quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vem aí a revolução da energia. 040608

(Publicada em A Capital de 08/06/2004)

Já no fim da década de 70 do século passado, se encontravam, em publicações sérias, estudos bem estruturados e fundamentados que anunciavam estar próximo o fim da era do petróleo, por esgotamento das reservas. Alguns analistas mais optimistas afirmavam haver ainda muito petróleo por explorar mas em fracas condições de qualidade e de concentração que apenas tornavam rentável a exploração se os preços subissem a ponto de cobrir os seus custos.

Passadas cerca de três décadas, o problema agravou-se dando razão àqueles que pareciam pessimistas. O acordar da China para um surto rápido de desenvolvimento e a evolução das actividades dos países mais industrializados vão exercer uma pressão consumista de petróleo cada vez mais crescente, até à gota final. As perspectivas são de molde a poder dizer-se que estamos no limiar de uma revolução da energia. E a reacção mais racional é de preparar o futuro com soluções alternativas. Um bom exemplo vem-nos do Qatar que, na perspectiva de a maior fonte de receita do país se esgotar, está a orientar a actividade económica para sectores mais prometedores como as novas tecnologias em tudo o que se aplica às indústrias e aos serviços de amanhã.

Tenho recebido e-mails a sugerir boicotes às gasolineiras com vista a obter a redução de preços dos combustíveis. É uma atitude inteligente que demonstra a consciência dos consumidores de que devem organizar-se para se defenderem das ambições dos fornecedores. Porém, os preços só baixarão na medida em que as gasolineiras puderem reduzir os seus lucros. Na realidade, o que definirá os preços será, essencialmente, a dinâmica do mercado entre a procura e a oferta e esta não poderá ser aumentada de forma exagerada para não pôr em risco o futuro da actividade económica, com o esgotamento demasiado rápido das reservas de crude.

Melhor do que o bloqueio às gasolineiras seria a adopção de medidas tendentes a reduzir o consumo, alterando hábitos. Por exemplo, em vez de usar o automóvel individual deveria usar-se, na medida do possível, o transporte colectivo, que nos leva, por vezes, de forma mais rápida sem stress, sem a permanente concentração que o carro exige.

É que, se o desenvolvimento de energias alternativas, renováveis, ainda demora uns anos e tem de ser da iniciativa dos líderes da macro-economia, a poupança, por outro lado, é do interesse imediato do consumidor e está já ao seu alcance. Numa viagem de comboio de Sintra ou de Cascais para Lisboa, demora-se menos tempo, chegamos descansados e, no percurso, podemos ler o jornal ou conversar ou pôr em dia as comunicações telefónicas. Conheço muita gente que optou pelo comboio, utilizando o carro apenas em caso de necessidade ou quando várias pessoas da família têm de percorrer o mesmo percurso.

Sendo o homem um ser inteligente, deve vislumbrar as mudanças que estão no horizonte previsível e iniciar, calma e progressivamente, a fase das alterações convenientes do estilo de vida.
Julgo que não estou a ser lunático. Já dou preferência aos transportes públicos.

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