(Publicada no Público em 26 de Dezembro de 2004)
Vão longe os tempos da minha juventude em que não passava pela cabeça do mais ousado referir-se a um governante de forma irreverente ou pouco cortês, pois eram considerados pessoas de saber, de bom senso e de educação superiores à média do cidadão comum.
As gerações passam e as características das sociedades vão-se alterando. Mas há alterações que são inconcebíveis para a generalidade das pessoas e que se traduzem no crescente descrédito dos políticos e no enorme abstencionismo nos actos eleitorais. É inacreditável que o secretário de Estado, com poder de coordenação sobre os Bombeiros e a Protecção Civil, tenha dito publicamente de forma clara e incontroversa que tem vergonha desses serviços. É incrível! Mesmo que esses serviços não funcionassem a cem por cento, são pilares credíveis para a maioria dos cidadãos. São os agentes a quem se apela numa emergência, com a certeza de ser atendido, a qualquer hora do dia ou da noite. Infelizmente, não haverá muitas instituições em que o povo deposite tanta confiança como nestas. Quererá esse político, com sinais de insanidade e com ausência de bom senso e de maturidade, retirar esse arrimo à população trabalhadora? E, como mais alto responsável, pela eficiência destes serviços, que medidas concretas e claras tomou para os tornar mais eficientes na prestação do apoio às populações?
Felizmente, o ministro não demorou nem hesitou em colocar os pontos nos ii e a procurar serenar os espíritos dos cidadãos que, eventualmente, ainda confiassem na palavra de um secretário de Estado, pudessem ter ficado sobressaltados.
Porém, errar é humano e, por isso, uma atitude inconsciente de um jovem sem experiência da vida poderá ser desculpável. Mas os políticos portugueses têm-nos brindado com outras imaturidades semelhantes. Recorde-se que das mesmas instalações governamentais saiu, há alguns meses atrás, a ideia peregrina de que havia que aumentar o rigor na renovação das cartas de condução dos idosos, por estes serem causadores de infracções por condução em contra-mão. Ora, os factos têm demonstrado à saciedade que essas infracções rodoviárias e todas as outras têm sido maioritariamente subscritas por jovens sob o efeito de álcool, de droga ou da perigosa apetência para comportamentos de risco inaceitável.
Também são mais ou menos do mesmo grupo etário as altas entidades que inventaram a cabala involuntária, a central de informação e comunicações, a pressão inconsciente sobre o Presidente da República, a tentação de arremessar pela janela uma cassete de vídeo, etc.
No momento em que chegam notícias de instituições estrangeiras credíveis e imparciais que colocam o nosso país em má posição, quanto à eficiência escolar e quanto à capacidade de desenvolvimento, há razões para termos vergonha não do SNBPC, mas de quem o ataca, e, de uma forma geral, para descrer do bom senso, da eficiência e da competência dos políticos e da sua capacidade para elevar Portugal até ao nível médio europeu. Convém notar que, nestas funções, o bom senso é qualidade mais essencial do que a inteligência.
Temos que pensar, serenamente, com bom senso, por forma a podermos concluir quem tem razões para ter vergonha de quem.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
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