quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ser vítima não dá vantagem

(Publicada no Público em 2 de Janeiro de 2005)

Na sociedade moderna, a vítima é vista como o leão moribundo da fábula (que sofria as patadas de todos os animais mais fracos que antes o temiam). Ninguém a protege e até parece haver prazer sádico em a pisarem. Ela sofre os efeitos do crime ou do acidente; se quiser defender-se em tribunal tem o ónus da prova, sem ter tido condições psíquicas ou físicas para obter e guardar os elementos necessários.

Pelo contrário, o criminoso ou o causador do acidente teve os benefícios imediatos do acto cometido; se for chamado a tribunal, beneficia da benevolência do juiz em qualquer dúvida (na dúvida, pró réu); se for condenado é logo apaparicado por variadas organizações auto-proclamadas defensoras dos direitos humanos (as quais se esquecem dos direito humanos das vítimas); depois, podem beneficiar de redução de pena, de indultos e de amnistias. A «defesa dos direitos dos criminosos está mais generalizada do que é desejável. Repare-se na forma activa como algumas organizações já estão a reclamar da forma como Saddam Hussein irá ser julgado, em contraste com as ténues e tímidas vozes que se levantaram a denunciar as violências que ele praticou contra xiitas e curdos e até contra os próprios familiares em que se contam os assassinatos dos dois genros.

Perante a pouca caridade com que são encaradas as vítimas, sugiro ao Dr. Santana Lopes e aos seus colaboradores partidários que mude de táctica e deixe de se apresentar como vítima de tudo e de todos. Deixe de se considerar um prematuro maltratado pela família, deixe de falar das facadas nas costas, etc. Ser vítima nada beneficia. E se diz que os mais próximos, os próprios companheiros, o apunhalam e maltratam, não vai com esses argumentos granjear simpatias em possíveis simpatizantes mais afastados.

É estranho que, com tantos assessores especialistas nos mais diversos sectores, ninguém o tenha orientado para uma estratégia mais positiva e vencedora, que inspire nos eleitores confiança num futuro melhor, mostrando-lhes as grandes linhas para o desenvolvimento do País e para aumento do bem-estar da população.

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