quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Acolhimento de idosos, 041220

Acolhimento de idosos
(Publicada no Público, em 20 de Dezembro de 2004)

Depois de vários anos de professor em regime de voluntariado em «universidades» e «academias» para a terceira idade, tenho muito respeito pelas pessoas que, após muitos anos de trabalho, constituem um repositório extremamente importante de experiência e de sabedoria. A sociedade actual não está vocacionada para aproveitar as capacidades dos reformados, e as famílias também não os aproveitam como fonte de saber para a educação dos netos e como conselheiros para a resolução de muitas questões em que os antecedentes devem ser levados em consideração.

Retirados das suas profissões e desaproveitados pelas famílias, são muitas vezes entregues à solidão da qual nem sempre têm coragem e incentivos para sair. Muitos ainda têm a sorte de os familiares os instalarem em lares ou outras instituições de acolhimento, onde, aliás, nem sempre encontram um ambiente psicologicamente saudável.

Para fazer face às dificuldades no acolhimento de idosos, Armando Leandro, presidente do CID anunciou para breve a publicação do «Manual de Boas Práticas – guia para acolhimento residencial de pessoas idosas». Trata-se de um gesto, que só pela intenção já merece os maiores elogios. Certamente, irá contribuir para melhorar as condições de vida nos últimos anos de existência de muitas pessoas. Será desejável que, nessa obra, seja aconselhada a elaboração de «listas de tarefas» para cada empregado de lares e instituições afins, em que conste cada tarefa devidamente pormenorizada. Antes do início do exercício da actividade, cada empregado à laia de formação profissional, deve ser esclarecido das suas tarefas e da forma como as deve realizar. Cada um deve seguir obedientemente a sua lista de tarefas, sem inovar ou aligeirar, por sua iniciativa. Quando achar que as coisas devem ser feitas de outra maneira, deve apresentar a sugestão ao seu chefe, para que tal seja apreciado e, se aprovado, ser incluída numa nova versão da lista.

Por outro lado, os empregados deixarão de ser avaliados pela cor dos olhos ou outros critérios subjectivos e passarão a sê-lo pela forma como cumprem ou deixam de cumprir as suas tarefas. Estas servem de referência para eventual responsabilização em processos disciplinares ou outros e para eventuais recompensas. Desta forma, por exemplo, ou não teria acontecido o incêndio que vitimou o advogado Palma Carlos num lar em Birre-Cascais, ou facilitaria a atribuição de responsabilidades pelo incidente.

Os chefes, além de verificarem o cumprimento das tarefas e a eventual necessidade de as actualizar, devem coordenar todas as actividades e esclarecer os empregados para um atendimento e tratamento melhor e mais humano dos idosos.

Estes considerandos são aplicáveis a qualquer tipo de empresa ou instituição independentemente do sector de actividade e assentam no princípio de que na sociedade não é necessário que todos sejam licenciados ou especialistas altamente qualificados. Esses são utilizados em funções de topo e de decisão, podendo os agentes de nível mais operacional ter menos escolaridade e ser apenas preparados para efectuarem a lista de tarefas correspondente aos respectivos postos de trabalho, as quais devem ser cumpridas com rigor e disciplina. Esta filosofia, já utilizada em países que estão a ser modelos de produtividade e de competitividade, deve começar a ser seguida em todos os sectores, já o sendo nos meios militares e em empresas bem implantadas no mercado, de forma mais ou menos explícita.

Um bom esquema de disciplina e profissionalismo permitirá mais dignidade nos últimos anos de vida dos idosos, que eles merecem e a que têm direito.

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