que os Portugueses podem exercer o seu dever e direito democrático como cidadãos da UE, votando para o PE? Certamente, desta situação sairá um resultado mais grave do que o preconizado por Saramago, isto é, não haverá votos em branco mas sim falta de votos, ou seja abstenção.
Por este caminho, não sei onde estará o nosso País daqui a dez anos, ou talvez mesmo daqui a metade desse prazo. É que, segundo as leis da dinâmica, a descida duma rampa é feita em movimento uniformemente acelerado.
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